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Jolson Ximenes, d'Os Transacionais, fala sobre volta da folia de Carnaval em 2023
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Jolson Ximenes, d'Os Transacionais, fala sobre volta da folia de Carnaval em 2023

Jolson Ximenes, vocalista e baixista da banda Os Transacionais, compartilha emoções e desafios do retorno ao Carnaval de Fortaleza em 2023
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Os Transacionais se apresentam no Bomtequim (Foto: FÁBIO LIMA)
Foto: FÁBIO LIMA Os Transacionais se apresentam no Bomtequim

"Sempre é bom quando aparece um Carnaval", canta Fagner em "Um Ano Mais", um dos clássicos do cancioneiro cearense do período. Três anos depois do último Ciclo Carnavalesco oficial, enfim, a folia é retomada de maneira plena e ampla em Fortaleza. Um dos símbolos da festa é a banda Os Transacionais, que contará com uma "agenda ampla e plural" como adianta Jolson Ximenes, vocalista e baixista do grupo. Em entrevista ao O POVO, o artista avalia o crescimento do Carnaval ao longo dos anos, desafios do período da pandemia e as emoções do retorno.

O POVO - Os Transacionais têm uma história que se liga ao percurso do Carnaval em Fortaleza. Como era o contexto no qual a banda começou a participar das festas do período?

Jolson Ximenes - A banda sempre teve um trabalho voltado pra música popular brasileira, foi formada em 2007. A partir de 2009, a gente fez a nossa primeira participação dentro do Carnaval de Fortaleza, mas com um repertório bem curto de nove, dez músicas específicas do Carnaval e completando o show com o repertório tradicional da banda. Só mesmo em 2012, com o lançamento do Chão da Praça, que era um bloco que a gente fez em parceria juntamente com o Dragão do Mar, é que a gente realmente se deteve em fazer um repertório específico para o Carnaval, pesquisando a obra do Fausto Nilo, Petrúcio Maia, a música popular brasileira, especificamente nordestina, colocando origem do axé music, frevos. A gente trata 2012 como um marco para a banda.

OP - Há cerca de 15 anos, o período carnavalesco na Capital começou a se fortalecer a partir de incentivos públicos e privados. Quais as principais mudanças você observa neste sentido?

Jolson - Há quinze anos, quando o Transacionais começou a se formar, a gente frequentava o Concentra Mas Não Sai, frequentava o Benfica com o Quem é de Bem Fica, esses blocos que começavam a ter uma força grande, blocos de baterias de Carnaval, a Cachorra como precursora. A grosso modo, o que digo que mudou radicalmente foi a questão da infraestrutura. Antes todo mundo fazia meio que no peito e na raça, começando ali a plantar uma semente, e aí cinco, seis, sete anos depois, os órgãos públicos, a Prefeitura, a iniciativa privada certamente entenderam o mote e o potencial da festa que é o Carnaval e começaram a chegar junto, a fazer parcerias. Isso principalmente na gestão da época da Luizianne Lins (prefeita de Fortaleza entre 2005 e 2012), que teve uma atenção mais direcionada para isso. Foi a primeira vez que eu vi os holofotes do poder público se voltarem para o fortalecimento e para o surgimento de um Carnaval alencarino, por assim dizer.

OP - Em relação a demandas ainda em aberto, faltas, o que você acha que poderia melhorar no Carnaval da Capital?

Jolson - Primeiramente o Carnaval e o pré-Carnaval de Fortaleza se tornarem uma política pública. Independentemente da gestão, de quem passe, entender que ele é uma realidade e que ele precisa ter força e ter fôlego para suportar e para crescer, para não se tornar uma coisa esporádica, não se tornar uma coisa de qualquer jeito. Já podemos sempre contar com isso na agenda da nossa Cidade para que ele realmente ganhe força. Eu acho que o principal é isso, é ele ser tratado como algo que realmente acontece, que vai se fortalecer e só vai crescer, independente de gestão.

