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Como pequenas empreendedoras alavancam negócios com inteligência artificial
Reportagem Especial

Como pequenas empreendedoras alavancam negócios com inteligência artificial

A tecnologia transformou o modo de consumir e, com isso, o modo de vender. A inteligência artificial se tornou aliada de pequenos negócios que aprendem a navegar no digital sem perder a essência. Nesta reportagem, você conhece histórias reais e reflexões sobre como empreendedores estão reinventando o presente para não ficarem fora do futuro

Como pequenas empreendedoras alavancam negócios com inteligência artificial

A tecnologia transformou o modo de consumir e, com isso, o modo de vender. A inteligência artificial se tornou aliada de pequenos negócios que aprendem a navegar no digital sem perder a essência. Nesta reportagem, você conhece histórias reais e reflexões sobre como empreendedores estão reinventando o presente para não ficarem fora do futuro
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A vitrine agora é também uma tela. A propaganda, um vídeo curto no celular. O “passa lá no meu ponto” virou um link no Instagram. Em meio a tantas mudanças, uma pergunta ecoa: como sobreviver e crescer sendo pequeno em um mundo cada vez mais automatizado e veloz?

Entender as conexões entre empreendedorismo, tecnologia e humanidade talvez seja um dos caminhos mais “certos” em meio a tantas transformações, na batalha daqueles que empreendem com propósito e relevância.

ParaTodosVerem: Foto de um celular exibindo uma conversa com o ChatGPT(Foto: Fernanda Barros / O POVO)
Foto: Fernanda Barros / O POVO ParaTodosVerem: Foto de um celular exibindo uma conversa com o ChatGPT

Do ponto de vista prático, os dados apontam um cenário em mutação. Ferramentas de inteligência artificial, antes restritas a grandes empresas, hoje ajudam microempreendedores a gerenciar melhor seu tempo, atrair clientes e profissionalizar suas operações. Mas essa revolução não acontece em silêncio.

Ela pulsa nas feiras, nos bastidores das lojas físicas e virtuais, nos stories de quem faz tudo com o celular na mão e o coração no negócio.

Essa passou a ser uma realidade de muitos empreendedores que buscam se manter atualizados em um mercado hiperconectado, como os lojistas do Centro Fashion, em Fortaleza. O local, que registra uma circulação média de 400 mil pessoas por mês, tem 78% de suas lojas geridas por mulheres empreendedoras.

O POVO+ conversou com três delas que já incorporaram a inteligência artificial em seu dia a dia, marcado por muito trabalho, dedicação e constante atualização frente às novas tendências tecnológicas. Elas demonstram como a IA, aliada a uma forte presença digital e a um foco no relacionamento humano, tem sido fundamental para o impulsionamento de seus negócios.

Ferramentas como ChatGPT, Canva com IA, CapCut e plataformas de anúncios são exemplos de recursos acessíveis e intuitivos que podem ser implementados por pequenos empresários que estão começando na jornada do empreendedorismo do zero.

Essas soluções permitem, por exemplo, gerar com rapidez e baixo custo textos, legendas, imagens e vídeos personalizados para captar e reter clientes.

ParaTodosVerem: Imagem mostra Andrea Lima, empreendedora dona da marca Mascherina, no Centro Fashion, em Fortaleza(Foto: Fernanda Barros / O POVO)
Foto: Fernanda Barros / O POVO ParaTodosVerem: Imagem mostra Andrea Lima, empreendedora dona da marca Mascherina, no Centro Fashion, em Fortaleza

Tanto especialistas, como lojistas, no entanto, são enfáticos ao afirmar que a “chave do sucesso” não está em delegar tudo aos algoritmos. É preciso encontrar equilíbrio entre a automação e a sensibilidade humana; entre a lógica das máquinas e o instinto que guia os negócios.

Mais do que alimentar planilhas e perseguir métricas, é essencial manter o olhar atento às pessoas e usar as tecnologias a favor do propósito, e não em sua substituição, para garantir relevância e conexão em um mercado em constante transformação.

 

 

 

IA como pilar para a sobrevivência e crescimento dos pequenos negócios

O uso de ferramentas de inteligência artificial deixou de ser apenas um diferencial competitivo para se tornar essencial à sobrevivência e ao crescimento de micro e pequenos negócios no Brasil.

Essa transformação é especialmente perceptível em centros comerciais como o Centro Fashion, em Fortaleza, onde cerca de 78% dos mais de 4 mil pontos de venda são liderados por mulheres que vêm incorporando a tecnologia para inovar, crescer e se conectar de forma mais eficaz com os clientes.

