Sara Oliveira é repórter especial de Cidades do O POVO há 10 anos, com mais de 15 anos de experiência na editoria de Cotidiano/Cidades nos cargos de repórter e editora. Pós-graduada em assessoria de comunicação, estudante de Pedagogia e interessadíssima em temas relacionados a políticas públicas. Uma mulher de 40 anos que teve a experiência de viver em Londres por dois anos, se tornou mãe do Léo (8) e do Cadu (5), e segue apaixonada por praia e pelas descobertas da vida materna e feminina em meio à tanta desigualdade
Para 15% das mulheres que menstruam, os sintomas são incapacitantes. PL prevê dois dias de licença remunerada para esse público. Menstruar sempre foi tabu e a saúde da mulher merece mais prioridade
Foto: Pexels/Karola G
Menstruação ainda é tabu
“Eu quero menstruar”. A frase pareceu impossível para a médica que me atendia, após ela oferecer somente métodos contraceptivos hormonais que poderiam me fazer parar de menstruar. Eu sou maioria entre as mulheres que não sentem manifestações graves durante o ciclo menstrual. Porém, para cerca de 15% desse público, menstruar é sinônimo de incapacidade.
O Projeto de Lei (PL) aprovado pela Câmara dos Deputados na semana passada propõe dois dias consecutivos de licença remunerada para mulheres que sofrem com sintomas graves relacionados ao fluxo menstrual. Texto precisa ainda ser aprovado no Senado e sancionado pela Presidência. Nele, consta que será necessário apresentar laudo médico que comprove os “sintomas debilitantes”.
Dor, vergonha, inchaço, incômodo, muito sangue, mal-estar, insegurança, dor, médico, exame, dor. Desde que a vida reprodutiva da mulher começa, se entende que cada corpo é um e menstruar significa muito mais do que um sangramento causado pela descamação do útero quando não há fecundação. Dói.
O texto do PL explica que “15% das mulheres sofrem, durante o período menstrual, com dores intensas na região abdominal inferior – cólicas severas que, com frequência, inviabilizam a normalidade da rotina laboral. Para um número significativo dessas trabalhadoras, a intensidade dos sintomas torna incompatível a permanência no exercício de suas atribuições profissionais durante tais episódios”.
Lembro da minha menarca, nome dado à primeira menstruação. Lembro exatamente onde estava e como foi importante que a amiga da minha irmã viesse me tranquilizar sobre o que estava acontecendo.
Menstruar sempre foi tabu. Quantas mulheres não têm receio em sair com seu absorvente na mão para ir ao banheiro fazer a substituição? Quantas mulheres realmente foram avisadas sobre cólicas intensas, problemas ginecológicos e corrimentos vaginais? Sobre como lidar com os sintomas… sobre como esse é um processo completamente natural e normal. Quantas ouviram: não precisa ter vergonha!
Poucas. A falta de informação e de políticas em prol da saúde da mulher e às demandas do seu corpo reprodutivo e sexual fez com que muitas sofressem durante anos sem conseguir diagnósticos de doenças relacionadas ao ciclo menstrual.
“Eu passava o dia inteiro chorando de dor”. Esse é o relato de uma mulher diagnosticada com endometriose. Na verdade, em minhas conversas sobre menstruação, essa foi uma frase ouvida diversas vezes.
Ela conseguiu ter o diagnóstico antes dos 30 anos, faz uso de contraceptivo para não menstruar e monitora seus sintomas. Mas lembro de uma querida amiga jornalista que só teve certeza da endometriose depois de décadas à procura da causa de tanta dor e da infertilidade.
A prioridade ao que é da mulher não acontece, a luta por direitos reprodutivos é árdua, antiga e cada conquista foi a custo de muito sofrimento. Há barreiras ao acesso a serviços de saúde que considerem suas especificidades biológicas, sociais e psicológicas. Situação ainda pior para mulheres negras, indígenas, com deficiência, LGBTQIA+ e moradoras de áreas rurais ou periféricas.
Saúde da mulher, liberdade de escolha e licença menstrual não são pautas apenas femininas, mas temas que precisam ser centrais em uma sociedade que valorize igualdade de gênero, justiça social e respeito à vida.
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