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Prefeito de Uruburetama José Hilson se entrega, pede desculpas e diz que gravava vítimas por fetiche
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Prefeito de Uruburetama José Hilson se entrega, pede desculpas e diz que gravava vítimas por fetiche

Médico foi autuado por violência sexual mediante fraude e estupro de vulnerável, cinco dias após caso ganhar repercussão nacional
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Joseanna Oliveira, titular da delegacia de Cruz, durante a coletiva de imprensa ontem (Foto: Alex Gomes / ESPECIAL PARA O POVO)
Foto: Alex Gomes / ESPECIAL PARA O POVO Joseanna Oliveira, titular da delegacia de Cruz, durante a coletiva de imprensa ontem

Autuado por violência sexual mediante fraude e estupro de vulnerável, o médico e prefeito afastado de Uruburetama José Hilson de Paiva apresentou-se à Delegacia Geral da Polícia Civil na tarde desta sexta-feira, 19. Durante coletiva de imprensa, o secretário da Segurança Pública e Defesa Social, André Costa, não revelou o lugar onde ele permanecerá preso. Ainda ontem, O POVO apurou junto a fontes policiais que Hilson deve ficar em uma sala especial na Delegacia de Capturas (Decap), no Centro de Fortaleza.

Joseanna Oliveira, titular da delegacia municipal de Cruz (de onde partiu mandados de prisão preventiva e de busca e apreensão), detalhou partes do depoimento de Hilson à polícia. O médico afirmou que praticava métodos criados por ele, sem embasamento na literatura médica, e chegou a pedir desculpas às mulheres "que se sentiram vítimas".

Durante o interrogatório, o prefeito afastado negou as denúncias de abuso sexual. "Não houve uma confissão em relação a todas as pacientes, apenas a uma parte dessas pacientes, segundo ele, mulheres que tinham algum tipo de relacionamento com ele", delineou a delegada. Já sobre as gravações, Joseanna contou que Hilson afirmou que realizava as filmagens com o objetivo de se proteger contra falsas denúncias de abuso.

De acordo com a delegada, ele diz ter começado a filmar atendimentos a pacientes com quem tinha intimidade, mas o hábito se tornou um fetiche feito às escondidas, sem o conhecimento da esposa e dos dirigentes dos hospitais onde atuava. Segundo Joseanna, Hilson disse que buscou tratamento e que chegou ao ponto de filmar até mesmo o consultório vazio. As gravações teriam cessado em 2017, quando ele assumiu a prefeitura de Uruburetama.

Desde quinta-feira, 18, a Polícia Civil do Estado do Ceará (PCCE) já se organizava para o cumprimento dos mandados. Antes de se entregar, Hilson estava em sua residência na Capital, no bairro Cidade dos Funcionários. Especificamente sobre o de busca e apreensão, André afirmou que os policiais encontraram um vasto material em Cruz e Uruburetama, municípios onde o médico clinicava.

André também disse que o material poderá ajudar a polícia a encontrar novas vítimas e, quem sabe, instaurar novos inquéritos policiais. A busca na residência do médico em Fortaleza não resultou em apreensões, dada a repercussão da ação na imprensa. "Há uma possibilidade até de destruição de provas, o que a gente não descarta", salientou.

Os mandados tomaram forma a partir de informações colhidas junto a três vítimas e o familiar de uma quarta mulher que desenvolveu problemas mentais e que teria sido abusada pelo médico em Cruz. De acordo com Joseanna, muitas delas procuraram a delegacia preocupadas com a possibilidade de exposição nos vídeos que integram a investigação. Segundo a delegada, algumas vítimas não tinham noção de que eram abusadas sexualmente. "Elas acreditavam, realmente, que aquilo era um tratamento médico".

Também tramita em Uruburetama, onde se iniciaram as investigações, denúncia feita pelo Ministério Público do Estado do Ceará (MPCE) com pedidos judiciais. Equipes de polícia local tomaram o depoimento de quatro vítimas e a mãe de mais uma nesta semana.

Vítimas de José Hilson contam ter sido enganadas durante consultas

Nove depoimentos de vítimas e parentes de vítimas já foram prestados às delegacias de Cruz e Uruburetama, diz a Polícia. Além disso, seis vítimas e uma testemunha já haviam representado contra o prefeito, em junho, ao Ministério Público Estadual (MPCE). O MPCE diz já ter identificado 18 vítimas nos vídeos ao qual teve acesso na ocasião.

No mandado de prisão expedido pela Comarca de Uruburetama são citados dois depoimentos de mulheres que se apresentaram como vítimas de Hilson de Paiva. Em um deles, a vítima diz ter buscado o médico há cerca de sete anos porque queria engravidar. Hilson, então, teria pedido para ela fazer sexo oral nele, argumentando ser um procedimento necessário para que ela engravidasse. "(A vítima diz) que foi a primeira vez que foi a um ginecologista, por isso, não tinha conhecimento de como um ginecologista agia em um exame", consta na decisão. Ela contou ainda ter dito ao médico que não conseguiria fazer o que ele ordenara.

Em outro depoimento, uma vítima afirmou que Hilson havia dito que ela estava com uma inflamação e que precisaria fazer aplicações. Ele teria mandado-a tirar as roupas e passado "muito tempo" apalpando os seios dela. A mulher disse ter achado estranho, mas aceitou por ele ser um médico "conhecido e respeitado" na cidade. Ela não soube dizer o ano em que se consultou com Hilson pela primeira vez.

O POVO esteve em Uruburetama e colheu depoimento de várias mulheres denunciando os abusos. Entre as vítimas do médico está uma que era adolescente à época do crime. Ela chegou a relatar o abuso, mas foi desacreditada "Ele era um deus aqui. Não éramos nada em relação a ele", contou a mãe dela. Outra vítima disse ter sido intimidada após o abuso. "(Ele disse) 'se você contar para alguém, não vai dar em nada, olha pra mim, olha pra tu (sic), tu é (sic) uma pobre e eu tenho condições de pagar um advogado e te colocar na cadeia e te processar". (Lucas Barbosa)

 

Busca

Segundo Joseanna Oliveira, titular da delegacia de Cruz, a busca no consultório de Hilson resultou na apreensão de fichas médicas, CDs, computadores e pendrives. Uma força-tarefa com investigadores, inspetores e delegados vai ajudar no processo.

Provas

"Certamente vai trazer muitos elementos de prova para robustecer o inquérito policial", avaliou André Costa, secretário da Segurança Pública e Defesa Social, sobre o material recolhido em Cruz e Uruburetama.

 

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