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Qual xingamento mais comum em jogos online? Mulheres revelam assédio e perseguição
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Wanderson Trindade é repórter do O POVO+ e player1 do UP Gamer+, programa de entrevistas durante partidas de jogos eletrônicos. Por aqui, escreve um pouco de tudo sobre o universo gamer no Ceará, no Brasil e no mundo, além de trazer informações do cenário competitivo, com foco no FPS.

Qual xingamento mais comum em jogos online? Mulheres revelam assédio e perseguição

Em vídeo gravado por influenciadora cearense, enquanto homens relatam serem xingados por questões ligadas ao jogo, como a falta de técnica e habilidade; mulheres apontam para assédios sofridos dentro dos ambientes online simplesmente pelo fato de serem mulher
Enquanto homens relatam serem xingados por questões profundamente ligadas ao jogo, como a falta de técnica e habilidade; mulheres apontam para assédios sofridos dentro dos ambientes online simplesmente pelo fato de serem mulher (Foto: itsvermelha / Instagram / TikTok)
Foto: itsvermelha / Instagram / TikTok Enquanto homens relatam serem xingados por questões profundamente ligadas ao jogo, como a falta de técnica e habilidade; mulheres apontam para assédios sofridos dentro dos ambientes online simplesmente pelo fato de serem mulher

Em um cenário cada vez mais digitalizado e integrado pelos jogos online, a comunidade gamer ainda carrega problemas profundos de assédio e machismo. A influenciadora digital Renata Brito, conhecida como "Vermelha" (@itsvermelha), expôs essa realidade em um vídeo publicado em suas redes sociais. Sua produção mostra a discrepância nas ofensas que homens e mulheres sofrem durante partidas online, revelando que, enquanto os homens são insultados por sua performance, elas são frequentemente atacadas pelo simples fato de serem mulher.

Cearense, Vermelha mora atualmente em São Paulo, onde gravou um vídeo que viralizou. Durante uma feira de jogos eletrônicos na capital paulista, ela aborda diferentes participantes com as mesmas perguntas: “Você joga jogos online?” e “Qual é o xingamento mais comum que você recebe?”. Em pouco mais de um minuto, ela evidencia a discrepância entre as respostas dadas a depender do gênero de quem está respondendo.

Os homens que participam do vídeo mencionam que são chamados de “ruins”, “lixo”, “pinão” (que é aquele que erra tiros nos adversários) e “filho da put*”. Ou seja, xingamentos mais voltados para qualidades e contextos que se restringem ao jogo. No vídeo, as respostas dos homens vão se alternando com as das mulheres que, por sua vez, levam a discussão para outro viés.

“Pode falar palavrão?”, questiona uma menina que aparece no vídeo. Ela responde logo na sequência que o xingamento mais comum que recebe é ser chamada de “vadia”. Depois disso, Vermelha pergunta pergunta pela idade da jovem: 15 anos.

“As vezes o pessoal já quita (sai da partida), no Valorant principalmente. Quando o pessoal ouve sua voz já dizem que vão quitar ou mandam a gente lavar louça”, menciona outra entrevistada. “Nossa, o que eu mais escuto é vagabunda. É a coisa mais comum. É só abrir a call (comunicação por voz) que é assim que a gente é tratada”, responde uma terceira.

A última entrevistada do vídeo segue na mesma linha. “Eu já escutei tanta coisa pesada que acho que é difícil até da gente falar e repetir tais absurdos. Mas o que a gente mais escuta são homens mandando limpar a casa, questionamentos do tipo ‘o que mulher está fazendo dentro do jogo?’ e que ‘mulher não serve para isso’. Fora os xingamentos de baixo calão.”

O vídeo foi publicado nas redes de Vermelha. No TikTok a repercussão foi maior, com mais de 100 mil visualizações e inúmeras mulheres reagindo e compartilhando seus relatos de assédios sofridos dentro das partidas online.

