Entre os povos indígenas brasileiros, 41.504 pessoas já foram infectadas pelo novo coronavírus. Do total, 889 morreram em decorrência da Covid-19, que afeta 161 povos em todo o País. As informações são do Comitê Nacional pela Vida e Memória Indígena, da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib). Os dados foram atualizados às 12h10min de ontem, 11, e incluem tanto indígenas que vivem nos territórios tradicionais quanto os que vivem em contexto urbano, que se autodeclaram e possuem laços com seu povo.
No Ceará, quem vem acompanhando de perto a situação é a Federação dos Povos e Organizações Indígenas do Ceará (Fepoince). A população indígena no Estado é formada por cerca 36 mil pessoas de 15 povos distribuídos em 20 municípios. Conforme a organização, até 30 de novembro, 944 indígenas tinham sido infectados pelo Sars-CoV-2 e sete mortes foram causadas pela Covid-19. Os municípios de Itarema, Crateús e Caucaia concentram a maioria dos casos.
O óbito mais recente no Estado foi de uma mulher da etnia Kariri, de 39 anos, de Crateús. A paciente foi atendida pelo médico da Equipe Multidisciplinar de Saúde Indígena (EMSI) na Unidade Básica de Saúde Indígena Maratoãn no dia 13 de outubro, apresentando sintomas leves. A paciente recebeu conduta terapêutica medicamentosa. Uma semana depois, foi internada no Hospital São Lucas e morreu em 10 de novembro.
"Estamos vendo um aumento gradativo da Covid-19 após esse afrouxamento das medidas. E mesmo quando no Brasil como um todo houve uma diminuição, entre os povos indígenas os níveis de contaminação continuaram altos", afirma Dinamam Tuxá, coordenador-executivo da Apib. "Os índios sempre estiveram sob um esquecimento estatal. A falta de investimentos, o enfraquecimento de políticas públicas - especialmente sobre o direito territorial -, tudo isso aumenta nossas vulnerabilidades", completa.
Até a última quinta-feira, 10, a Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai) registrava 35.607 confirmações da Covid-19 entre indígenas de todo o País e 496 óbitos. O boletim epidemiológico da pasta indica que o pico da Covid-19 entre os povos indígenas aconteceu entre junho e agosto e agora está em queda. Ainda segundo o órgão, são 869 casos no Ceará e seis óbitos. O número difere dos apresentados pela Apib e pela Fepoince devido à metodologia adotada: a secretaria contabiliza e atende apenas pessoas que vivem em aldeias.
Entre as ações realizadas de combate à pandemia, o Ministério da Saúde aponta que a Sesai "vem fortalecendo a rede logística de insumos e equipamentos de proteção individual (EPI), estabelecendo fluxos de atendimento nas aldeias, Polos Base e Unidades Básicas de Saúde Indígena (UBSI)". A pasta também destacou o envio de quase 4 milhões de equipamentos de proteção individual (EPIs) e a implantação, até o momento, de 208 Unidades de Atenção Primária Indígena (UAPI). (Marcela Tosi e Gabriela Custódio)
Vulnerabilidade
A Associação Brasileira de Estudos Populacionais (Abep) estudou a vulnerabilidade de 471 terras indígenas brasileiras diante da Covid-19. Foram considerados fatores como a distância de centros com unidades de terapia intensiva (UTI), saneamento e porcentagem de idosos na população. Treze áreas apresentam vulnerabilidade crítica; 85 têm vulnerabilidade intensa; 274, alta; e 126, moderada.
Territórios
Em 2019, o Brasil tinha 7.103 localidades indígenas e 5.972 quilombolas em 2019. O dado é uma estimativa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e foi divulgado em abril.