De 2014 a 2024, o curso de Direito foi a graduação que registrou o maior número de estudantes ingressos no Ceará, considerando instituições públicas e privadas. Foram 103.524 alunos iniciando nessa formação na última década no Estado, sendo 95.618 (92%) desses em entidades particulares.
Dados constam no Censo da Educação Superior 2024, produzido pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) e divulgado ontem, 22.
Conforme levantamento, depois do curso de Direito, as graduações que mais tiveram estudantes ingressos no Ceará ao longo do período analisado foram: Administração (67.684), Enfermagem (56.061), Psicologia (48.404), Contabilidade (36.649), Pedagogia (32.772), e Fisioterapia (29.299).
Foram consideradas no balanço entidades que ofertam formações do tipo, como universidades, centros universitários, faculdades, Institutos Federais (IF's) e Centros Federais de Educação Tecnológica (Cefet's).
Analisando somente 2024, Direito também aparece em primeiro lugar no ranking dos dez maiores cursos em números de ingressantes, com 8.261 ingressos. Desses, 7.556 (91%) entraram no curso por meio de entidades particulares, o que mostra novamente uma prevalência do ensino privado na área.
Vanessa Oliveira, presidente da Comissão de Educação Jurídica da Ordem dos Advogados do Brasil - Secção Ceará (OAB-CE), pontua que a procura pela formação pode acontecer em razão do curso ser visto como "versátil", "abrindo muitas portas" e permitindo atuação não só na advocacia.
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Mas também em nichos como o Direito Digital e o Compliace, por exemplo, além da possibilidade de concursos públicos.
Advogada destaca também que entidades como a Ordem dos Advogados têm estimulado "debates mais atuais", tornando o curso "mais atrativo". Em relação ao predomínio das entidades particulares na análise de ingressos, ela pontua como um dos possíveis motivos para isso a "interiorização do ensino".
"Nos últimos anos, algumas faculdades privadas se instalaram em cidades médias e pequenas, levando o curso de Direito para perto dos estudantes que antes precisavam se deslocar até Fortaleza, se distanciar de seus familiares (...) Isso democratiza o acesso e facilita a escolha pelo curso", explica ainda.
"Outro ponto é que os cursos de direito no setor privado tem tentado tornar os seus currículos mais próximos da realidade social e profissional. Então, há uma identificação também dos estudantes nesse setor privado, mas, sobretudo, essa procura maior é justamente por esse aspecto objetivo, pelo número de vagas ser um número bem maior no setor privado", destaca ainda Oliveira.
Sobre o mercado de trabalho, a advogada destaca que "o mercado jurídico cearense enfrenta um cenário desafiador", mas frisa que há uma demanda crescente em novas frentes".
"Empresas e órgãos públicos precisam de profissionais preparados para lidar com temas como compliance, proteção de dados, sustentabilidade, governança, projetos de cidades inteligentes que envolvem toda questão de mobilidade urbana, tecnologia, acessibilidade, mas também deixando claro que os ramos, digamos assim, tradicionais, como o direito do trabalho, direito da família (...) continuam", diz.
Entre as categorias públicas apresentadas no Censo da Educação Superior, a rede federal foi a que apresentou o maior crescimento no número de matrículas em cursos de graduação do Ceará ao longo dos últimos dez anos. Em 2024, o número de inscrições foi de 52.892, quando em 2010 o total foi 29.530.
Do total de alunos que foram matriculados nesse período em instituições federais do Estado, 24,81% foram inscritos em formações da área da Educação; 24,56% na área de Engenharia, Produção e Construção; 10,45% na área de Saúde e Bem Estar; 10,7% na área de Negócios, Administração e Direito, entre outras.
No mesmo intervalo de tempo analisado, a rede estadual registrou crescimento do número de matrículas, indo de 30.900 inscrições em 2012 para 31.166 em 2024. Mais da metade dos alunos inscritos em instituições estaduais (60,67%) foram matriculados em formações ligadas a área da Educação.
Índices seguem cenário nacional. Censo mostra que a rede federal foi a categoria pública que mais teve aumento de matrículas no Brasil — aumento de 11,7%. Já a rede estadual teve aumento de 8,3%. Além disso, a rede municipal registrou queda no número de matrículas de 51,2%.
Durante apresentação dos dados, Manuel Palácios, presidente do Inep, falou sobre desafios enfrentados no ensino do Brasil. "Há um plano para a educação brasileira. O grande desafio é acelerar o ritmo e orientar expansão da educação superior em sintonia com o Plano Nacional de Educação", destacou.