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Sobre rugas, dores e fortaleza
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Tânia Alves é formada em jornalismo pela Universidade Federal do Ceará (UFC). Começou no O PCeará e Política. Foi ombudsman do ornal por três mandatos (2015, 2016 e 2017). Atualmente, é coordenadora de Jornalismo..

Sobre rugas, dores e fortaleza

Na pandemia, estamos ficando mais velhos rapidamente. As marcas que ficam por dentro são mais doloridas. Haveremos, porém, um dia de reconhecer a nossa fortaleza de hoje
Tipo Crônica
Melancolia é uma das marcas que ficam por dentro da gente (Foto: JL Rosa)
Foto: JL Rosa Melancolia é uma das marcas que ficam por dentro da gente

Tenho me olhado no espelho e vejo uma pessoa diferente após quase dois anos de pandemia. É como se a velhice tivesse chegado antes da hora. O rosto ficou mais redondo, os cabelos mais curtos. Muitos fios despencaram pelo ralo do banheiro até eu pensar que iria ficar careca. A pele se encontra um pouco mais enrugada. Às vezes aparecem espinhas. Estranho demais. As mãos estão geralmente com as unhas sem esmalte. E venho vestindo sempre as mesmas roupas.
Olho no espelho e fico me perguntando se vou voltar a ser o que era um ano e meio atrás. Mas isso não faz sentido. Jamais serei o que fui ontem. Após essa mudança drástica no mundo provocado por um vírus, as marcas pregam na gente. Elas serão muitas no corpo e na alma. Carregamos conosco o cansaço do tempo que ficamos dentro de casa, levamos as dores de descobrir o feio em pessoas que a gente achava bonita e a saudade de muitos que se foram. Isso é bem aflitivo e angustiante.
Essa mancha que fica por dentro - da saudade, da tristeza, da melancolia, do estresse, da falta de abraço, de andar livremente pelas ruas - é muito dolorida. Ela é maior do que descobrir que ficamos mais velhos em pouco espaço de tempo. A nós, porém, não é permitido desistir, porque nós conduzimos também a energia de parentes e amigos que nos fortaleceram nesse período; carregamos o amor que brotou na solidariedade em meio à fome, e os muitos gestos bonitos que correram o mundo. Por isso, penso que quando o Carnaval chegar, a gente há de reaprender a falar desse tempo de pandemia com bom humor. Haveremos até de contar sobre ele com reverência e gratidão pelas rugas que apareceram. Num futuro próximo, vamos revelar e agradecer a nossa fortaleza de hoje.

Foto do Tânia Alves

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