Logo O POVO+
Bill Gates: apenas três profissões vão resistir à IA; veja quais são
Foto de Vladimir Nunan
clique para exibir bio do colunista

Vladimir Nunan é CEO da Eduvem, uma startup premiada com mais de 20 reconhecimentos nacionais e internacionais. Fora do mundo corporativo, é um apaixonado por esportes e desafios, dedicando-se ao triatlo e à busca contínua pela superação. Nesta coluna, escreve sobre tecnologia e suas diversidades

Vladimir Nunan tecnologia

Bill Gates: apenas três profissões vão resistir à IA; veja quais são

A abundância de conhecimento automatizado, segundo Gates, mudará para sempre a forma como aprendemos, trabalhamos e interagimos com especialistas
Bill Gates, cofundador da Microsoft  (Foto: MANDEL NGAN/AFP )
Foto: MANDEL NGAN/AFP Bill Gates, cofundador da Microsoft

Em sua entrevista com Jimmy Fallon no The Tonight Show (NBC) em março de 2025, Bill Gates fez uma projeção direta e provocativa sobre o futuro do trabalho. Segundo ele, nos próximos cinco a dez anos, a maioria das atividades baseadas em conhecimento será impactada por sistemas de inteligência artificial (IA), ao ponto de termos acesso àquilo que chamou de "inteligência gratuita".

Isso inclui, por exemplo, tutoriais personalizados, conselhos médicos básicos, apoio educacional e uma variedade de serviços antes disponíveis apenas por meio da expertise humana. A abundância de conhecimento automatizado, segundo Gates, mudará para sempre a forma como aprendemos, trabalhamos e interagimos com especialistas.

O que significa inteligência gratuita

Quando Gates fala em inteligência gratuita, ele se refere ao acesso facilitado e amplamente disseminado a informações e soluções baseadas em inteligência artificial que antes exigiam o envolvimento direto de um especialista humano.

Com a popularização de assistentes de IA cada vez mais potentes, como os chatbots generativos, tutores inteligentes e sistemas de suporte à decisão, tarefas que dependiam de conhecimento técnico específico passarão a estar disponíveis de forma imediata e sem custo adicional.

Isso inclui desde responder perguntas complexas, auxiliar em diagnósticos, sugerir códigos de programação, criar conteúdos personalizados e até acompanhar a rotina de estudos de uma pessoa.

Para Gates, essa transformação tem o potencial de democratizar o acesso ao conhecimento e à inteligência prática, funcionando como uma espécie de “educação e consultoria sob demanda” ao alcance de todos, em tempo real.

Essa inteligência se torna gratuita não porque é desprovida de valor, mas porque seu acesso passa a ser praticamente ilimitado, com custo marginal próximo de zero.

As três profissões que resistirão

Mesmo com esse avanço avassalador, ele deixou claro que existem áreas em que a IA ainda não será capaz de substituir os seres humanos. Codificadores, especialistas em energia e biólogos estão entre as profissões que, de acordo com Gates, devem permanecer não apenas relevantes, mas centrais para o desenvolvimento da sociedade, da ciência e da tecnologia nas próximas décadas.

Codificadores como os arquitetos da IA

Ao falar sobre codificadores, Gates esclareceu que, embora a IA esteja avançando rapidamente na geração automática de código, os programadores humanos continuarão sendo os verdadeiros arquitetos da tecnologia.

Criar, testar, supervisionar e melhorar algoritmos exige uma criatividade adaptativa e uma capacidade de resolver problemas em contextos inéditos que a IA ainda não possui.

Além disso, o próprio funcionamento das ferramentas de IA depende de profissionais altamente capacitados que saibam construir sistemas seguros, éticos e eficientes.

Mesmo quando um modelo é capaz de sugerir ou corrigir trechos de código, a decisão final, o senso de responsabilidade e o pensamento estratégico continuam sendo atributos humanos fundamentais.

O futuro do desenvolvimento de software envolverá a colaboração próxima entre humanos e máquinas, em que a IA agiliza tarefas repetitivas, enquanto o ser humano direciona, valida e dá sentido ao código.

A complexidade humana na gestão da energia

Na área de energia, a justificativa para a permanência do fator humano é igualmente sólida. Gates destacou que a gestão energética é um dos maiores desafios técnicos, econômicos e geopolíticos do nosso tempo.

Ela envolve não apenas a manutenção de redes elétricas complexas, mas também o planejamento estratégico de fontes renováveis, a articulação entre governos e empresas, a regulação de riscos ambientais e a resposta a crises como apagões ou acidentes.

Esses cenários são altamente dinâmicos, e mesmo que a IA possa auxiliar na análise de dados e na previsão de demanda, ainda será necessário o julgamento humano para lidar com situações imprevistas e para tomar decisões que impactam diretamente milhões de vidas.

O profissional de energia do futuro precisará, mais do que nunca, combinar conhecimento técnico com responsabilidade ética, visão sistêmica e sensibilidade política. A transição energética global depende de decisões que não são apenas tecnológicas, mas sociais e ambientais, com impactos a longo prazo que exigem liderança humana comprometida.

