
Tânia Alves é formada em jornalismo pela Universidade Federal do Ceará (UFC). Começou no O PCeará e Política. Foi ombudsman do ornal por três mandatos (2015, 2016 e 2017). Atualmente, é coordenadora de Jornalismo..
Tânia Alves é formada em jornalismo pela Universidade Federal do Ceará (UFC). Começou no O PCeará e Política. Foi ombudsman do ornal por três mandatos (2015, 2016 e 2017). Atualmente, é coordenadora de Jornalismo..
Entre abismada e de olhos arregalados ouvia meu professor de História contando sobre como funcionava o voto de cabresto quando os coronéis mandavam no Brasil, no Nordeste, no Ceará e também na minha cidade. Não havia escolha para os pobres na hora da votação, que sobreviviam do seu trabalho na roça e moravam “de favor'' nas terras do patrão. A indicação do candidato era do dono da terra, geralmente o chefe político da região, que também tinha direito a uma de três carreiras das plantações do pequeno terreno que cultivavam durante o inverno.
No dia da eleição, os trabalhadores iam votar na cidade a pé e logo depois de colocar o papel na urna rumavam para a casa bonita do patrão, para comer um prato de arroz, pirão e carne do boi, um agrado àqueles que estavam sob as “bênção” do fazendeiro. Faziam isso numa usina de panelões que juntava um vai-e-vem de gente do alpendre ao quintal da casa.
Aquelas palavras ditas no meio da aula, me levavam para um mundo que eu definia como injusto, pois tolhia a escolha livre do voto. Achava eu que aquele era um tempo antigo, que não voltaria, pois fruto da proximidade de um Pais que havia saído do regime de escravidão há pouco tempo.
Mas eis que agora, nas Eleições, 2022, este mundo do voto de cabresto teimou em voltar, quando donos de empresas reúnem empregados, fazem discursos com ameaças de demissão, caso seus funcionários não votem no candidato que eles estão apoiando. Fazem isso com desenvoltura, sem medo de serem punidos.
Pressionam, pois sabem que emprego, com carteira assinada, está difícil e tem uma fila de pessoas do lado de fora esperando por uma chance de trabalho. Usam a fragilidade para a pressão e trazem de volta a vontade de serem como os senhores donos de terras que mandavam e interferiram na vida política como se só eles fossem donos do poder público.
Mas no meio deste embate, neste 2022, existem aqueles que carregam o espírito da democracia e se portam a partir dela. É o lado bom da força. Pessoas que não se furtam, enfrentam o medo e denunciam a irregularidade. Abraçam essa mesma energia as autoridades que, também corajosos, tomam a decisão legal certa para o momento.
Nessa luta entre um lado e outro, me deparo com momentos de euforia e tristeza sobre o nosso futuro. Porém os sinais vêm quando menos se espera. Neste domingo, ao tirar da gaveta o título para votar, encontro um papel dobrado escrito para mim com a letra de minha mãe. É uma oração que começa assim: “A noite já passou e acordei com alegria…” É assim que deve ser, "mesmo que uns não queiram".
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