A estudante Carla Mirela Olímpio, 18, é apaixonada pela história do Ceará. Foi o interesse pela memória local que guiou a jovem ao Cemitério São João Batista, no Centro da Capital, na noite da última sexta-feira, 10, onde cerca de 100 pessoas aguardavam o início do projeto “Assombros e Memórias”.
A ação, uma parceria entre o grupo Fortaleza Necrópole e o influenciador Samuel Jacinto, promove uma sala de aula a céu aberto no espaço centenário. O diferencial? As histórias, que englobam figuras marcantes do Estado, acontecem à noite.
“Eu gosto muito de visitar lugares antigos, principalmente aqui pelo Centro. Então, vir aqui, vivenciar a história que aconteceu e tudo mais, para mim é gratificante”, comenta a estudante.
Ela aponta, com interesse, na direção do túmulo de Thomaz Pompeu de Sousa Brasil, o Senador Pompeu. “Eu gosto da história da família Pompeu, porque tem várias coisas, e eu queria muito ver”, diz.
Antes da consolidação da iniciativa “Assombros e Memórias”, durante o mês de outubro, a ideia de aulas interativas partiu de uma inquietação do professor de História Sandoval Matoso, um dos organizadores do projeto.
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“Desde 2021, eu começo a desenvolver um trabalho de ocupação do Centro, contando a História de uma maneira diferente, experimental, sensorial, a partir dos cinco sentidos”, explica Matoso. “As pessoas têm muita dificuldade de reconhecer que Fortaleza vai além da praia, inclusive nós fortalezenses”.
A experiência começa em caminhadas pelo bairro histórico da cidade, mas logo evolui — “Depois de um tempo, eu pensei: ‘Por que não o cemitério?’”. Em seguida, as visitações, realizadas no período da manhã, chamaram a atenção do público.
“De certa forma, nós ocidentais temos uma relação muito intensa e estranha com a morte, com o transcendente. É um povo muito espiritualizado, mas quando fala da morte, quando fala desses espaços, gera um bloqueio”, aponta o historiador, que vê no projeto uma chance de lançar novos questionamentos sobre a temática.
A decisão foi certeira: o historiador e filósofo Thiago Roque, que co-organiza as visitações, ressalta uma procura intensa nas redes sociais, o que levou à adição de uma data extra. “Na atividade de hoje, eu tive que responder acho que mais de 250 pessoas pedindo vaga”, diz.
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Quem consegue garantir um lugar entre os visitantes, não esconde a celebração e faz questão de se vestir a caráter. É o caso dos primos Larissa, 30, e Dalton Duarte, 28, que participam do projeto pela primeira vez.
“Eu já tinha essa capa na minha casa, e pensei: ‘Poxa, eu tô indo no cemitério, eu quero vestir uma capa para eu particularmente me sentir mais seguro’. Eu também queria vir com a minha cabeça coberta, mas só tinha esse daqui”, explica Dalton, apontando para o chapéu de couro nordestino que está usando.
Já Larissa, trajando uma blusa com a estampa da personagem Wandinha Addams, se revela ansiosa para conhecer a história dos “milagreiros” do Cemitério São João Batista.
Prestes a completar 160 anos em 2026, a necrópole é conhecida por abrigar, entre políticos, escritores e outras figuras históricas, o túmulo da “Menina Lúcia”. A criança morreu em 1917, aos 2 anos de idade, e seu lugar de descanso se transformou em ponto de visitação e agradecimentos por graças alcançadas.
O túmulo da pequena milagreira, decorado por brinquedos e doces, é uma das paradas na visitação. Ao chegarem ao local, balinhas são distribuídas para que o público, em sinal de respeito, mantenha a tradição atrelada à imagem de Lúcia.
Para Samuel Jacinto, co-organizador do projeto “Assombros e Memórias”, a recepção dos visitantes foi uma surpresa bem-vinda. Ele destaca a curiosidade e o interesse pela cultura do Estado como parte da força-motriz que impele os fortalezenses a compartilharem a visitação nas redes sociais.
