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68 espécies exóticas que invadiram e afetam a biodiversidade do Ceará
Ciência e Saúde

68 espécies exóticas que invadiram e afetam a biodiversidade do Ceará

| Ecossistemas | De mosquitos a cães e gatos, seres invasores foram introduzidos no Estado e no País por ação humana e apresentam riscos
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Abelha-africana não é nativa do Brasil (Foto: Pixabay)
Foto: Pixabay Abelha-africana não é nativa do Brasil

O Ceará tem, atualmente, pelo menos 68 espécies classificadas como exóticas invasoras. A informação é da Base de Dados Nacional de Espécies Exóticas Invasoras, do Instituto Hórus, que desde 2004 coleta informações sobre estes seres.

Apesar do que o nome pode indicar, "espécies exóticas invasoras" não são, necessariamente, seres diferentes daqueles a que estamos habituados. São, em suma, fauna ou flora inseridas no ecossistema local por ação humana e que, portanto, apresentam diferentes riscos à biodiversidade local. Isso acontece porque, muitas vezes, nos locais onde essas espécies estão inseridas elas não possuem predadores ou doenças que regulam o crescimento da população.

"Quando ela (a espécie) se reproduz de forma desenfreada, ela passa a ocupar o espaço que outras espécies, que são nativas daquele local, estariam ocupando, e ela passa a dominar esse sistema, e isso vai causar uma redução da diversidade," explica a ecóloga vegetal Anna Abrahão.

É o caso do Aedes albopictus, capaz de transmitir arboviroses como a dengue. O mosquito-tigre asiático e foi disseminado no Brasil a partir da década de 1985. É parente do Aedes aegypti.

Comida típica no Nordeste, a tilápia (Oreochromis niloticus), é outro exemplo. Nativa de rios e lagos africanos, esta espécie foi introduzida pela primeira vez para cultivo na Região na década de 1930. Além de serem peixes agressivos e predadores de espécies nativas, a criação deles utiliza ração rica em fósforo, que altera o ambiente aquático e tem impacto ambiental massivo, segundo a Classificação de Impacto Ambiental para Taxa Alienígena (Eicat).

A questão não se limita à fauna. Como explica Anna, plantas como dendê, algarobeira e unha-do-diabo também apresentam ameaças à biodiversidade. No caso da primeira, cientificamente chamada Prosopis juliflora, a ecóloga coloca que esta planta "tem raízes muito profundas que podem chegar ao lençol freático, absorver a água e secar aquele solo onde ela está crescendo". Um risco dentro de um bioma seco como a Caatinga.

Da mesma forma, espécies nativas cearenses também podem se tornar invasoras em outras regiões. Um dos exemplos disso é a unha-de-gato (Uncaria tomentosa), muito usada como cerca-viva, que foi reproduzida em diferentes regiões e entrou para a lista dos invasores no Espírito Santo, onde o bioma predominante é a Mata Atlântica.

Os 68

"invasores" do Ceará

Mosquito-tigre asiático (Aedes albopictus)

Craca (Amphibalanus amphitrite)

Abelha-africana (Apis mellifera)

Capim-panasco (Aristida adscensionis)

Jaca (Artocarpus heterophyllus)

Ascidia (Ascidia sydneiensis)

Nim (Azadirachta indica)

Peixe Beta (Betta splendens)

Piracanjuva (Brycon hilarii)

Algodão-de-seda (Calotropis gigantea)

Flor-de-seda (Calotropis procera)

Cachorro (Canis familiaris)

Cabra (Capre hircus)

Capim-búfalo (Cenchrus ciliaris)

Siri-bidu (Charybdis hellerii)

Tucunaré (Cichla monoculus)

Berbigão (Corbicula largillierti)

Unha-de-moça (Crysptostegia grandiflora)

Trepadeira (Cryptostegia mandagascariensis)

Carpa (Cuprinus carpio)

Tunicado de crosta branca (Didemnum perlucidum)

Caracol (Eualete tulipa)

Gato (Felis catus)

Lagartixa (Hemidactylus mabouia)

Cambotá (Hoplosternum littorale)

Bagre-do-canal (Ictalurus punctatus)

Beijo-de-frade (Impatiens walleriana)

Ostra (Isognomon bicolor)

