Historiador, pesquisador, escritor, editor do O POVO.Doc e ex-editor de Opinião do O POVO
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Há uma máxima popular no Brasil que coloca futebol, política e religião como assuntos que não devem ser discutidos porque são impossíveis de haver consenso. Tais temas despertam paixões, e como toda paixão o emocional sobrepõe o racional, infelizmente. Definitivamente, devemos repensar nossos conceitos e respeitos em favor do diálogo.
Historicamente, a política e parte dos seus atores procuram se aproximar e buscar alianças com o futebol, considerado “paixão nacional” mobiliza a atenção de todas as classes sociais sendo o trampolim de carreiras e visibilidade por ser um esporte de multidões e, consequentemente, paixões. Vamos aqui destacar da História o acontecimento-simbólico do envolvimento da política com o futebol: a Copa do Mundo de 1970.
A melhor seleção brasileira de todas
“As feras do Saldanha” como ficaram conhecidos os selecionados tinha como base os jogadores do Santos/SP, Botafogo/RJ e Cruzeiro/MG, completando o time com a mescla de outros excepcionais jogadores. Além da classificação para a Copa do México, o time encantou os amantes do bom futebol e vislumbrava-se a conquista do título mundial no ano seguinte.
Saldanha, também conhecido como “João sem-medo”, era militante do Partido Comunista Brasileiro (PCB). De 1964 a 1985 o Brasil viveu sob uma ditadura militar e tudo relacionado a comunismo ou posições democráticas era perseguido pelos militares no poder. Com a classificação ao mundial assegurada, movimentos da CBD (Confederação Brasileira de Desportos), que tinha proximidade com o governo militar, culminaram com a demissão de João Saldanha da seleção 78 dias antes da estreia no mundial.
Dentre as alegações da demissão noticiou-se que João Saldanha não possuía conhecimentos para conduzir os treinos, era contestado por parte da equipe técnica, treinadores e imprensa, também alegaram que por ser jornalista privilegiava com informações às empresas que havia trabalhado. Mas, o que ficou na História como o motivo real da sua dispensa foi a discordância com o então presidente da República Emílio Garrastazu Médici.
Médici era apaixonado por futebol, fazia lobby que o atacante Dario, conhecido como Dadá Maravilha, deveria fazer parte da seleção, com personalidade, via imprensa, Saldanha responde ao presidente: “Nem eu escalo ministério e nem o presidente escala time". Duas semanas depois seria demitido.
Mário Zagallo assumiu a seleção, mantendo a essência do time de João Saldanha e acrescentando entre os convocados da Copa Dadá Maravilha, obviamente.
A participação brasileira na Copa, repleta de militares na delegação, e sua extraordinária conquista no México foi fartamente usada pelo governo militar como plataforma política no País. O ufanismo estimulado pelo sucesso no futebol foi uma estratégia de transferir a paixão do brasileiro para um governo imposto, ilegítimo e o mais repressivo dentre os governos militares.
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