Considerada árvore símbolo do Ceará, a carnaúba exerce papel importante no Estado, tanto no aspecto ecológico quanto na economia. A abundância dessa planta também se destaca no Piauí e no Rio Grande do Norte. Inteiramente aproveitada, da raiz às folhas, ela pode ser utilizada para atividades como produção de cera, paisagismo e artesanato.
Do ponto de vista ecológico, ela atua em processos bióticos e abióticos do ecossistema em que está presente. Nos bióticos, segundo Rafael Costa, professor do departamento de Biologia e da pós-graduação em Ecologia e Recursos Naturais da Universidade Federal do Ceará (UFC), ela fornece alimentos para diferentes animais.
"Toda a produção de biomassa das carnaúbas liberada no ambiente e decomposta ao longo do ciclo de vida dessas palmeiras é uma parte importante do ciclo de elementos químicos nesses ecossistemas", explica o professor, em relação à contribuição nos processos abióticos.
Por crescer ao longo de rios e de cursos d’água, essa palmeira também ajuda a evitar o assoreamento dos rios e a controlar a erosão do solo. Professor do curso de Ciências Biológicas e do Mestrado Acadêmico em Ciências Naturais da Universidade Estadual do Ceará (Uece), Oriel Herrera Bonilla lamenta que "ninguém se preocupa muito" a carnaúba.
O pesquisador também alerta que, aos poucos, ela está desaparecendo. Os motivos elencados por ele são tanto a presença da unha-do-diabo — uma planta nativa de Madagascar que cresce em volta da carnaúba, estrangulando-a e impossibilitando o acesso à luz solar —, e a destruição de carnaubais para implantar outras atividades sem o devido planejamento. "Nada contra essas atividades, (mas é necessário) maior fiscalização, políticas públicas e incentivos para preservar essa importantíssima planta."
Afro Negrão Júnior, presidente do Memorial Carnaúba, em Jaguaruana, também alerta para a degradação dos carnaubais. "Nos últimos dez anos, a carnaúba entrou na faixa de um acelerado desmatamento por conta de implantação de outras culturas, como carcinicultura, rizicultura, fruticultura e outras culturas de sobrevivência, além dos crescentes projetos habitacionais e loteamentos nas zonas rurais. Muitos projetos realizados não tinham as devidas licenças ambientais necessárias, logo as compensações ambientais não foram realizadas. Ao longo desses anos, muito pouco foi plantado", afirma.
O Memorial Carnaúba foi fundado há dez anos e tem o objetivo de divulgar, conscientizar, promover e valorizar a carnaúba nos aspectos social, artístico, cultural, ambiental e econômico. "Para nós, a carnaúba um símbolo de resistência", afirma o presidente da instituição.
Dicas para controlar a "unha-do-diabo"
Limpar regularmente o carnaubal, retirando a espécie invasora por meio da destoca de raízes, especialmente quando a planta está jovem;
Caso a infestação seja mais severa, deve-se realizar ação mais forte e concentrada de controle no primeiro ano e acompanhar nos anos seguintes;
É sempre importante recolher e queimar os frutos e as sementes.
Estratégias
Identifique as áreas infestadas pela unha-do-diabo;
As infestações menores e as periféricas devem ser controladas primeiro;
Também deve-se priorizar infestações em áreas de plantio e de criação de animais, assim como aquelas que estão próximo a rios e locais de vento forte.
Quando
A época mais indicada para controle é após o pico das chuvas, pois é possível eliminá-la antes da produção de folhas, frutos e sementes.
Método
Avalie os recursos disponíveis, como mão de obra, ferramentas e maquinaria;
O controle com mão de obra braçal, com ferramentas de corte, deve considerar as condições de acesso das pessoas encarregadas;
Uma das vantagens desse método é que as outras plantas nativas podem ser poupadas;
Tratores podem ser utilizados especialmente quando o carnaubal é mais espaçado;
A máquina pode ser usada para abrir caminho ou retirar toda a planta. Porém, algumas plantas nativas também acabam sendo mortas no processo;
É importante evitar o controle da praga com o uso do fogo, pois além dos possíveis prejuízos ao solo há risco de incêndios florestais;
Caso esse método seja escolhido, é imprescindível ter equipamentos e pessoas treinadas para o processo, assim como as autorizações ambientais cabíveis.
Fonte: Associação Caatinga (disponível em: https://youtu.be/GtJF4ATZY-M)