Biólogos e a fronteira da ciência da vida

No campo da biologia, Gates vê uma resistência à automação que parte da própria natureza da ciência da vida.

Mesmo que a IA já esteja sendo utilizada para acelerar pesquisas genéticas, mapear doenças ou sugerir tratamentos, ela ainda depende de seres humanos para interpretar, validar e transformar dados em descobertas com impacto real. A ciência da vida não é apenas um conjunto de fórmulas ou estatísticas.

Ela exige formulação de hipóteses originais, experimentação controlada, decisões com forte carga ética e uma capacidade de enxergar conexões inesperadas entre diferentes fenômenos. Biólogos, bioquímicos, geneticistas e cientistas da saúde continuarão essenciais porque operam na fronteira entre conhecimento, vida e humanidade.

São eles que levantam as perguntas certas e que decidem como e onde a IA pode ser aplicada com responsabilidade. A biologia moderna, especialmente em campos como edição genética, biotecnologia e neurociência, exige uma compreensão profunda da complexidade do corpo humano e do meio ambiente, algo que vai além da análise estatística.

O que essas profissões têm em comum

Essas três áreas, portanto, têm algo em comum. Elas dependem do que se pode chamar de julgamento contextual, ou seja, a capacidade de tomar decisões não apenas com base em dados, mas considerando valores, consequências, cenários múltiplos e aspectos imprevisíveis.

Criatividade, ética, sensibilidade e adaptabilidade são competências que, até o momento, nenhuma IA foi capaz de replicar com precisão. E é por isso que essas profissões se destacam como âncoras humanas em um futuro dominado por máquinas. Elas representam o elo entre o potencial da inteligência artificial e a responsabilidade social que deve guiar seu uso.

IA como aliada e não substituta

Durante a entrevista, Gates também apontou que, apesar da euforia em torno da inteligência artificial, ela ainda carece de consciência moral, de senso de propósito e de responsabilidade social. Ele acredita que a IA será uma poderosa aliada, mas não um substituto.

Ela funcionará como um copiloto em muitas atividades, oferecendo sugestões e otimizando tarefas, mas quem define a rota, ajusta a direção e assume o controle nos momentos críticos continuará sendo o ser humano. Essa visão reforça a ideia de que a tecnologia deve estar a serviço da humanidade e não o contrário.

Profissionais que aprenderem a usar a IA como ferramenta estratégica sairão na frente, pois conseguirão concentrar seu tempo e energia naquilo que mais importa: criar valor real e impactar positivamente o mundo.

A importância das competências humanas

Essa visão é coerente com o histórico de Gates como um defensor da tecnologia aliada ao progresso humano. Ao longo de sua trajetória, ele sempre insistiu que o avanço técnico deve caminhar lado a lado com o avanço ético e social.

A tecnologia, por mais revolucionária que seja, não é um fim em si mesma. É uma ferramenta. E quem decide como usá-la, por quê e para quê, continua sendo o ser humano.

É interessante observar que, ao destacar essas três profissões, Gates também está fazendo uma defesa das chamadas competências exclusivamente humanas.

Ele está dizendo que o futuro pertence a quem souber combinar conhecimento técnico com empatia, criatividade com responsabilidade, lógica com emoção. E isso vale não apenas para codificadores, especialistas em energia e biólogos.

Vale também para professores, cuidadores, psicólogos, artistas, jornalistas, líderes comunitários, profissionais da saúde e todos aqueles que trabalham em atividades que exigem presença, escuta, improviso e sensibilidade. As habilidades humanas serão o novo diferencial competitivo em um mundo onde a eficiência será cada vez mais automatizada.

O convite à reinvenção

Dessa forma, a fala de Gates pode ser vista como um alerta, mas também como um convite. Um alerta para que todos os profissionais repensem seu papel no mundo automatizado que está surgindo. E um convite para que desenvolvam aquilo que os torna verdadeiramente únicos. Não basta mais saber operar uma ferramenta. É preciso saber perguntar, julgar, criar, inspirar. Em vez de competir com a IA, é hora de colaborar com ela, usando-a para amplificar nossas capacidades, não para substituí-las. A reinvenção profissional passa por cultivar o pensamento crítico, a ética, a capacidade de aprender continuamente e de se adaptar a contextos em rápida transformação.
Conclusão: o diferencial continuará sendo humano
O futuro do trabalho, segundo Gates, será um espaço onde o valor do ser humano não diminuirá, mas aumentará. Não por força da resistência, mas pela relevância. Aqueles que souberem oferecer aquilo que nenhuma máquina consegue entregar, como presença, ética, intuição, empatia e criatividade verdadeira, serão os líderes, mentores, cientistas e construtores desse novo mundo. Um mundo onde a inteligência será abundante, mas o discernimento continuará sendo raro e precioso. E talvez seja exatamente esse discernimento que nos definirá enquanto espécie e sociedade nas próximas décadas. O futuro pertencerá àqueles que, além de dominar ferramentas digitais, compreendem profundamente o que significa ser humano em um mundo hiperconectado e automatizado.

Foto do Vladimir Nunan

Ôpa! Tenho mais informações pra você. Acesse minha página e clique no sino para receber notificações.

O que você achou desse conteúdo?