Sara Oliveira é repórter especial de Cidades do jornal O Povo há 10 anos, com mais de 15 anos de experiência na editoria de Cotidiano/Cidades nos cargos de repórter e editora. Pós-graduada em assessoria de comunicação, estudante de Pedagogia e interessadíssima em temas relacionados a políticas públicas. Uma mulher de 40 anos que teve a experiência de viver em Londres por dois anos, se tornou mãe do Léo (8) e do Cadu (5), e segue apaixonada por praia e pelas descobertas da vida materna e feminina em meio à tanta desigualdade.
"Ela está namorando. Ainda bem, está transando", disse um colega sobre a ex-esposa. Há sempre alguém que acha saber mais sobre as vontades e desejos de uma mulher do que ela própria
“Ela está namorando agora. Ainda bem que está transando”. A frase foi de um homem de pouco mais de 30 anos, falando da sua ex-mulher, mãe de sua filha, que há mais de dois anos após a separação, começou a namorar. O tom, dentro do contexto da conversa, foi bem claro: mulheres que têm relações sexuais seriam mais “calmas”. Pior: será se ele pensa que mulheres solteiras, divorciadas ou viúvas não fazem sexo?
Existe uma cultura de que, quando o assunto é sexo, a mulher não faz muitas escolhas. Parece sempre que ela está no submundo do anônimo, do não pode, da difamação, da vergonha, da passividade. E também na condição dependente entre relações carnais e suas posturas diante dos desafios cotidianos da vida, como o de mãe em um sistema de guarda compartilhada.
É muito frequente que as mulheres sejam colocadas em cenários e contextos sexuais de uma forma em que ela não é a protagonista da história. Há sempre alguém que acha ter o direito de saber mais do que ela própria sobre suas vontades e desejos. É social, vem de uma cultura que ainda ensina que existe “mulheres para sexo e mulheres para casamento”. Já ouvi, inclusive, uma mulher falar de outra, também condicionando o bom humor no trabalho ao fato de ela estar ou não em um relacionamento.
Há também sempre uma certa cobrança para que estejamos em par, ancoradas, representadas, acompanhadas. Não é fácil ser uma mulher sem relacionamento. Não é fácil ser uma ex-mulher, mãe, sem relacionamento. Exige coragem pra vida prática, mas também para os olhares suspeitos e julgadores. Seja entre as mães da escola, seja numa conversa despretensiosa com um colega sobre separação e filhos dentro de um uber.
No fim, fiquei com o trecho de uma música da maravilhosa Ivete Sangalo que compartilhei com alguns amigos da redação na última semana. Acho que enviarei para o colega, pode ser que ele dance!
“Solteira não, alegre Se tem birita a gente bebe Tô com as amigas, só as gostosas As experientes e perigosas Vira tequila de uma vez Não sabe nem o que é ex PHD na arte de ferver”
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