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IFCE volta às atividades com aulas remotas; professores e estudantes se opõem
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IFCE volta às atividades com aulas remotas; professores e estudantes se opõem

Em assembleia, servidores aprovam mobilização e possível greve. Reitoria promete distribuir 20 mil chips com acesso a internet
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INSTITUTO tem 47 mil alunos matriculados, em 32 municípios do Ceará (Foto: Divulgação)
Foto: Divulgação INSTITUTO tem 47 mil alunos matriculados, em 32 municípios do Ceará

O retorno ao calendário acadêmico, com aulas remotas, é motivo de polêmica no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará (IFCE). Em 31 de maio, o Conselho Superior do Instituto publicou resolução determinando que todos os campi "poderão, gradativamente, dar continuidade ao processo de retomada do ensino remoto no âmbito do ensino técnico, da graduação e da pós-graduação". Assim, pela decisão, o calendário letivo está sendo retomado desde o dia 1º. Entretanto, professores e estudantes se opõem às diretrizes.

"Este momento é grave e a instituição deveria voltar suas energias para dar suporte aos servidores - fomentando pesquisa, projetos de extensão, ampliação da informação de cuidados contra a pandemia", afirma David Moreno, professor do campus Fortaleza e integrante da Diretoria do Sindicato dos Servidores do IFCE (SindsIFCE). "Nossos alunos são oriundos majoritariamente das periferias, de distritos e da zona rural. A retomada deixaria muita gente pelo caminho e aprofundaria desigualdades", analisa. Em Assembleia Geral realizada ontem, os servidores recusaram a retomada do calendário com atividades online e aprovaram possível greve contra as medidas previstas pela Reitoria.

Uma pesquisa online respondida por cerca de 30% dos 47 mil alunos matriculados, indica que 95% dos participantes têm acesso à internet. "É pouco e meramente quantitativo. Estamos em 32 municípios e grande parte do corpo docente é do ensino médio, onde é mais complicado aplicar ensino remoto", avalia Moreno. "Como os estudantes terão garantia de seu direito ao ensino? Isso implicará em duplicação da carga horária dos professores?" Segundo o IFCE, o levantamento norteou a aquisição de 20 mil chips com 20 GB de internet para os estudantes. Além disso, desde março, a instituição capacitou cerca de 1.500 professores em ferramentas tecnológicas para uso didático.

Desde o dia 1º, alguns campi já oferecem atividades extracurriculares às turmas de Ensino Médio e parte das disciplinas do Ensino Superior, como é o caso da unidade de Tauá. "Com essas atividades, colegas já têm externado dificuldades, por questões que vão além de condições materiais de acesso à aula. São questões sociofamiliares, emocionais, psicológicas e de acessibilidade", relata Vitória Melo, 16, do 2° ano do Curso Técnico Integrado em Redes de Computadores.

O cenário é parecido em Umirim. Gleiciane Castro, aluna do Curso Subsequente em Agropecuária, se queixa da exclusão digital e da falta de atividades práticas. "Estou no último semestre e com as aulas remotas irei me formar no fim do ano, mas terei que aguardar para fazer os estágios", conta.

Leia também | Professores e estudantes discordam de proposta da UFC para retorno às aulas

Régia Araújo, professora no campus Juazeiro do Norte, explica que a retomada na unidade está prevista para o dia 15, mas acredita que é uma ação irresponsável. "Inicialmente voltaríamos com os terceiros anos e últimos semestres dos cursos superiores. Porém, em reuniões com pais, optaram por voltar todos os anos do ensino técnico integrado, infelizmente", conta. "Digo assim porque muitos alunos não têm estrutura para acesso à internet ". Segundo Régia, nenhum chip prometido pela Reitoria chegou ao campus até o momento. "Reconheço o esforço de todos os colegas, porém não temos condições iguais para ofertarmos ensino de qualidade e, o principal, a equidade de todos", lamenta.

Segundo a Reitoria do IFCE, o processo de retomada do calendário letivo "está em fase inicial, será gradual, dentro de um planejamento feito por cada campus". Alguns já iniciaram, com turmas de último semestre de graduação ou turmas de terceiro ano de cursos técnicos integrados ao ensino médio. As demais turmas e cursos encontram-se na fase de planejamento e fazem pesquisas individuais com seus alunos, utilizando-se de questionários e ligações, para ter detalhes da situação. Os campi têm até o dia 12 de junho para apresentar o plano de retorno de atividades, de forma remota.

 

Justiça

Em assembleia, os servidores também aprovaram ingressar com ação judicial contra o trabalho e o ensino remoto no Instituto, solicitando à Justiça a suspensão do calendário acadêmico

 

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