Com redução nos dias de duração e tímido público nas apresentações iniciais, a desconfiança pairou sobre o ar do Aterro da Praia de Iracema durante as primeiras horas da já tradicional festa de Réveillon, realizada no último dia 31, em Fortaleza. Entretanto, se em algum momento foi levantada a hipótese de um possível fracasso da virada, algumas poucas horas foram suficientes para abarrotar a orla da Capital com mais de um milhão de pessoas, que deram as boas vindas ao novo ano com muito entusiasmo.
À meia-noite do dia 1°, o clima nos arredores do palco era de felicidade, com público que ao comando do DJ Pedro Sampaio, clamava por boas energias para o novo ano. Casais aos beijos, amigos celebrando e câmeras registrando a queima de fogos, que durou apenas cerca de cinco minutos, foram vistos aos montes assim que o ano começou. “O maior público da minha vida, vou começar o ano do jeito que sempre sonhei", comemorou Pedro em entrevista ao O POVO. Quem presenciou a euforia impulsionada pela música e pirotecnia, pouco lembrou dos sérios desafios que a cidade carrega para 2025, e que estamparam os noticiários até os momentos finais do ano.
Sob gestão de um novo grupo político após 12 anos de governança do PDT, a Capital viveu uma transição conturbada, com embates de versões sobre as contas públicas e serviços prestados. Centro dos debates nos últimos dois meses, a área da saúde inicia o ano como o principal desafio do agora prefeito, Evandro Leitão (PT), que tem casos como a crise do IJF para solucionar.
Mesmo com reduções nos números de Crime Violentos Letais Intencionais (CVLIs), a sensação de insegurança ainda assombra os moradores da Capital nesta entrada de ano, já que casos de roubos, atuação massiva de facções e até mesmo tentativas de homicídio em praça pública, não são raridade na Terra do Sol.
Entre os anseios da população neste ano novo está a conclusão das obras na avenida Heráclito Graça, que prometem sustar os sazonais alagamentos da quadra chuvosa. Com previsão de entrega para o último mês de dezembro, a obra precisou ter o prazo esticado por mais três meses, e sua continuidade preocupa os comerciantes da região, que perdem cada vez mais clientes.
Além desta, outras três obras que deveriam ser concluídas em 2024 seguem para este novo ciclo, sendo elas os Parques Passaré e Riacho Maceió, bem como a última etapa da requalificação da Beira-Mar.
Se concluído o caminho de 2024 para 2025, este provavelmente não foi de transporte coletivo, já que conforme levantamento exclusivo realizado pelo O POVO, metade das linhas de ônibus da Capital sofreu redução no número de viagens durante o primeiro quadrimestre do ano passado.
Em paralelo, o Metrofor, que deveria ser uma alternativa ágil e confortável frente aos ônibus, se tornou sinônimo de transtorno, com atrasos, más condições de uso e quebras recorrentes das composições.
Para 2025, o fortalezense almeja mais espaços para compartilhar, como a ponte dos ingleses, reinaugurada no último mês de agosto e que tem contado com a adesão de turistas e moradores. E que esses espaços cheguem também às periferias, para que essas, além das já difundidas areninhas, que fomentam a economia e o esporte, respirem também a arte e cultura nos seus espaços públicos.
Esses e outros obstáculos criam um cenário desafiador para Fortaleza no ano em que ela chega ao 299° aniversário. Para quem vive a Capital, a esperança é de que o sucesso da conturbada virada no aterro seja um presságio de boas novas.
No início de ano com tantas incertezas, o infortúnio da surpresa é a esperança de que o tricentenário de Fortaleza seja não só do tão falado maior Produto Interno Bruto (PIB) do Nordeste, mas também de uma Cidade que possa ser compartilhada, e que caminhe para dias de maior positividade, como a madrugada que recebeu 2025 no aterro.
Limpeza no Aterro da Praia de Iracema recolhe 51 toneladas de lixo
Horas após o fim da programação do Réveillon, diversos cearenses e turistas ainda aproveitavam ou tentavam ir embora do Aterro da Praia de Iracema, em Fortaleza, na manhã desta quarta-feira, 1º.
Nas vias que levam ao local, como a avenida Monsenhor Tabosa, pessoas de branco caminhavam para longe da orla ou aguardavam, sentadas no chão, por viagens de aplicativo. Muitas, ainda dançavam e bebiam.
