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As marcas do tabagismo
Ciência e Saúde

As marcas do tabagismo

Fator de risco para doenças crônicas não transmissíveis, o tabagismo não atinge apenas o fumante. Pode causar riscos até sem o cigarro estar aceso
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O tabagismo é responsável por mais de dois terços das mortes por câncer de pulmão no mundo.  (Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil)
Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil O tabagismo é responsável por mais de dois terços das mortes por câncer de pulmão no mundo.

Considerado uma pandemia pela Organização Mundial da Saúde (OMS), o tabagismo — dependência de nicotina — está associado a cerca de outras 50 doenças, como diferentes tipos de câncer, asma, enfisema pulmonar, bronquite crônica, acidente vascular cerebral (AVC) e hipertensão arterial. Além disso, ele tem relação com o agravamento da Covid-19, o que motivou o tema do Dia Nacional de Combate ao Fumo em 2020, comemorado ontem, 29.

O tabagismo tem impactos tanto na saúde quanto na economia. No Brasil, ele está relacionado à morte de 428 pessoas por dia, e 156.216 óbitos poderiam ser evitados a cada ano. Enquanto isso, o custo por despesas médicas e perda de produtividade atribuíveis ao tabagismo passa de R$ 56,8 bilhões. Os dados são do Instituto de Efetividade Clínica e Sanitária (IECS), com dados de 2015 e em relação a pessoas com mais de 35 anos.

A doença, porém, não atinge apenas quem fuma ativamente. Também existe o tabagismos passivo — quando não-fumantes inalam a fumaça de derivados do tabaco — e terciário — que não precisa nem do cigarro aceso. "As substâncias do cigarro se depositam nos móveis, no tapete, no carro, e depois se desprendem, fazem reações químicas com a poeira domiciliar e liberam substâncias cancerígenas e tóxicas", explica o pneumologista Ricardo Meirelles, coordenador da Clínica de Cessação do Tabagismo do Americas Centro de Oncologia Integrado (ACOI).

No caso de gestantes, sejam elas fumantes ativas ou passivas, o médico aponta a possibilidade de o bebê nascer com baixo peso. "O fumo passivo é extremamente prejudicial, principalmente para as crianças. As que moram com fumantes têm maior risco para asma e para infecções respiratórias. E as grávidas têm tantas chances de parto pré-maturo quanto se elas mesmas fumassem", acrescenta Christiane Takeda, infectologista do Hapvida e do Hospital São José (HSJ).

Coordenadora do Programa de Controle do Tabagismo do Hospital de Messejana, a pneumologista Penha Uchoa explica que os principais motivos que levam as pessoas a buscarem o serviço são o medo de piorar o prognóstico de doenças já diagnosticadas e o receio de ter, no futuro, alguma doença. Além disso, há a exclusão social, que "os incomoda bastante". "Recebemos muitos avós que querem ser abraçados pelos netos, que querem que os netos se orgulhem deles e que sigam bons exemplos de vida", afirma.

A dificuldade vivenciada por quem decide parar de fumar passa por questões fisiológicas, comportamentais e psicológicas relacionadas à dependência à nicotina. Do ponto de vista fisiológico, uma barreira é a abstinência, que ocorre quando se para de fornecer a nicotina para os receptores ligados a mecanismos de liberação de substâncias químicas que proporcionam sensação de prazer e bem-estar. Surgem, então, sintomas como irritação, falta de concentração, dor de cabeça, ansiedade e intensa vontade de fumar.

Já do ponto de vista psicológico, o ato de fumar está relacionado ao alívio do estresse e da tensão. Além disso, o cigarro está associado a diferentes situações cotidianas e passa a fazer parte da vida do fumante. "É o hábito de fumar após as refeições, após tomar café, falando ao telefone, ao computador ou dirigindo", exemplifica o Meirelles.

Desde 2002, o tratamento para parar de fumar está incluso no Sistema Único de Saúde (SUS). As iniciativas para controle do tabaco no País tiveram início nos anos 1980, incluindo leis que proíbem o fumo em local fechado e campanhas. Nos últimos 14 anos, o tabagismo no Brasil caiu 37,6%, conforme aponta pesquisa por telefone sobre doenças crônicas e fatores de risco (Vigitel) 2019.