Imagem mostra o economista Ricardo Coimbra, professor da Universidade de Fortaleza(Foto: Fernanda Barros / O POVO)
Foto: Fernanda Barros / O POVO ParaTodosVerem: Economista Ricardo Coimbra sorri para foto.

Mesmo com equipes enxutas e orçamentos limitados, essas empreendedoras têm recorrido à IA para otimizar processos, economizar tempo e ampliar o alcance de suas marcas. O economista Ricardo Coimbra destaca que a inteligência artificial pode “facilitar o entendimento do comportamento do consumidor, indicando o que produzir e comercializar”, além de contribuir para a gestão e o desenvolvimento de estratégias mais assertivas.

Para ele, o acesso a essas ferramentas tem o potencial de reduzir desigualdades e fortalecer o empreendedorismo. Mestre em Economia pela Universidade Federal do Ceará (UFC) e professor da Universidade de Fortaleza (Unifor), Ricardo ressalta que a IA pode impulsionar a criação de novas ações e atividades, gerando impactos positivos na relação entre marca e consumidor.

Consultor de negócios do Sebrae-CE, Robson Rangel resume que a digitalização deixou de ser uma vantagem competitiva, como vista antigamente.

Segundo ele, essa passou a ser uma condição básica para a sobrevivência e o crescimento dos pequenos negócios. “Estar presente nas redes sociais, utilizar canais digitais de venda e adotar ferramentas de inteligência artificial são ações que ampliam o alcance, reduzem custos e melhoram a experiência do cliente”, aponta.

“É possível resistir por um tempo sem digitalizar, mas, no cenário atual, isso limita fortemente o potencial de crescimento e coloca o negócio em desvantagem frente aos concorrentes mais conectados”, completa. Diante desse cenário, empreendedoras enxergam nas novas tecnologias aliadas estratégicas a serem utilizadas de forma criativa.

À frente da KM77, marca voltada para o público plus size, Kalyne Moura viu suas vendas aumentarem em 300% durante a pandemia ao apostar nas redes sociais, como Instagram e TikTok, onde saltou de 2 mil para 15 mil seguidores.

Hoje, ela considera a IA uma verdadeira “amiga” e “sócia” em seu negócio, utilizando diferentes ferramentas tanto para identificar novas tendências e demandas de suas clientes, quanto para criar coleções e planejar conteúdos em vídeo. Sugestões do que vestir, como se comunicar e até mesmo como redigir respostas personalizadas têm transformado interações negativas em experiências positivas para a marca.

“Quando alguma cliente me pergunta alguma coisa, eu não respondo mais como a Kalyne de um ano atrás responderia. Uma vez, uma cliente questionou dizendo que tínhamos produzido uma blusa menor do que a outra. E isso não era possível, porque todo o processo é industrial. Então, fui buscar uma resposta com a inteligência artificial. A resposta ficou tão linda, tão boa, que a cliente entendeu perfeitamente a situação”, relata.

ParaTodosVerem: Kalyne Moura em seu box no Centro Fashion enquanto realiza atendimento via smartphone(Foto: Fernanda Barros / O POVO)
Foto: Fernanda Barros / O POVO ParaTodosVerem: Kalyne Moura em seu box no Centro Fashion enquanto realiza atendimento via smartphone

Apesar do uso frequente da tecnologia, Kalyne faz questão de manter o toque pessoal no relacionamento com o público. “Vou adaptando as respostas, colocando meu jeito. Dá para perceber que sou eu ali, tem o meu dedinho, porque sou que estou dentro do processo, não é só um computador ou alguém respondendo por mim”, continua.

Quem também recorre à inteligência artificial é Andrea Lima, criadora da Mascherina. A marca, que teve início com a venda de máscaras durante a pandemia, rapidamente atraiu 5 mil seguidores no Instagram, um de seus principais canais de venda. Ao migrar para a moda feminina, porém, ela percebeu de vez a importância de integrar o digital ao físico, mantendo-se sempre atenta às novidades.

Ela conta que já virou noites estudando para acompanhar o que fazia sucesso nas redes, mas não apenas pelas tendências que precisava acompanhar. Era preciso ter domínio técnico para entender quais ferramentas deveria utilizar e como.

ParaTodosVerem: Andrea Lima arruma o estoque em seu box, Mascherina, no Centro Fashion(Foto: FERNANDA BARROS)
Foto: FERNANDA BARROS ParaTodosVerem: Andrea Lima organiza o estoque em seu box, Mascherina, no Centro Fashion

Foi assim que descobriu aplicativos como o ChatGPT e CapCut, que passaram a ajudá-la na criação de roteiros e descrições para postagens, ajustando a linguagem de acordo com a identidade da marca. A inclusão de legendas automáticas em vídeos para torná-los mais acessíveis e o auxílio para pensar estratégias de comunicação também foram recursos incorporados por Andrea no processo de digitalização.

