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Festa de Iemanjá leva tradição dos terreiros à Praia do Futuro
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Festa de Iemanjá leva tradição dos terreiros à Praia do Futuro

Festejos aconteceram em vários pontos do litoral de Fortaleza e trouxeram integrantes, também, do interior cearense
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Festa de Iemanjá em Fortaleza  (Foto: Francisco Fontenele)
Foto: Francisco Fontenele Festa de Iemanjá em Fortaleza

Os 60 anos de "amor, luta e fé" da Festa de Iemanjá foram celebrados em diversos pontos do litoral de Fortaleza. Na Praia do Futuro, os membros de terreiros começaram a chegar ainda na madrugada de ontem. Cerca de 20 grupos se reuniram para exaltar a mãe dos orixás.

Terreiros de todo o estado se fizeram presente para a festa, que abrangeu municípios como Crateús, Itaitinga, Fortim, Iguatu, Quixeramobim e Tauá. Os grupos se reuniram na faixa de areia, e cada terreiro prestou seus rituais e oferendas à Mãe Iemanjá.

A chegada da imagem da orixá ocorreu por volta das 9h40min do feriado em Fortaleza. A estátua foi trazida pela equipe da União Espírita Cearense de Umbanda. 

O evento ocorreu com apoio da Prefeitura de Fortaleza, por meio da Secretaria Municipal da Cultura (Secultfor), em parceria com o Instituto Cultural Iracema, e da Coordenadoria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (Coppir).

O Batalhão de Policiamento Turístico (BPTur) da Polícia Militar do Ceará (PMCE) fez a segurança da festa. Além de combater assaltos ou furtos, estava em alerta para casos de intolerância religiosa, considerado crime pela lei n.º 7.716/1989. 

Festa de Iemanjá exalta a tradição ancestral da Umbanda

Mais do que uma celebração anual, a Festa de Iemanjá representa as tradições e a ancestralidade de um povo. É ainda um momento em que “pode-se expandir, mostrar ao público a fé”, afirma mãe Dulcimar, do Centro de Umbanda São Jorge Guerreiro. Os festejos são considerados Patrimônio Imaterial de Fortaleza desde 2017. 

A religião é originalmente ligada aos iorubás, um povo que habitava a África Ocidental, nos territórios atuais de Togo e Nigéria. Foi trazida ao Brasil pelos escravizados, que encontraram nela sua forma de resistência.

Essa resistência é bem salientada pela mãe Tecla do Caboclo de Beira-Mar. Ela relembra quando começou a frequentar os festejos, aos cinco anos de idade, na década de 1960.

“Quando eu tinha cinco anos, participava com a minha mãe, em uma mata escura, pois éramos presos por realizar nossos rituais”, disse.

Outra representante da persistência desse ato é mãe Mocinha, de 82 anos. Nesta edição, ela acompanhou o carro com a imagem de Iemanjá até o local da praia onde ela seria exposta, como fez nos 60 anos em que esteve na Umbanda.

A tradição também é percebida na forma como os terreiros se expressam nas areias da praia. Cada grupo montou seu espaço, com suas imagens e oferendas, e apresentou cantos e danças em homenagem a Iemanjá, principalmente com bebidas e alimentos. 

Esses grupos cercados remontam a tradições da década de 1960 e 1970, as quais costumavam ter a mesma forma de organização na festa. Ainda, no período da manhã não houve oferendas no mar. O momento estava marcado mais para o fim da tarde. 

Antonio Wesley Lira de Sousa, 33, participa da Festa de Iemanjá há mais de 20 anos. Ele explica que cada oferenda dedicada à orixá corresponde a um pedido de seus filhos e revela a importância do momento para ele.

"É um momento de agradecer e de relembrar os nossos antepassados, então é uma alegria enorme estar aqui", afirma. 

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