Sara Oliveira é repórter especial de Cidades do jornal O Povo há 10 anos, com mais de 15 anos de experiência na editoria de Cotidiano/Cidades nos cargos de repórter e editora. Pós-graduada em assessoria de comunicação, estudante de Pedagogia e interessadíssima em temas relacionados a políticas públicas. Uma mulher de 40 anos que teve a experiência de viver em Londres por dois anos, se tornou mãe do Léo (8) e do Cadu (5), e segue apaixonada por praia e pelas descobertas da vida materna e feminina em meio à tanta desigualdade.
Num País em que, por hora, nascem 44 bebês de mães adolescentes, me causa temor que uma unidade de saúde não possa colocar um DIU em uma mulher adulta - e cliente - por ser uma instituição "confessional católica (que) tem como diretriz não realizar procedimentos contraceptivos, em homens ou mulheres”.
A paciente a receber a notícia foi a comunicadora Leonor Macedo, 41, que expôs a situação em uma rede social. Assim como eu e tantas outras pessoas, ela contou que ficou “em choque”. Após o caso viralizar, o Hospital São Camilo em São Paulo entrou em contato com Leonor e, segundo ela, se justificou e afirmou que não era uma questão de gênero, já que os procedimentos contraceptivos não são realizados em homens e nem em mulheres, salvo em casos graves de saúde.
Entrevistei a médica e na sequência saí da sala e fui conversar com uma adolescente que engravidou, segundo ela, porque o sobrinho de quem ela cuidava foi embora e ela queria cuidar de outra criança. Na consulta, ela estava acompanhada da mãe, que também engravidou na adolescência. A irmã que levou a criança embora, também. Os filhos cresceriam sem pai presente, de acordo com elas.
Estar em um País que vive essa realidade e se deparar com a impossibilidade de - mesmo que numa seara do serviço privado - de que mulheres, adultas, se prevenirem contra a gravidez por um motivo que não precisa interessar a nenhuma delas é assustador. Prevenir uma gravidez é exercer o direito à saúde, a escolher as construções familiares, a planejar como será um futuro mais igual e menos devastador. Não é sobre a fé que cada um pode - se quiser e acreditar - ter.
A advogada Lenir Santos respondeu algumas perguntas sobre o assunto. Ela é doutora em saúde coletiva, fundadora e presidente do Instituto de Direito Sanitário Aplicado (Idisa) e professora da Universidade de Campinas (Unicamp).
- Entre as várias questões que envolvem o caso, o que mais se destaca? Inconstitucionalidade, direitos humanos e liberdade profissional da medicina?
Lenir Santos - A saúde é um direito fundamental das pessoas que precisa ser atendido sob pena de omissão do serviço de saúde, seja público ou privado. Caso um ato médico possa ferir crenças do profissional é obrigação do serviço requerer que outro profissional o faça.
-Como o planejamento familiar está inserido no direito à saúde?
Lenir Santos - Um hospital não pode ter diretrizes religiosas que possam ferir o direito à saúde de seus usuários. O planejamento familiar é um direito da família, conforme dispõe a Constituição ser livre a decisão do casal, sendo vedada qualquer forma coercitiva das instituições públicas ou privadas quanto a esse direito.
-A religião pode superar o direito sanitário brasileiro?
Lenir Santos - A melhor frase é dê a Deus o que é de Deus e a César o que é de César. No Brasil o Estado é laico e as instituições educacionais, sanitárias, científicas etc não podem impor crenças religiosas a ninguém nem impedir o exercício do direito à saúde.
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