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Festa para São Francisco na terra de São José: o dia seguinte da chegada da transposição
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Festa para São Francisco na terra de São José: o dia seguinte da chegada da transposição

Chegada do Velho Chico ao açude Castanhão renova a esperança daqueles que usam a água como fonte de sustento
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Homens foram fotografar a chegada das águas do rio São Francisco, na passagem molhada (Passagem do Pinguelo) na velha Jaguaribara (Foto: Aurelio Alves)
Foto: Aurelio Alves Homens foram fotografar a chegada das águas do rio São Francisco, na passagem molhada (Passagem do Pinguelo) na velha Jaguaribara

Foi no primeiro dia de março, mês do padroeiro São José, que foi aberta a comporta do quilômetro 53 do Cinturão das Águas, no município de Missão Velha. Assim, as águas que chegam pelo projeto de transposição do rio São Francisco saíram do Cariri em direção ao rio Jaguaribe, principal artéria aberta da hidrografia cearense. Em dez dias, foram percorridos 300 quilômetros, pelo Riacho Seco, Rio Salgado e o Jaguaribe, até desaguar na quarta-feira no Castanhão. 

Vídeo mostra a chegada das águas e o sentimento de agricultores e pescadores

Nem mesmo a esperada chegada das águas do São Francisco ao maior açude do Ceará foi capaz de alterar a pacata movimentação, típica, da cidade de Jaguaribara. Entretanto, a confirmação do fato histórico para o Estado era definida em uma palavra entre os moradores da região: esperança.

Com pouco mais de 10 mil habitantes, parte da população sonha em viver, novamente, os tempos de cheia do açude, que hoje está com 10,35% da capacidade. Houve aumento de um centímetro em 24 horas, o que é considerado normal neste momento da quadra chuvosa. O efeito da transposição no nível do reservatório levará alguns dias para ser sentido.

José Clodomarcos Almeida de Sousa, Codó, empresário
José Clodomarcos Almeida de Sousa, Codó, empresário (Foto: Aurelio Alves)

"A época de abundância pode se repetir e melhorar. Hoje, nós já sabemos o que fazer com a água. Na época que encheu o Castanhão, nós ainda ficamos sem saber o que fazer. Não tínhamos experiência na criação de peixe, mas crescemos e nos tornamos um dos maiores produtores do Brasil. Agora, que já sabemos o caminho, vamos fazer mais e melhor", relata José Clodomarcos Almeida, 45, conhecido como Codó, empresário na região.

O Castanhão pegou água em 2004, pouco após a construção. Em 2009, atingiu seu maior nível e as comportas foram abertas. Em 2018, o açude ficou em seu patamar mais baixo.

Segundo Codó, hoje ele emprega 45 pessoas por meio de seus negócios. Para o empresário, as águas do Velho Chico trazem renovação para a cidade, que um dia sofreu ao ser inundada para dar lugar ao Castanhão.

"A água representa muita coisa para o nordestino, e mais ainda para Jaguaribara. Ela nos tirou do nosso lugar, matou a nossa identidade. Fomos contra no começo, mas depois entendemos que tinha que ser feito. Cobriram a nossa cidade de água, para dar vida ao Ceará, algo muito bonito. Acredito que podemos ter uma retomada na economia, temos terra e água em abundância, tudo para prosperar", relata.

Em outro ponto do açude, distante das grandes paredes da barragem localizadas na nova cidade de Jaguaribara, pescadores comemoram a ajuda vinda do Velho Chico.

Denis Robério dos Santos, pescador
Denis Robério dos Santos, pescador (Foto: Aurelio Alves)

"A água é vida para nós que vivemos nesse ramo. Ano passado, antes da barragem pegar água, isso aqui era uma tristeza, só tinha uma água suja. Com o rio São Francisco chegando a esperança se renova", conta o pescador Denis Robério dos Santos, o "Berinho", 31.

Berinho é outro que sonha em reviver os tempos áureos do Açude. "Aqui era a riqueza. Você chegava e tinha um 'marzão' de água com tudo coberto, coisa linda mesmo. Se Deus quiser, esse momento vai chegar de novo. Sou pescador, vivo da pesca com muito orgulho. Graças a Deus escolhi isso pra mim e até hoje estou aqui", comenta o pescador com mais de 17 anos de experiência.

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Já o pescador José Gleivan, 52, conta que começa a trabalhar às 3 horas da manhã todos os dias. Ele é mais um que comemora e acredita em dias melhores.

José Gleivan Pereira de Lima, pescador
José Gleivan Pereira de Lima, pescador (Foto: Aurelio Alves)

"Vai ser muito bom, espero que não soltem toda a água que vai entrar. Às vezes a água que chega é só para manter o nível, se eles deixarem ficar vai ser melhor, quanto mais água entrar, melhor pro pescador. Vai melhorar para todo mundo", diz.

Além dos pescadores, quem trabalha com a agricultura também imagina viver dias melhores no futuro. Apesar das chuvas terem diminuído na região, nos últimos três dias, os agricultores esperam que as águas do São Francisco possam servir de socorro durante os períodos de estiagem.

Edson Almeida, agricultor
Edson Almeida, agricultor (Foto: Aurelio Alves)

"Essa água do rio São Francisco é bem-vinda aqui na nossa região do Vale do Jaguaribe, acredito que vai gerar muito emprego na barragem, e na parte da agricultura também. Aqui, nós não temos com irrigar, já com essa água, eu acredito que poderíamos instalar a irrigação para aguar no verão", explica o agricultor Edson Almeida, 34.

Edson acredita que a água é fundamental para o fluxo de vida da população de Jaguaribara. "Água é vida, eu acredito que a maior importância da água é a questão de gerar empregos, é o fundamental. Quando a barragem estava cheia, tinha muito emprego. A água é uma riqueza para a nossa cidade", relata. 

Para o agricultor Pedro José, 57, a água tem relação intrínseca com sua vida. "A água representa tudo, tudo mesmo. Nós vivemos disso, sem ela, não temos como sobreviver. Com certeza tenho esperança que essa água vai melhorar o plantio. Já tenho uns 30 anos vivendo da agricultura, sempre vivi com a enxada e com a foice na mão, e vou continuar", afirma.

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