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Agora, é com a gente
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Tânia Alves é formada em jornalismo pela Universidade Federal do Ceará (UFC). Começou no O PCeará e Política. Foi ombudsman do ornal por três mandatos (2015, 2016 e 2017). Atualmente, é coordenadora de Jornalismo..

Agora, é com a gente

A geração que viu a guerra, se admirou pelo aparecimento da televisão e testemunhou a criação do celular está indo embora. Ela nos deixa um mundo mais civilizado, mas ainda em ebulição, e passa o bastão como a dizer: agora é com vocês
Homem caminha com bandeira branca na Guerra da Ucrânia (Foto: ARIS MESSINIS / AFP)
Foto: ARIS MESSINIS / AFP Homem caminha com bandeira branca na Guerra da Ucrânia

Tenho notado por estes últimos meses, nas redes sociais, a despedida de muitas mães e pais. É uma geração inteira que está indo como se fosse uma combinação entre eles para se encontrar no além, embora muitos por aqui sequer tenham se juntado uma vez na vida. Muitos foram levados pela Covid-19, outros estão indo no contexto pandêmico sem que seja pela contaminação do vírus. Gosto de imaginar que tinham um objetivo comum nas mais diversas realidades que viveram. Ao nascer, encontraram um mundo muito diferente daqueles que estão deixando.

Muitos deles vieram antes da II Guerra, e sentiram tudo que ela traz de medo e horror. Os que moravam em lugarejos afastados se escondiam dentro da camarinha escura e rezavam nervosamente para Nossa Senhora quando um avião cruzava o céu. O som do voo, que raramente acontecia por aquele lugar, sempre representava o receio da volta do terror simbolizado pelas imagens de pessoas esquálidas que elas viam nas capas de revistas .

Esses seres que agora estão nos deixando tiveram a grandeza de ensinar o acolhimento. As mulheres sabiam receber como ninguém as pessoas em suas casas; davam o colo de avó para os netos, montavam mesas regadas a boas comidas e muitos abraços repletos de risadas e carinho. Aos homens cabia comandar, e, aos poucos, tiveram que acatar um novo viver com as mulheres; e este aprendizado não foi pouco, embora ainda exista um longo caminho pela frente.

Souberam transmitir a fé que receberam, trabalhando por um mundo menos ruim ao modo deles: ajudando a quem precisa e oferecendo um prato de comida para muitos que nada tinham em casa. Sabiam conviver e tirar, com muito esforço, o que a natureza podia dar; a duras penas, aprenderam que um dia ela podia escassear.

Os pais, mães e avós que agora estão se despedindo deste mundo trilharam caminhos entre tempos morosos de comunicação por carta escrita a mão e o imediatismo do celular por vídeo-chamada. Receberam a televisão com espanto, aceitaram muito bem as mudanças nas cozinhas com os aparelhos domésticos. E tiveram abertura suficiente para se conectar com o mundo.

Esses homens e mulheres estão nos deixando um mundo menos árido e um pouco mais civilizado, ainda em ebulição e que teima em voltar à barbárie do passado em guerras sem sentido que eles imaginavam esquecidas nos livros de história. Difícil é descobrir que nossos queridos, aos poucos, estão passando o bastão e quem sabe pensando: fiquem por aí. Agora, é a vez de vocês.

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