 

Impacto do cigarro

No mundo

Segundo a Organização Pan-Americana da Saúde (Opas), o tabaco mata até metade de seus usuários

Mais de 8 milhões de pessoas morrem a cada ano por causa do tabagismo
- Dessas mortes, mais de 7 milhões são resultado do uso direto do tabaco
- Cerca de 1,2 milhão são consequência do fumo passivo
- A cada ano, 65 mil crianças morrem de doenças atribuíveis ao fumo passivo

No Brasil

428 mortes por dia causadas pelo tabagismo

156,2 mil mortes anuais poderiam ser evitadas

R$ 56,9 bilhões são perdidos a cada ano por despesas médicas e perda de produtividade

12,6% de todas as mortes no País são atribuíveis ao tabagismo

Das mortes anuais causadas pelo uso do tabaco:

- 34,9 mil correspondem a doenças cardíacas
- 31,1 mil por doença pulmonar obstrutiva crônica
- 26,6 mil por outros cânceres
- 23,7 mil por câncer de pulmão
- 17,9 mil por tabagismo passivo
- 10,9 mil por pneumonia
- 10,8 mil por acidente vascular cerebral (AVC)

37,6% foi a queda do tabagismo no País, nos últimos 14 anos

Fumo passivo

- Em adultos: provoca doenças cardiovasculares e respiratórias
- Nos bebês: pode causar morte súbita
- Em mulheres grávidas: provoca baixo peso do bebê no nascimento

Impactos no organismo

O tabagismo é fator de risco para:

- leucemia mielóide aguda

- câncer de bexiga

- câncer de pâncreas

- câncer de fígado

- câncer do colo do útero

- câncer de esôfago

- câncer de rim e ureter

- câncer de laringe (cordas vocais)

- câncer na cavidade oral (boca)

- câncer de faringe (pescoço)

- câncer de estômago

- câncer de cólon e reto

- câncer de traquéia, brônquios e pulmão

- tuberculose

- infecções respiratórias

- úlcera gastrintestinal

- impotência sexual

- infertilidade em mulheres e homens

- osteoporose

- catarata

- acidentes cerebrovasculares

- ataques cardíacos mortais

Os produtos de tabaco que não produzem fumaça também estão associados ou constituem fatores de risco para o desenvolvimento de:

- câncer de cabeça, pescoço, esôfago e pâncreas

- patologias buco-dentais

O que muda ao parar de fumar:

Após 20 minutos, a pressão sanguínea e a pulsação voltam ao normal;
Após 2 horas, não há mais nicotina circulando no sangue;
Após 8 horas, o nível de oxigênio no sangue se normaliza;
Após 12 a 24 horas, os pulmões já funcionam melhor;
Após 2 dias, o olfato já percebe melhor os cheiros e o paladar já degusta melhor a comida;
Após 3 semanas, a respiração se torna mais fácil e a circulação melhora;
Após 1 ano, o risco de morte por infarto do miocárdio é reduzido à metade;
Após 10 anos, o risco de sofrer infarto será igual ao das pessoas que nunca fumaram.

Fontes:
Instituto Nacional de Câncer (Inca)
Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS)
Americas Centro de Oncologia Integrado (ACOI)
Pesquisa Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel) 2019

PROGRAMA DE CONTROLE AO TABAGISMO

Tratamento com equipe multidisciplinar para pacientes que buscam parar de fumar. Em meio à pandemia de Covid-19, os atendimentos estão acontecendo de forma individual.

Onde: Hospital de Messejana Dr. Carlos Alberto Studart (avenida Frei Cirilo, 3480 - Messejana)

Mais informações: (85) 3101 4062

 

ASSISTENTE VIRTUAL PARA PARAR DE FUMAR

Ferramenta da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC) que utiliza inteligência artificial para ajudar fumantes em diferentes estágios que querem parar de fumar.

Onde: site da SBC 

 

INSPIRA AÇÃO NA REDE

Canal do projeto de extensão Inspira Ação, do Hospital Universitário Walter Cantídio (HUWC), no YouTube traz dicas e orientações para quem deseja parar de fumar. Já foram abordados os benefícios obtidos após parar de fumar, exercícios de relaxamento, tabagismo e risco de Covid-19, entre outros temas.

Onde: Canal Inspira Ação na Rede

Mais informações: inspira.acao.ufc@gmail.com

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