“Já tem gente querendo fazer aniversário aqui, acredita? Uma senhora mandou mensagem para mim: ‘Ei, minha filha/sobrinha/neta (não lembra a relação exata) está comemorando o aniversário de 16 anos e a gente queria ir aí comemorar o aniversário dela’”, diz Jacinto.
Entre as recomendações gerais, antes da visita guiada iniciar, uma delas é categórica e define o tom da ocasião: o público está livre para fazer registros fotográficos, desde que mantenham uma postura respeitosa e evitem comentários jocosos.
Nos pontos de escuridão, quando as lanternas do celular estão fixadas em um túmulo ou jazigo e a atenção se desprende das explicações, o visitante desavisado pode se surpreender com o movimento dos pequenos “vultos” felinos ao redor das lápides, acompanhando o grupo à distância.
A necrópole abriga ainda outras personalidades históricas que marcaram a história cearense, entre elas:
As datas disponibilizadas para as visitas são compartilhadas na rede social (Instagram: @fortalezanecropole) do projeto Fortaleza Necrópole. O valor de entrada é R$ 75.
Até o momento, a iniciativa "Assombros e Memórias" permanece limitada ao mês de outubro, mas um alinhamento é previsto para a continuidade do projeto, considerando a recepção positiva do público. As próximas visitas guiadas acontecem nos dias 17 e 24 de outubro, com vagas limitadas.
Projeto chama atenção do público
Quem consegue garantir um lugar entre os visitantes, não esconde a celebração e faz questão de se vestir a caráter. É o caso dos primos Larissa, 30, e Dalton Duarte, 28, que participam do projeto pela primeira vez.
"Eu já tinha essa capa e pensei: 'Poxa, eu tô indo ao cemitério, eu quero vestir uma capa para eu particularmente me sentir mais seguro'. Eu também queria vir com a minha cabeça coberta, mas só tinha esse daqui", explica Dalton, apontando para o chapéu de couro que estava usando.
Já Larissa, trajando uma blusa com a estampa da personagem Wandinha Addams, se revela ansiosa para conhecer a história dos "milagreiros" do Cemitério São João Batista.
Prestes a completar 160 anos em 2026, a necrópole é conhecida por abrigar, entre políticos, escritores e outras figuras históricas, o túmulo da "Menina Lúcia". A criança morreu em 1917, aos 2 anos de idade, e seu lugar de descanso se transformou em ponto de visitação e agradecimentos por graças alcançadas.
O túmulo da pequena milagreira, decorado por brinquedos e doces, é uma das paradas na visitação. Ao chegarem ao local, balinhas são distribuídas para que o público, em sinal de respeito, mantenha a tradição atrelada à imagem de Lúcia.
Para Samuel Jacinto, co-organizador do projeto "Assombros e Memórias", a recepção dos visitantes foi uma surpresa bem-vinda. Ele destaca a curiosidade e o interesse pela cultura do Estado como parte da força-motriz que impele os fortalezenses a compartilharem a visitação nas redes sociais: "Já tem gente querendo fazer aniversário aqui, acredita?".
Entre as recomendações gerais, antes da visita iniciar, uma delas é categórica e define o tom da ocasião: o público está livre para fazer registros fotográficos, desde que mantenham uma postura respeitosa e evitem comentários jocosos.
Mais personalidades
Francisco José do Nascimento (conhecido como Dragão do Mar ou Chico da Matilde);
Quintino Cunha;
Bernardo Duarte Brandão (Barão
do Crato);
Caio Prado;
Frei Tito de
Alencar Lima;
Virgílio Távora;
Demócrito Rocha;
Natércia Campos;
João Nogueira Jucá.
Serviço
As datas das visitas são compartilhadas na rede social
(Instagram:
@fortalezanecropole)
do projeto Fortaleza Necrópole.
Entrada: R$ 75.
As próximas visitas guiadas ocorrem hoje, 17, e no dia 24 de outubro, com vagas limitadas.