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O amigo que luta para atravessar a correnteza
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Tânia Alves é formada em jornalismo pela Universidade Federal do Ceará (UFC). Começou no O PCeará e Política. Foi ombudsman do ornal por três mandatos (2015, 2016 e 2017). Atualmente, é coordenadora de Jornalismo..

O amigo que luta para atravessar a correnteza

Sonhei com o amigo que tenta atravessar um rio cheio de correntezas. Acordei pensando naquele menino travesso e de sorriso que chega aos olhos
Maré alta na Praia de Iracema em Fortaleza (Foto: Fco Fontenele)
Foto: Fco Fontenele Maré alta na Praia de Iracema em Fortaleza

Sonhei com um amigo de infância. Ele estava tentando atravessar um rio cheio de correntezas, preso em um corpo quase sem movimento, mas mantinha o sorriso que o caracteriza desde a infância. Foi ele que um dia chegou e elogiou aquilo que eu mais achava esquisito em meu corpo durante a adolescência. Desde então, guardo as palavras dele como se fossem um troféu sempre a me lembrar que tudo tem dois lados, uma coisa pode ser bonita e sem graça ao mesmo tempo.

Agora que meu amigo precisa atravessar a correnteza, queria ter também palavras bonitas para dizer. Deitar em seu colo, consolar a dor dele e ter o poder de aliviar, por um segundo, sua luta contras as águas. Queria dizer para ele ser forte, aceitar, confiar e agradecer, mas as palavras viriam sem convicção e soariam ridículas. No sonho, mesmo com dificuldades, ele abre um sorriso, como só ele tem. Do jeito dele, tenta me afagar e consolar quem deveria consolá-lo.

Diz que há tempos deixou de buscar sentido no ter de vencer a maré alta e tentar passar pelo rio da melhor forma possível. Narra que continua a criar palavras difíceis em versos incompreensíveis que a especialista já vaticinou como criatividade, mesmo que sejam confusos para os sem sentimentos. Já tentou de tudo para se ver livre daquela travessia, nada deu o resultado desejado, mas ele continua.

Pergunta por minha mãe, que se foi há cinco meses e disse que, agora, nessa parte da vida, ainda sente saudade das pessoas, mas medo não faz mais parte do seu mundo. Porém, conta que luta todo dia para se manter otimista e sem peitar e xingar o universo. Confidencia que nem mesmo aquele rio caudaloso foi capaz de tirar dele os pequenos prazeres.

Como agora no período do Carnaval. É um alívio quando abre as mensagens dos amigos e elas vêm repletas de sons de marchinhas. Relembra, com um sorriso perfeito, que tinha fôlego suficiente para passar quatro dias soprando um saxofone para distribuir diversão. Isso ele carrega para sempre.

Não sei o que os sonhos dizem sobre a realidade, mas acordei pensando naquele menino que não vejo há tempos. Queria, na minha pequenez de gente, ter o mínimo de sabedoria para conseguir fazer um carinho, dar um beijo na testa, para ver de novo, por um segundo que seja, o sorriso grandão que também chega aos olhos.

 

Foto do Tânia Alves

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