➡️Em meio ao lixo deixado pela folia, muitos cidadãos tentavam voltar para casa na manhã desta quarta, 1º, enquanto outros continuavam a festa no local
— O POVO (@opovo) 1 de janeiro de 2025
Leia mais em: https://t.co/3GlDfE3id1 pic.twitter.com/WSubSJBPX4
Às 6 horas, no aterro, milhares de foliões ainda preenchiam o concreto e a areia, apesar de o lixo se encontrar visível. Para Jamime de Oliveira, de 23 anos, a “única parte ruim” do evento “é essa situação que fica, infelizmente. Estou há algum tempo olhando aqui [para o lixo espalhado pela orla]”.
Apesar disso, a fortalezense enfatizou ter curtido os shows, especialmente da banda Paralamas do Sucesso. Foi a primeira vez que Jamime virou o ano no Aterro. Ela estava acompanhada de amigos de infância e aguardava alguns deles saírem do mar para deixar o local.
Até então, a limpeza coordenada pela Prefeitura, por meio da Ecofor, ainda não havia começado. Muitos dos itens recicláveis eram removidos da areia por catadores independentes e funcionários da iniciativa Re-ciclo. A operação de limpeza começou por volta de 7h18min, próxima à região do palco. Em minutos, o cenário foi preenchido por trabalhadores com fardas azul ou verde. Foram removidos do Aterro da Praia de Iracema neste pós-Réveillon 51 toneladas do lixo, segundo a Prefeitura de Fortaleza.
Enquanto muitos deixavam a orla alencarina, tantos outros continuavam a folia. É o caso da paulista Alessandra Santos, 46, que mora na Capital e estava com amigos de Minas Gerais, Bahia e São Paulo.
Sentados na areia em roda, os quatro esperavam para adentrar o mar. “Vim de biquíni só para isso”, brincou Alessandra. Entusiasta de Paralamas, foi o show em que ela mais se animou. “A gente estava num prédio aqui perto, assistimos alguns shows lá em cima. Aí descemos quando entrou a Joelma”, contou.
Na visão de Joyce Trindade, 25, o melhor momento da programação foi o show de Pedro Sampaio, que comandou a contagem regressiva. “Foi o momento que a galera ficou mais animada. Deu para extravasar bastante, o Pedro tocou de tudo. Deu para entrar em 2025 com boas energias”, disse a paraense.
Ela estava na praia desde 21 horas da noite anterior com o namorado. Ambos são de Belém (PA) e este foi a segunda virada comemorada em Fortaleza. “É diferente de Belém, porque não temos lá esse evento. E aqui tem artistas locais e do País inteiro. Tem outra vibe, de contato com mar, com outras culturas”.
A “vibe” estava tão boa que nem ela, nem o namorado pretendiam ir logo embora. “Estamos só curtindo. A gente chega e não dá vontade de ir, né? Temos que aproveitar tudo que for possível”, complementou Joyce.
Quem também pretendia não voltar logo para casa eram as irmãs Ana Maria, 53, e Luana Chaves, 40. Elas compareceram aos shows da virada em dupla, fizeram amizades no local e, pós-festa, tinham um plano: trocar de roupa nos banheiros públicos da Beira-Mar, se alimentar e, depois, entrar no mar.
“Quero botar o biquíni e continuar por aqui”, brincou Ana Maria, que também listou Parlamas e Pedro Sampaio como destaques da noite anterior. Para a fortalezense, outro ponto alto foi um dos dançarinos de Joelma.
“Ela [Joelma] não entregou, porque cantou muito romance quando todo mundo estava cansado, com sono. Tem que cantar música que anima. e ele [o ajudante], quando entrava e ela saia, ele animava”, narrou ela.
"Acho que 2025 vai ser incrível, melhor que 2024. E olha que 2024 foi muito bom. Fazia uns oito anos que não tinha um ano tão bom"
Alessandra Santos, 46, paulista, moradora de Fortaleza
"2024 foi bom, mas espero que 2025 seja melhor ainda. Ano passado, era estagiária, agora vou me formar. Espero que venham boas oportunidades de emprego, além de saúde, claro. Vale lembrar que viemos de um momento de pandemia, né? Temos que querer a saúde dos nossos"
Joyce Trindade, 25, belenense
"Para 2025, quero muito trabalho, se Deus quiser. Trabalhar mais, ter mais dinheiro"
Jamime de Oliveira, 23, fortalezense
"Para 2025, espero muita saúde e muito dinheiro para fazer nossos projetos"
Luana Chaves, 40, fortalezense
"A Cidade precisa de investimento na saúde. Se empolgam com nossas festas, mas é bom chegar no hospital e ter médico. Espero que venham mudanças"
Ana Maria Chaves, 53, fortalezense