Já Deysi Silva é responsável pela Dinoo Kids, loja especializada em roupas infantis masculinas com o propósito de “criar momentos felizes” para as famílias.

Ex-agente de turismo, ela mudou para o setor da moda e hoje utiliza a inteligência artificial em diversas frentes da empresa. Mesmo com essas facilidades digitais, faz questão de manter uma equipe interna dedicada ao marketing.

ParaTodosVerem: Deysi Silva à frente de sua loja Dinoo Kids, no Centro Fashion(Foto: Arquivo pessoal)
Foto: Arquivo pessoal ParaTodosVerem: Deysi Silva à frente de sua loja Dinoo Kids, no Centro Fashion

Segundo Deysi, o uso da IA começou recentemente e já resultou na implementação de sistemas de  CRM "Sigla inglês para Gestão de Relacionamento com o Cliente, é um conjunto de práticas, estratégias e tecnologias que as empresas utilizam para gerenciar e otimizar a interação com seus cliente" para monitorar atendimentos e aprimorar o desempenho da equipe comercial. As ferramentas também têm sido utilizadas para auxiliar na criação de estampas e na otimização da produção, e futuramente deverão ser aplicadas na animação dos mascotes da marca.

O tópico mais sensível e fator de uma dúvida compartilhada por todas as empreendedoras é sobre a automação do atendimento, sobretudo via WhatsApp.

Com receio de perderem a identidade da marca e o vínculo com suas clientes diante da frieza das mensagens automáticas, elas ainda preferem manter o contato individualizado, chamando pelo nome e valorizando o calor humano.

“A venda é o fechamento do atendimento, é o final. Existe todo um processo de acolher e entender as necessidades dos clientes. Às vezes, o cliente nem vai efetuar a compra naquele momento, talvez porque não era prioridade, o valor estava fora do orçamento ou porque simplesmente não encontrou o que queria. Mas pode ter certeza de que, se a pessoa for bem acolhida, ela vai voltar e vai te indicar para outras”, reflete Deysi sobre o processo de atendimento, tanto virtual quanto presencial.

Para conhecer cada uma das histórias dessas empreendedoras, basta clicar nas fotos abaixo.

 

 

Da dor à costura: como Andrea Lima transformou desafios em autoestima e moda inclusiva

 

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Foto: Fernanda Barros / O POVO


 

 

De cicatrizes à costura: a trajetória de Kalyne Moura, uma empresária que transformou dor em moda com propósito

 

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Foto: Fernanda Barros / O POVO


 

 

Deisy silva transforma a venda de roupas infantis em missão de acolhimento e propósito familiar

 

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Foto: Arquivo pessoal


 

 

IA como aliada estratégica no dia a dia do pequeno empreendedor

Com soluções acessíveis, práticas e baratas, a inteligência artificial consegue atender micro e pequenos empresários nos mais diversos setores. O economista Ricardo Coimbra destaca seu impacto, especialmente no varejo popular, ao afirmar que a IA “ajuda a entender o comportamento do consumidor e a direcionar melhor a produção e a comercialização”.

Para ele, a tecnologia também contribui para a gestão e para o desenvolvimento de estratégias de relacionamento com o cliente. Segundo ele, um dos benefícios e aplicações pode ser na análise de dados de vendas e comportamento dos clientes. “A IA pode identificar falhas em processos de gestão, produção e comercialização”, explica Coimbra.

Ele continua afirmando que, como consequência, “aqueles que utilizarem de forma correta e efetiva, poderão ter um um crescimento no mercado, lucratividade e uma melhoria de desempenho no setor de atuação”.

ParaTodosVerem: Imagem de uma vendedora utilizando ChatGPT(Foto: Fernanda Barros / O POVO)
Foto: Fernanda Barros / O POVO ParaTodosVerem: Imagem de uma vendedora utilizando ChatGPT

Um dos principais desafios da adoção da IA, porém, está em equilibrar automação e atendimento humanizado, conforme as próprias empreendedoras do Centro Fashion relatam.

Para o especialista de negócios do Sebrae-CE Robson Rangel, o segredo é direcionar a automatização para demandas que de fato podem ser delegadas à uma máquina, e não para aquilo que é a alma do negócio.

"A chave é automatizar as demandas repetitivas e simples, mas manter o atendimento humano para situações mais complexas e emocionais", afirma, sugerindo dicas para a adoção das IAs:

 

“A combinação ideal é agilidade da máquina mais a empatia do ser humano”, menciona.

