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O machismo estrutural dos candidatos no Ceará
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Sara Oliveira é repórter especial de Cidades do jornal O Povo há 10 anos, com mais de 15 anos de experiência na editoria de Cotidiano/Cidades nos cargos de repórter e editora. Pós-graduada em assessoria de comunicação, estudante de Pedagogia e interessadíssima em temas relacionados a políticas públicas. Uma mulher de 40 anos que teve a experiência de viver em Londres por dois anos, se tornou mãe do Léo (8) e do Cadu (5), e segue apaixonada por praia e pelas descobertas da vida materna e feminina em meio à tanta desigualdade.

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O machismo estrutural dos candidatos no Ceará

Basta ouvir/ver/ler um pouco as campanhas de alguns candidatos para perceber que o discurso sobre igualdade de gênero ainda está longe de ser real
CAPA - ELEICOES 2024-07  (Foto: Adobestock)
Foto: Adobestock CAPA - ELEICOES 2024-07

As Eleições 2024 estão a todo vapor. Propostas, entrevistas, sabatinas, planos de governo, diferentes temas sendo discutidos. Neste pleito, alguns dispositivos tentam diminuir os casos de violência política de gênero, entidades orientam candidatas sobre o enfrentamento de desafios, leis tentam garantir mais representatividade nas câmaras municipais e prefeituras. Porém, basta ouvir/ver/ler um pouco as campanhas de alguns candidatos para perceber que o discurso sobre igualdade de gênero ainda está longe de ser real.

Não há uma mudança de pensamento ou conscientização sobre a importância de desconstruir discursos que insistem em manter as disparidades e, principalmente, o desrespeito à mulher. No cenário fortalezense, em que todos os candidatos ao Paço Municipal são homens, temos, no máximo, planos de governo que destacam Saúde, Violência Doméstica e Empreendedorismo.

Temas importantes, sem dúvida, mas também mais fáceis de anunciar através de intenções, números e ampliações. O Hospital da Mulher até hoje quica entre propostas dos mais diversos partidos, todas centradas em garantir que a unidade cumpra seu papel. Direitos reprodutivos, com destaque à ginecologia e obstetrícia, também tomam espaço entre propostas. “Mulheres empreendedoras” é um termo muito encontrado nos debates eleitorais e planos de propostas.

Apesar da aparente preocupação com uma maior equidade e valorização às demandas femininas, é nas ações, na forma de falar, nos comícios, e até no jeito de cumprimentar que conseguimos ter a exata noção do quão despreparados ainda são os pretendentes a cargo de vereador ou chefe do Executivo de algum município brasileiro.

Não esquecerei a entrevista em que um prefeito, quando questionado sobre ataques misóginos contra uma vice-governadora, pareceu não entender nenhuma das minhas palavras. Desconversou, fugiu do tema e ficou por isso.

No Conjunto Ceará, em Fortaleza, durante um comício, parecia comum - apesar de vergonhoso - que meninas jovens estivessem de saia curta e meias no estilo “estudante” em cima de um mini trio elétrico. Ao fundo, o jingle da campanha de um candidato a vereador e homens olhando obsessivamente para as mulheres. A estratégia, de acordo com cabos eleitorais, é que homens sejam atraídos para o comitê.

Na Região Metropolitana de Fortaleza (RMF) teve candidato que, ao reforçar a importância do contraturno escolar para acolher jovens e distanciá-los da violência, destacou que “o menino vai se sentir atraído, de ir lá ver a menina bonita”. O comentário foi acompanhado de uma virada de olhos desta jornalista, e de um sorriso dissimulado por parte do entrevistado. O mesmo, ao se despedir, não se contentou com um aperto de mão e forçou um abraço com uma mulher que ele nunca viu na vida.

No Interior, houve deputado federal que chegou a dizer, em ato público de apoio a uma candidatura local, que uma gestora havia “rodado bolsinha” com vários deputados do município. Esse parlamentar foi visto, semanas depois, furando uma fila composta por mulheres que aguardavam para tirar foto com Maria da Penha.

Mais absurdo ainda foi ver um candidato denunciando outro candidato que dizia, em um vídeo antigo, que “a cada dez minutos, no Brasil, um homem é assassinado e, nem por isso, a gente pensa em criar o “masculinicídio”. 

Todos os especialistas que tratam o tema da violência de gênero ressaltam que índices e realidades só serão alterados quando houver uma mudança de pensamento e de comportamento, essencialmente dos homens. Infelizmente, basta  

 

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