Mexilhão (Leiosolenus aristatus)

Acácia-palida (Leucaena leucocephala)

Caramujo-gigante-africano (Lissachatina fulica)

Licornia diadema

Licornia jolloisii

Azulão (Macrobrachium rosenbergii)

Mangueira (Mangifera indica)

Melanóide (Melanoides tuberculata)

Capim-bandeira (Melinis repens)

Briozoário (Membraniporopsis tubigera)

Unha-de-gato (Mimosa caesalpiniifolia)

Melão-de-são-caetano (Momordica charantia)

Camundongo (Mus musculus)

Charuteira (Nicotiana glauca)

Ofiúro (Ophiothela mirabilis)

Tilápia (Oreochromis niloticus)

Pardal (Passer domesticus)

Camarão-branco (Penaeus vannamei)

Perna viridis

Água-viva (Phyllorhiza punctata)

Algarobeira (Prosopis juliflora)

Copépode (Pseudodiaptomus trihamatus)

Goiabeira (Psidium guajava)

Peixe-leão (Pterois volitans)

Piranha-vermelha (Pygocentrus nattereri)

Ratazana (Rattus rattus)

Mamona (Ricinus communis)

Briozoário (Schizoporella errata)

Senecio (Senecio madagascariensis)

Octocoral (Stragulum bicolor)

Javali (Sus scrofa)

Azeitona-da-terra (Syzygium cumini)

Jambo-rosa (Syzygium malaccense)

Ipê-mirim (Tecoma stans)

Amendoeira (Terminalia catappa)

Gourami (Trichopodus trichopterus)

Coral-sol (Tubastraea tagusensis)

Briozoário (Watersipora subtorquata)

Tucunaré-amarelo (Cichla kelberi)

Tambaqui (Colossoma macropomum)

 

FORTALEZA-CE, BRASIL, 23-03-2023: fATOS ABANDONADOS NO paRQUE DO cOCÓ E pARQUE aDAHIL bARRETO. (fOTO: SAMUEL sETUBAL)
FORTALEZA-CE, BRASIL, 23-03-2023: fATOS ABANDONADOS NO paRQUE DO cOCÓ E pARQUE aDAHIL bARRETO. (fOTO: SAMUEL sETUBAL)

Até cães, gatos e cabras são espécies exóticas no Ceará

Conforme explica Sílvia Ziller, engenheira ambiental e fundadora do Instituto Hórus, o conceito de exótico não tem a ver com a divisão política, mas com os ecossistemas de onde essas espécies vieram e nos quais estão inseridas.

Além disso, a denominação "exótica", apesar de remeter ao incomum e menos frequente, não exclui a possibilidade de que animais e plantas bastantes conhecidos integrem a lista. É o caso dos cães (Canis lupus familiaris) e gatos domésticos (Felis catus), ostras (Isognomon bicolor), camundongos (Mus musculus) e pardais (Passer domesticus), que não têm origem no território cearense, mas foram deslocados para o estado por meio da ação humana.

Apesar de a presença de animais domésticos entre as espécies invasoras causar incômodo a alguns tutores, Sílvia explica que "um gato ou um cachorro, quando está na casa do seu dono, ele não é problema nenhum." Do contrário, o que causa os impactos ambientais é o abandono destes animais ou a falta de controle dos ambientes nos quais eles circulam.

Estes animais se tornam um risco à fauna nativa, por exemplo, quando vivem na natureza em decorrência do abandono ou quando não são impedidos pelos seus tutores de caçarem outros seres.

Outros animais que têm um impacto considerável sobre os ecossistemas são as cabras (Capra hircus). Natural de áreas montanhosas e rochosas, esta espécie é considerada invasora no Ceará, mas não foi aqui que a sua presença causou as piores consequências.

Como conta a engenheira ambiental, as cabras tiveram um impacto considerável sobre a vegetação nativa de algumas ilhas oceânicas quando, durante as navegações, eram deixadas nestes locais como reservas de alimento em casos de naufrágio.

"A preocupação maior que se tem com as cabras não é no sistema de produção, é nesses ambientes naturais onde elas foram largadas e as populações crescem porque nesses lugares não tem nenhum tipo de predador", coloca. No Brasil, cabras são consideradas espécies de alto risco.

 

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