Um levantamento do Ministério da Saúde revela um quadro alarmante: o número de amputações de membros inferiores causadas pelo diabetes no Brasil permanece em um patamar elevado.
Só em 2023, o Sistema Único de Saúde (SUS) registrou 11.326 procedimentos desse tipo. Em 2024, foram 5.710 casos contabilizados apenas no primeiro semestre. A grande maioria dessas amputações é resultado direto de uma complicação grave conhecida como "pé diabético".
A doença, decorrente da falta de controle da doença, causa úlceras e infecções nos pés devido a problemas crônicos de circulação (Doença Vascular Periférica) e danos nos nervos (Neuropatia Diabética).
Segundo a Federação Internacional de Diabetes (IDF), o Brasil ocupa hoje a sexta posição no ranking global de incidência, com 16 milhões de pessoas diagnosticadas entre 20 e 79 anos. O cenário fica grave quando, mundialmente, 589 milhões de pessoas vivem com diabetes, o que equivale a um em cada nove indivíduos. Em 2024, o Brasil somou 111 mil mortes relacionadas à doença.
Para a médica Ana Terezinha Guillaumon, mestre vascular e membro da Sociedade Brasileira para a Qualidade do Cuidado e Segurança do Paciente (Sobrasp), o alto número de amputações é um indicativo de falha na atenção primária de saúde.
"O avanço do diabetes e de suas complicações exige atenção imediata do sistema de saúde. A Sobrasp alerta para o impacto dessas condições na segurança do paciente, especialmente devido ao alto número de amputações evitáveis. Estamos diante de um cenário crítico", explica.
A entidade defende que ações preventivas, diagnóstico precoce e acompanhamento contínuo são essenciais para preservar a integridade física dos pacientes.
"O controle rigoroso da glicemia é a principal forma de prevenir as complicações. No entanto, cuidados práticos com os membros inferiores são fundamentais, com boa higiene e com atenção ao cortar as unhas, pois um ferimento seguido de infecção e comprometimento ósseo pode levar à amputação", destaca a especialista.
O diabetes é uma doença metabólica que afeta tanto a macrocirculação (artérias maiores) quanto a microcirculação (vasos pequenos). As complicações são mais frequentes e severas em pacientes que não controlam adequadamente a doença.
A médica Ana Terezinha destaca a necessidade de um diálogo mais claro entre profissionais de saúde e o pacientes. "Hoje, o diabetes não afeta apenas idosos. Cada vez mais, vemos crianças e jovens entrando nessas estatísticas alarmantes. As famílias precisam redobrar a atenção com a alimentação e os hábitos dos seus filhos", alerta.