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Sem uma saúde pública forte, não é possível nos salvar, diz De Masi
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Sem uma saúde pública forte, não é possível nos salvar, diz De Masi

No terceiro dia do Futura Trends 2020, o sociólogo italiano Domenico De Masi analisou os impactos da pandemia sobre o comportamento social e as relações de trabalho
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Transmissão do seminário Futura Trends 2020 direto do estúdio da TV O POVO (Foto: FCO FONTENELE)
Foto: FCO FONTENELE Transmissão do seminário Futura Trends 2020 direto do estúdio da TV O POVO

Ordem democrática e saúde pública forte são componentes imprescindíveis para o combate à pandemia da Covid-19. Essa é a perspectiva do sociólogo italiano Domenico De Masi. Ele analisa o "aspecto pedagógico" do momento que a sociedade vive, com aprendizados que perpassam desde a relação entre espaço e tempo cotidianos, até o excesso prejudicial do consumo ditado pelo neoliberalismo econômico.

Professor de Sociologia e das Profissões na Universidade de la Sapienza, na Itália, De Masi é um dos principais pensadores do mundo no campo da Sociologia do Trabalho. Ele foi o convidado do terceiro dia da 9ª edicão do Seminário Futura Trends, realizado na noite de ontem, 28, de forma virtual.

A head de Recursos Humanos da Nutrilite e do Grupo Amway, Elizabeth Parente, e a presidente da BPW Brasil Margarida Yassuda, mediaram a palestra "Família, educação e ócio: de que forma a pandemia da Covid-19 afetou o comportamento social das pessoas. A reinvenção da educação, do trabalho e dos governos".

"Tínhamos espaço ilimitado e tempo limitado. Íamos para qualquer parte do planeta em pouco tempo. Tudo era muito corrido. Agora, estamos em situação inversa. Fechados em casa, sem espaço, restritos a poucos cômodos em casa e, em contrapartida, muito tempo para refletir sobre as coisas que devemos fazer e sobre as coisas que não podemos mais fazer", compara.

Um dos aprendizados do momento que a sociedade vive é a diferença entre o que é necessário e o que é supérfluo. "Já desperdiçamos muita energia, muito dinheiro e muito tempo com coisas inúteis e supérfluas que nos foram impostas pelo neoliberalismo econômico, baseado sobre o excesso de produção e sobre o excesso de consumo", avalia.

Conforme o sociólogo, é necessário, antes de tudo, a saúde. Em seguida, a democracia. "É necessário que a sociedade, para salvar a saúde, não se torne uma ditadura", diz. A economia é a terceira necessidade na ordem hierárquica elencada por ele. "O vírus esta ensinando que o Estado é necessário, que exista uma ordem democrática, um guia democrático com o qual se pode enfrentar juntos o inimigo em comum, que é o vírus", considera.

Ele frisa a importância de estruturas de saúde universais bem como as competências científicas na área da saúde. "Sem uma forte saúde pública não é possível de forma alguma nos salvar do que está acontecendo agora", destaca.

Apesar da necessidade de aprendizado com a pandemia, De Masi não é totalmente otimista sobre como a sociedade tem lidado com isso. Ele usa como exemplo o próprio país. A Itália, assim como outros países da Europa, enfrenta uma segunda onda da Covid-19. "Tivemos um período muito ruim de três meses de lockdown. Mas tudo isso passou e voltamos ao foco de achar que estamos fora do perigo. Voltamos quase ao normal. Percebi que em três meses de lockdown não aprendemos nada. Esquecemos de imediato. O vírus está nos punindo uma segunda vez porque não aprendemos da primeira. Não sei se consigo ser otimista. Espero que os seres humanos consigam aprender", relata.

Outro ponto abordado pelo sociólogo na palestra foi a falta de consciência ambiental e exaustão dos recursos naturais. "Enquanto sofremos com a pandemia, continuamos a destruir a biodiversidade, a exaurir os recursos naturais, a causar o desaparecimento do ozônio, agravando o efeito estufa. Tudo isso porque seguimos um modelo de vida que é centrado pelo frenesi, pela velocidade e pelo desequilíbrio."

Futura Trends 2020

Hoje, 29

Palestra "Pandemia da Covid-19: as vítimas, os indiferentes e o amor. Os efeitos espirituais e humanos do distanciamento", com o padre Fábio de Melo. Moderadores: Cristiane Holanda, professora e doutora em Educação, e o frei Wilter Malveira, diácono da Arquidiocese de Fortaleza.

*O evento, iniciado na segunda-feira, 26, já recebeu Boaventura de Sousa Santos, professor catedrático jubilado da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra; Rivadávia Drummond de Alvarenga Neto, PHD professor do Departamento de Gestão e Empreendedorismo da Arizona State University; e Domenico De Masi: professor de Sociologia e das Profissões na Universidade de la Sapienza, Itália.

 

SERVIÇO

Quando: até hoje, 29, às 18 horas

Inscrições e valores: seminariofuturatrends.com.br

 

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