Na mesma linha de raciocínio, Ricardo Coimbra reforça que o uso da inteligência artificial precisa estar alinhado com a identidade da marca e o perfil do público-alvo. “O empreendedor deve interagir com a IA e observar se a comunicação está sendo realmente compreendida pelo consumidor final”, destaca.

ParaTodosVerem: O analista de negócios do Sebrae/CE, Robson Rangel, durante uma palestra(Foto: Sebrae/CE)
Foto: Sebrae/CE ParaTodosVerem: O analista de negócios do Sebrae/CE, Robson Rangel, durante uma palestra

Para ele, é fundamental que a linguagem utilizada reflita os valores da empresa, os interesses do cliente e o posicionamento dos produtos, evitando uma abordagem genérica e robotizada.

“A inteligência artificial precisa ser usada de forma estratégica, respeitando as particularidades de cada negócio e buscando se aproximar dos desejos e comportamentos do consumidor. Não pode ser uma solução padronizada para todos, mas personalizada, refletindo o que realmente faz sentido para aquele cliente específico”, continua.

 

Ferramentas acessíveis para começar

Para quem está iniciando no uso da IA, há diversas ferramentas intuitivas, com planos gratuitos e tutoriais fáceis de seguir. Abaixo, confira algumas delas:

 

 

Pequenos negócios ainda precisam ter mais maturidade digital

As trajetórias de Andrea, Kalyne e Deisy, apresentadas na reportagem, são expressões de um movimento crescente entre pequenos negócios brasileiros, em especial aqueles liderados por mulheres, que buscam se modernizar, aumentar sua competitividade e garantir espaço no mercado. Essas histórias, porém, refletem uma realidade ainda mais ampla de que a digitalização já não é um diferencial, mas uma necessidade para a sobrevivência e o crescimento dos empreendimentos de pequeno porte.

Nesse contexto, a pesquisa sobre a Maturidade Digital dos Pequenos Negócios, disponível na plataforma DataSebrae, revela dados importantes. Embora os avanços sejam notáveis em diversas frentes, o levantamento mostra que ainda há um longo caminho a percorrer. A metodologia da pesquisa avalia 20 dimensões ligadas ao grau de maturidade digital, incluindo a capacidade de engajamento com clientes, inovação, uso de dados, incorporação de tecnologias habilitadoras e geração de valor.

 

Indicador de Maturidade Digital (IMD) de pequenos negócios

 

Em uma escala de 0 a 80 pontos, a média nacional é de apenas 35 pontos, sendo que a maior parte das empresas se concentra entre 20 e 50 pontos. Em termos regionais, o Sul lidera com 36 pontos, seguido de Nordeste (35), Sudeste (34,5), Norte (34,3) e Centro-Oeste (34,3). Entre os estados com melhor desempenho estão Santa Catarina (38,4), Acre (37,2) e Pernambuco (36,7). Já Pará (32,5), Mato Grosso (32,6) e Amapá (32,9) ocupam as últimas posições do ranking.

O Ceará, por sua vez, aparece apenas com 33,2 pontos, ficando também entre os estados com menor maturidade digital.

Essa lacuna é especialmente preocupante quando considerado o peso que os pequenos negócios têm na economia brasileira: eles representam 26,5% do PIB nacional e mais de 50% dos empregos formais no País. Para Ricardo Cappelli, presidente da Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI), os dados mostram que é urgente acelerar a digitalização.

ParaTodosVerem: Ricardo Cappelli durante uma palestra(Foto: Fabio Rodrigues-Pozzebom/ Agência Brasil)
Foto: Fabio Rodrigues-Pozzebom/ Agência Brasil ParaTodosVerem: Ricardo Cappelli durante uma palestra

“Diante dos resultados da pesquisa, fica claro que é preciso apoiar a transformação digital dessas empresas, a fim de assegurar a sua inserção nessa nova realidade econômica”, afirma.

Realizado pela ABDI e pela Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), o estudo revela, deste modo, que inúmeros desafios precisam ser enfrentados e superados a fim de manter os negócios competitivos e longevos.

Marco Bedê, coordenador da pesquisa Maturidade Digital pelo Sebrae aponta que “os pequenos negócios avançaram bastante”, a partir do momento em que o acesso à internet de alta velocidade sobretudo após a pandemia de Covid-19.

“Porém, estas empresas ainda avançaram pouco no quesito cultural ‘Inovar mais rápido e colaborativamente’, já que poucas contam com a colaboração dos empregados e com parcerias com outras instituições, na criação de novos produtos e serviços, o que é essencial para empresas digitais do futuro”.

 

Serviços de apoio à transformação digital para pequenos negócios

 

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