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Entre a palavra de um homem e a de uma mulher
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Sara Oliveira é repórter especial de Cidades do O Povo há 10 anos, com mais de 15 anos de experiência na editoria de Cotidiano/Cidades nos cargos de repórter e editora. Pós-graduada em assessoria de comunicação, estudante de Pedagogia e interessadíssima em temas relacionados a políticas públicas. Uma mulher de 40 anos que teve a experiência de viver em Londres por dois anos, se tornou mãe do Léo (8) e do Cadu (5), e segue apaixonada por praia e pelas descobertas da vida materna e feminina em meio à tanta desigualdade

Sara Oliveira comportamento

Entre a palavra de um homem e a de uma mulher

O debate não é apenas sobre o resultado do julgamento, um jogador famoso e um País alucinado por futebol e seus personagens. É sobre o valor que a palavra da mulher tem atualmente e sobre a necessidade de evoluir legalmente acerca do representa o consentimento
Tipo Opinião
Violência contra a mulher passa também por um processo de desacreditar na fala (Foto: ilustração Isac Bernardo)
Foto: ilustração Isac Bernardo Violência contra a mulher passa também por um processo de desacreditar na fala

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“Em quem acreditarão, em mim ou em uma mulher?”, diz o personagem em uma sátira sobre violência sexual. A pergunta já presume uma resposta que, em pleno 2025, ainda é realidade. O jogador Daniel Alves teve a condenação por estupro anulada após uma nova decisão da Justiça espanhola apontar que houve “falta de confiabilidade ao depoimento da autora”, no caso, a vítima.

Uma mulher acusou o ex-lateral de tê-la estuprado dentro do banheiro de uma boate. Como não havia testemunhas ou câmeras no local, era a palavra dela contra a dele. E após 13 meses da sentença inicial e muitos recursos, a Justiça concluiu que inconsistências sobre os fatos mereciam a anulação da condenação.

A acusação afirmou que vai recorrer, mas que antes verá se a vítima consegue passar por mais um embate judicial. É frustrante alguém que foi estuprado e teve isso divulgado no mundo inteiro ter seu depoimento questionado após o algoz já ter sido condenado.

Claro, com inúmeras diferenciações, as notícias sobre o caso me fizeram lembrar dos tantos áudios  divulgados referentes a um outro caso envolvendo estupro e jogadores de futebol.

Nos áudios, o grupo formado por Robinho e seus amigos, após cometerem estupro coletivo em uma boate de Milão, afirmavam entre si que seria a palavra deles contra a dela.

Mesmo após o início do processo, sem saber que estavam tendo suas conversas gravadas, eles afirmavam com absoluta veemência que jamais acreditariam no relato de uma mulher que estava em uma boate, bêbada, com vários homens.

Os áudios são misóginos num nível que embrulha o estômago, desperta inúmeros gatilhos e deixa claro como homens realmente se acham superiores a mulheres. Deixa claro que eles contam com uma sociedade que os escutará e acolherá, em detrimento a uma mulher.

Se este homem for rico e poderoso, há ainda mais o descrédito frente ao que diz uma mulher não rica e não poderosa.

O debate não é apenas sobre o resultado do julgamento, um jogador famoso e um País alucinado por futebol e seus personagens. É sobre o valor que a palavra da mulher tem atualmente e sobre a necessidade de evoluir legalmente acerca do representa o consentimento.

Mais de 70% dos crimes sexuais contra crianças e mulheres acontecem dentro de espaços privados. Familiares e conhecidos são maioria dos criminosos. A certeza da impunidade - e da não credibilidade das mulheres - incentiva o cometimento dos abusos. E ajuda a calar vítimas e subnotificar números já pandêmicos.

 

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