Logo O POVO+
TJCE fará capacitação de síndicos para lidar com violência doméstica em condomínios no Ceará
CIDADES

TJCE fará capacitação de síndicos para lidar com violência doméstica em condomínios no Ceará

Lei estadual obriga condomínios a comunicar violência doméstica às autoridades. Iniciativa busca capacitar funcionários de residenciais para intervir, prevenir e denunciar casos
Edição Impressa
Tipo Notícia Por
Projeto Conviver Sem Medo é lançado pelo TJCE em meio ao Agosto Lilás para ampliar proteção de mulheres contra violências em condomínios (Foto: Zé Vitor/TJCE)
Foto: Zé Vitor/TJCE Projeto Conviver Sem Medo é lançado pelo TJCE em meio ao Agosto Lilás para ampliar proteção de mulheres contra violências em condomínios

Casos chocantes como o espancamento com 61 socos que Juliana Garcia sofreu do namorado, Igor Cabral, no elevador de um condomínio no Rio Grande do Norte, acendeu um alerta sobre a violência doméstica nesses espaços de convivência.

Saber como denunciar, coibir e prevenir episódios de violência contra a mulher em condomínios é o objetivo do projeto Conviver Sem Medo, lançado pelo Tribunal de Justiça do Ceará (TJCE) nesta ontem, 6.

Em reunião com associações de síndicos e administradores de condomínio, foram definidos protocolos de ação e capacitações jurídicas para funcionários de residenciais multifamiliares, além da divulgação de peças gráficas que podem ser fixadas em elevadores e espaços comuns.

Os protocolos foram reunidos em uma cartilha e falam sobre o sigilo necessário ao tratar de casos de violência, cuidados com o acolhimento da vítima, a importância do registro das ocorrências e canais de denúncia.

A desembargadora Vanja Fontenele Pontes, presidente da Coordenadoria Estadual da Mulher em Situação de Violência Doméstica e Familiar do TJCE, explica que há uma lei estadual (nº 17.211/2020) que obriga síndicos e administradores a comunicar ocorrências ou indícios de episódios de violência contra mulheres, crianças, adolescentes ou idosos nas unidades individuais e áreas comuns.

LEIA | No Ceará, condomínios têm a obrigação de comunicar violência doméstica à Polícia

“Na época da pandemia, quando as pessoas estavam confinadas, houve um incremento muito grande da violência doméstica e familiar. Essa lei não traz punição expressa para quem não cumprir, mas ela deixa claro o espírito do síndico e das pessoas de um modo geral de prevenir a violência. Se presenciar, que aquilo realmente seja levado às autoridades”, afirma.

Vanja lembra ainda o conceito de omissão de socorro estabelecido pelo Código Penal. “Qualquer cidadão que percebe um crime acontecendo tem obrigação de intervir”, diz.

“Vamos fazer uma capacitação com porteiros, síndicos e as pessoas que queiram se integrar a esse objetivo, passar conhecimento do que pode ser feito e do que a lei determina, para que todos possam estar capacitados a agir em benefício das mulheres”, diz a desembargadora.

Para George Melo, diretor executivo da Associação das Administradoras de Condomínios do Estado do Ceará (Adconce), a iniciativa do poder judiciário pode ajudar funcionários a saber o que fazer para combater a violência contra a mulher de forma capilarizada. A Adconce atende cerca de 4 mil condomínios em todo o Ceará.

LEIA TAMBÉM | 61 socos, um elevador, câmeras e muita covardia!

“Às vezes a pessoa deixa de intervir até por medo de retaliação, de ser de alguma forma prejudicada. Mas o trabalho tem que ser de conscientização, de saber que o problema é de todos nós e fazer um trabalho para que a gente possa garantir mais segurança para as mulheres dentro dos condomínios”, diz George.

Patrícia Barreira, diretora da RB Administração de Condomínios, que atende 130 residenciais em Fortaleza, acredita que a capacitação vai passar mais segurança jurídica aos funcionários na hora de uma intervenção. “É complicado a gente solicitar de um colaborador um comando sem que ele se sinta seguro de fazer. Então o treinamento é fundamental”, afirma.

Além disso, a publicização dessas formações é essencial para coibir práticas violentas, conforme Patrícia. “É importantíssimo que os moradores saibam que os funcionários estão capacitados e que eles podem tomar uma atitude correta na hora necessária. Muitas vezes fazem uma coisa errada e não sabem que tem alguém vendo com um olhar sensível, de quem entende o que deve fazer”, afirma.

Confira dicas do TJCE para síndicos sobre como lidar com violência doméstica em condomínios:

  • Sempre que tiver conhecimento de indícios de que uma mulher esteja em situação de risco, o síndico deve zelar para que a situação seja tratada com a devida discrição e sigilo;
  • A vítima não deve ser identificada publicamente, tampouco a situação deve ser exposta em reuniões ou comunicados;
  • O registro da ocorrência deve ser feito internamente, de forma que as informações possam ser acessadas apenas por pessoas autorizadas, garantindo que a mulher não seja exposta a constrangimentos ou qualquer tipo de risco adicional;
  • Se um condômino fizer uma comunicação sobre um possível caso, é essencial preservar sua identidade, incentivando uma cultura de confiança e proteção;
  • Não intervir diretamente no conflito ou abordar as partes envolvidas a menos que seja um flagrante;
  • Realizar a comunicação ao órgão de segurança pública competente de forma imediata e responsável.

Canais de denúncia de violência contra a mulher

Em situação de urgência ou risco iminente: 190
Demais casos: 180

O que você achou desse conteúdo?