Ter filhos é desejo de muitos, mas para cerca de 17% da população mundial, é algo difícil de ocorrer por vias naturais. Dado vem de relatório da Organização Mundial da Saúde (OMS), que mostra que um a cada seis adultos no mundo não consegue conceber ao longo da vida. Neste mês, em que se celebra a Conscientização da Infertilidade, a estatística joga luz sobre estigmas a serem quebrados e sobre a necessidade de políticas públicas que amparem indivíduos afetados pela infertilidade.
O levantamento, publicado pela entidade há cerca de dois meses, analisa como a infertilidade cresceu entre os anos de 1990 e 2021 em todo o planeta. Balanço mostra que a prevalência da doença ao longo da vida foi de 17,8% em países de alta renda e de 16,5% naqueles considerados de baixa e média renda.
Estatística nacional também chama atenção. O balanço mais recente da Sociedade Brasileira de Reprodução Assistida (SBRA) sobre o assunto foi divulgado em 2019 e aponta que cerca de 8 milhões de adultos no Brasil podem ser inférteis.
Para identificar a condição, o tempo é um dos primeiros método utilizados. A OMS define como inférteis aqueles casais que estão há um ano mantendo relações sexuais sem fazer uso de métodos contraceptivos e que ainda assim não conseguem engravidar.
O recomendado pela entidade é que, após esse período, os casais procurem ajuda médica especializada. A depender de cada paciente, a infertilidade pode ser revertida por meio de cirurgias ou outros procedimentos, existindo ainda a possibilidade de optar por técnicas de reprodução humana.
Apesar das estimativas realizadas, identificar o número de pessoas inférteis no mundo passa pelo desafio do diagnóstico. Conforme o urologista Bruno Hallan, há estigmas e preconceitos sobre a condição que levam pessoas, principalmente homens, a não buscarem ajuda médica, causando subnotificações.
Entre os mitos que rondam o assunto está o de que a doença afeta mais mulheres do que homens. O especialista, que atua com reprodução humana na Sollirium Health Group, explica que, na verdade, a estimativa aproximada é de que a condição seja ligada 50% a fatores femininos e 50% a masculinos.
No entanto, a infertilidade pode parecer mais comum entre mulheres devido ao fato de homens terem uma maior resistência a buscar ajuda médica. Segundo a professora Beatriz Duarte, do departamento de morfologia da Faculdade de Medicina, da Universidade Federal do Ceará, essa resistência vem de um preconceito alimentado pela falta de informação.
"O preconceito ou medo dos homens de receberem um diagnóstico de infertilidade vem diminuindo. Mas (eles) ainda apresentam maior resistência em enfrentar um diagnóstico de infertilidade que, muitas vezes, por falta de conhecimento, pode ser confundido com a falta de virilidade, por exemplo", diz especialista.
Bruno Hallan defende a necessidade de ser criada uma cultura que incentive a busca por acompanhamento médico de forma regular, principalmente nos homens.
"Deveria ocorrer a transição do cuidado do período da infância para a adolescência e início da vida adulta com abordagem de assuntos de cunho sexual e reprodutivo. Como não há essa cultura estabelecida, os homens em idade reprodutiva não costumam realizar acompanhamento regular de sua fertilidade", afirma.
"As mulheres têm maior assiduidade às consultas desde a adolescência, sendo comum o início da investigação de infertilidade pelo fator feminino. Em alguns casos, há resistência do homem à primeira consulta, por vergonha ou por desconhecer como o fator masculino contribui para a infertilidade conjugal", completa.