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Jangurussu é o bairro com maior número de assassinatos no ano em Fortaleza
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Jangurussu é o bairro com maior número de assassinatos no ano em Fortaleza

São, pelo menos, 39 casos, conforme levantamento de O POVO. Vulnerabilidade social e ausência de políticas são apontadas por pesquisador como motivações para o quadro
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CRIANÇAS BRINCAM em rua do bairro Jangurussu: com aulas suspensas por medida de saúde, elas estão ainda mais expostas (Foto: Aurelio Alves)
Foto: Aurelio Alves CRIANÇAS BRINCAM em rua do bairro Jangurussu: com aulas suspensas por medida de saúde, elas estão ainda mais expostas

Após ter o ano menos violento da década em 2019, o Ceará viu os assassinatos mais que dobrarem em 2020. A Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS) credita o crescimento ao “acirramento” do conflito entre “células de organizações criminosas”. E é o Jangurussu o bairro mais afetado por essa situação. Conforme levantamento de O POVO já ocorreram, pelo menos, 39 homicídios no bairro neste ano.

A SSPDS não divulga o total de mortos por bairros, somente por Áreas Integradas de Segurança (AIS), mas O POVO buscou os relatórios diários disponibilizados pela pasta e mapeou 556 assassinatos ocorridos na Capital até 14 de junho. Até 13 de junho, último dia com dados oficiais disponibilizados, haviam sido registrados 658 assassinatos em Fortaleza. Além do Jangurussu, os bairros com mais assassinatos no ano são o Mondubim (32), Barra do Ceará (27), Bom Jardim (21) e Granja Lisboa (19).

A retomada do conflito entre facções, somada à vulnerabilidade social e à interação violenta com a Polícia, são alguns dos elementos que podem ajudar a explicar o quadro violento no Jangurussu, diz Jamieson Simões, pesquisador do laboratório de Conflitualidade e Violência (Covio), da Uece, que desenvolve ações sociais no bairro. Em conversa com moradores, ele ouviu que em meados de janeiro houve uma retomada da disputa por territórios pelas facções no bairro. O enfraquecimento feito pelos órgãos de segurança da Guardiões do Estado fez com que o Comando Vermelho passasse a atacar nos territórios rivais, situação que se estende para toda Fortaleza. A paralisação da PM, em fevereiro, ainda permitiu o acentuamento dos “acertos de contas” entre criminosos.

Além dos homicídios, conta Simões, há relatos de expulsões de moradores e proibição de circulação em determinados territórios. Com a pandemia e a impossibilidade de ir à escola, ele cita, as crianças ficam ainda mais vulneráveis à violência. Para o pesquisador, porém, a situação não é nova e é motivada sobretudo, pela ausência de políticas públicas na região. Ele menciona que a região concentra assentamentos precários, tem baixo Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), faltam escolas de qualidade e há baixa execução orçamentária em comparação com outras regionais.

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Para ilustrar as consequências dessas vulnerabilidades, Simões, conta a história de uma mulher, moradora do Jangurussu, que perdeu quatro dos cinco filhos nos últimos cinco anos: três assassinados e um atropelado. “A vida dela é a experiência concreta da necropolítica de Fortaleza. Não sei como uma pessoa consegue conviver com esse luto em cinco ano. Catadora, moradora de assentamento precário, com moradia insalubre, esquecida… Aquela mulher é o Jangurussu personificado”.

Em nota, a SSPDS afirmou que dois dos cinco bairros mais violentos na Capital receberão bases policiais: Jangurussu e Mondubim. Além disso, uma outra base deve ser fixada na Granja Portugal, bairro vizinho à Granja Lisboa, que já teve 16 mortos neste ano. "Em todos os casos, além do policiamento ostensivo, também existe as ações preventivas baseadas nas doutrinas do policiamento de proximidade e comunitário". Entre as ações de prevenção adotados pelo Estado, a SSPDS cita a ampliação do tempo integral na rede estadual. Além disso, a pasta destaca desenvolver ações como investimentos em inteligência, com descapitalização de organizações criminosas e criação de novas tecnologias. Também cita a ampliação do Departamento de Homicídios em 2017 e o endurecimento de medidas nas unidades prisionais.

Os 10 bairros com mais assassinatos no ano

Com 79 casos, a AIS 9, de bairros como Mondubim e José Walter, é a região da cidade com mais assassinatos até maio. Mas é o Jangurussu, na AIS 3, o bairro com mais mortes. Até o fim de maio, 1.887 pessoas já haviam sido mortas no Estado.

 

1º Jangurussu: 39 assassinatos

2º Mondubim: 32 assassinatos

3º Barra do Ceará: 27 assassinatos

3º Bom Jardim: 21 assassinatos

4º Granja Lisboa: 19 assassinatos

5º José Walter: 17 assassinatos

6º Granja Portugal: 16 assassinatos

8º Siqueira: 15 assassinatos

9º Vicente Pinzón: 15 assassinatos

10º Centro: 13 assassinatos

Planalto Ayrton Senna: 13 assassinatos

Fonte: Relatórios diários de principais ocorrências da SSPDS

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