OP - Os Transacionais destacam especialmente a música brasileira e cearense no repertório. Qual a importância de encarar o Carnaval como plataforma de valorização da cultura e das artes?

Jolson - A proposta da banda sempre foi a de tocar música retrô e popular brasileira na sua mais variada essência, independentemente de estilo, de movimento, de período ou recorte desses 40, 50 anos de música que a gente trabalha. O Carnaval tem uma força imensa, a gente sabe do poder que ele tem dentro da MPB. Você vê o trabalho que o Caetano Veloso faz direcionado para o Carnaval, que a Gal Costa fez, a força dos Novos Baianos, do Moraes Moreira, do Alceu Valença, do Gilberto Gil, todo mundo da música popular brasileira tem um diálogo com o Carnaval justamente por saber da importância que ele tem, por saber da visibilidade que o país direciona a essa festa. Para a gente, é sempre um marco, sempre um momento de extrema importância estar dentro do Carnaval e entender a valorização que a banda consegue nesse período, a movimentação de nossas redes sociais, os eventos públicos também tornam a coisa bem mais democrática, muita gente que não conhece a banda passa a conhecer nesse período. A gente já entende que o Carnaval, para a gente, é uma realidade atemporal, tanto que a gente toca frevo e coisas do nosso repertório de Carnaval o ano inteiro, porque a gente entende que a banda já ganhou essa cara também, essa identidade. Quando se fala em Transacionais o público já entende que vai ser um show animado, que vai ser um show pra cima, isso tudo graças à nossa inserção nos eventos carnavalescos.

OP - 2023 marca o retorno dos festejos oficiais de Carnaval após anos de cenário mais acentuado da pandemia. Quais foram os desafios de manutenção para a classe artística nesse período? Como vocês lidam com esse contexto?

Jolson - A maior dificuldade foi realmente poder trabalhar, conseguir trabalhar. Porque você num cenário de pandemia você se viu tendo um ofício, mas entendendo que aquele seu ofício para o mundo não existia. Quem trabalhava com entretenimento, eventos ao vivo, não podia de maneira alguma exercer a sua profissão. Todo mundo teve que buscar alternativas, aí nesse período a gente foi se virar fazendo lives, vídeos remotos, para poder alimentar as nossas plataformas e não perder esse contato que a gente tem com o nosso público. Mas, por exemplo, financeiramente foi um baque gigantesco, porque a gente, que é uma banda de palco, que tem uma agenda muito movimentada, muito intensa, cerca de 20 apresentações por mês, no mínimo, de repente vê isso reduzido a uma live por mês. O impacto é muito grande. As nossas contas permaneceram, mas a nossa renda caiu drasticamente, então o impacto foi grande porque isso mexe com o psicológico, mexe com a autoestima. Graças a Deus já estamos retomando.

OP - De forma mais simbólica, qual é a emoção de voltar a performar nesse período tão marcante para o grupo? Quais as expectativas e planejamentos para a folia de 2023?

Jolson - A gente fez a nossa reestreia no pré-carnaval de Fortaleza no domingo (15) lá no Raimundo dos Queijos. Para a gente foi muito importante e muito marcante esse contato de novo com o público, poder finalmente ver todo mundo ali junto, feliz, trocando energia positiva e saber que tudo isso também gira em torno do que a banda proporciona para essa galera, de levar alegria, verdade e entregar tudo que a gente acredita — música popular brasileira, a força d carnaval na cidade. Não só foi, está sendo: poder de repente de novo ver que vai ter uma agenda ampla, uma agenda plural, que a gente vai pulverizar os shows por vários locais, por vários perfis de público, entender que no nosso show vai ter de criança a idoso e todo mundo curtindo, se emocionando… É difícil conter as lágrimas, é difícil conter a emoção, mas é extremamente valoroso e importante poder sentir isso de novo. E que dessa vez a gente tenha voltado em definitivo e que a gente possa realmente fazer o que a gente mais ama, que é trabalhar com música, trabalhar com arte, trocar energia em um evento tão plural como o período carnavalesco.

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