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Assista ao vídeo de Renata Vermelha

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Vídeo já foi pensado em evidenciar a discrepância das respostas de homens e mulheres

Renata Vermelha conta que a ideia realmente era abordar tanto homens quanto mulheres que jogam em ambientes competitivos online. Segundo ela, nesses espaços comportamentos tóxicos emergem com mais frequência. “A ideia sempre foi pegar essas respostas igualmente entre homens e mulheres, mas não precisei direcionar em nenhum momento, nem explicar o objetivo do vídeo. Infelizmente, o que ouvi não foi nenhuma novidade para mim”, explica.

Mais conhecida nas redes sociais como Vermelha, Renata Brito é apresentadora e criadora de conteúdo gamer. Cearense, atualmente ela mora em São Paulo, onde gravou o vídeo que viralizou sobre assédio no ambiente de jogos online(Foto: Rey Alves / Sana)
Foto: Rey Alves / Sana Mais conhecida nas redes sociais como Vermelha, Renata Brito é apresentadora e criadora de conteúdo gamer. Cearense, atualmente ela mora em São Paulo, onde gravou o vídeo que viralizou sobre assédio no ambiente de jogos online

No vídeo, a diferença entre as respostas ficou clara. Homens eram chamados de "ruins" ou "filhos da puta" por causa de erros em jogo, enquanto as mulheres recebiam ofensas machistas, sendo chamadas de "vadias" ou "mandadas para lavar louça" assim que suas vozes revelavam seu gênero.

Vermelha ressalta que não foi necessário perguntar diretamente sobre o gênero dos participantes, pois as respostas já evidenciavam a diferença de tratamento. "Perguntei o 'xingamento mais frequente' de propósito. As pessoas precisam de exemplos como esse para entenderem o quão grande é a discrepância", completa.

Jogadora de games online online desde 2003, a influenciadora afirmo que já esperava essa distinção nas ofensas. “Desde que decidi trabalhar com games, procurei fazer força e movimento para que esses ambientes mudem, mas o comportamento ainda persiste, e muito”, diz.

Segundo ela, apesar de estarmos em 2024, a realidade continua sendo de violência de gênero nos jogos online, uma situação que, para Vermelha, precisa ser constantemente exposta e debatida. "As pessoas precisam ser conscientizadas de que estão falando com pessoas reais, com sentimentos, sonhos, lutas e família", acrescenta.

Ao abordar o machismo incorporado nos ambientes digitais, Vermelha destaca a importância de manter a discussão ativa. Para ela, ignorar ou relevar esses comportamentos é uma atitude perigosa, que só contribui para a perpetuação do problema.

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"Muita gente pensa que é exagero ou besteira se preocupar com isso. Mas como podemos ignorar algo tão grave? Enquanto esse tipo de comportamento acontecer, precisamos expor e debater, e só não vai ser mais necessário quando parar de acontecer" Renata Vermelha, influenciadora digital de games sobre assédio no ambiente online

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O feedback das mulheres que assistiram ao vídeo também evidencia uma realidade vivida por muitas outras jogadoras. Vermelha relembra a reação de uma mãe que participou do vídeo ao descobrir que sua filha de 15 anos também sofria com ofensas machistas durante partidas online. Para essa mãe, a dor era multiplicada ao saber que sua filha, em um espaço de diversão, era vítima de violência verbal.

“A primeira mulher que aparece no vídeo, a menina de 15 anos, é filha da última mulher do vídeo. Eu tenho certeza que ela, como mãe, sente essa dor dez vezes mais ao saber exatamente o tipo de coisa que a filha lê e escuta simplesmente por ser mulher”, comenta, apontando por outro lado que o impacto do vídeo não foi apenas negativo.

Nas redes sociais, especialmente no TikTok, diversas mulheres compartilharam suas próprias experiências de assédio e algumas decidiram se juntar como uma forma de minimizar os ataques. “Pelo menos do vídeo saiu algo bom. Várias meninas se conheceram nos comentários e combinaram de se adicionar e jogar juntas, para evitar esse tipo de comportamento”, finaliza.

 

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