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A busca pelo "Diário de um naturalista"
Ciência e Saúde

A busca pelo "Diário de um naturalista"

| LIVRO PERDIDO | Obra inédita de Dias da Rocha pode ser o primeiro documento escrito de um cientista brasileiro sobre história natural do século XIX
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Tipo Notícia
Ave preservada a partir de taxidermia (Foto: Eddie Consorte Jr.)
Foto: Eddie Consorte Jr. Ave preservada a partir de taxidermia

O Museu de História Natural do Ceará (MHNC) já nasce com uma investigação para fazer. E caso consiga descobrir o paradeiro de uma obra datilografada do naturalista cearense Francisco Dias da Rocha, dará uma contribuição importantíssima para a ciência no Brasil. Quem conta essa história e não faz cerimônia para pedir que se forme uma "rede de buscadores" da obra inédita é a pesquisadora paulista Renata Stopiglia.

Responsável pela fundação do Museu de História Natural do Ceará, Renata Stopiglia acabou descobrindo por leituras e conversas que o pesquisador cearense deixou escrito o Diário de um naturalista. Um único exemplar "batido a máquina de escrever" e com informações de significado histórico "porque é um brasileiro falando de história natural do Brasil do Século XIX". Não existe documento escrito assim.

Até aqui, revela Stopiglia, o que se tem são relatos de cientistas estrangeiros que vieram trabalhar com história natural no Brasil. O livro perdido do cearense reescreveria essa narrativa. "Dias da Rocha seria o primeiro brasileiro e, provavelmente, o conteúdo do Diário de um naturalista pode ser incrivelmente valioso. Existem ali, informações, por exemplo, do que era ser um naturalista naquela época", projeta a bióloga e especialista em acervos de biodiversidade para museus de história natural.

Dias da Rocha, que viveu de 1869 a 1960, foi longevo para uma época em que a expectativa de vida para um homem passava um pouco dos 50 anos. Falecido aos 91 anos de idade, o naturalista datilografou rotinas e, provavelmente, descreveu o processo de coleta e catalogação do patrimônio recolhido e dissecação de insetos e de outros animais.

"Todo o registro do acervo, cerca de 900 peças, está ali já que os livros de tombos não existem mais. A história oral aponta que esse material (os livros tombos) foi queimado ainda na Escola Normal, em Fortaleza, durante o período da Ditadura Militar. A gente tem o acervo físico do professor Dias da Rocha, mas não temos os dados", revela Renata Stopiglia.

A prova sobre a existência do Diário de um Naturalista, como obra pronta para publicação, é um artigo escrito, em 1965, pelo professor Hitoshi Nomura - da Universidade Federal do Ceará (UFC).

Cinco anos depois da morte de Dias da Rocha, Nomura escreveu Um Grande Naturalista Cearense: Francisco Dias da Rocha, para Revista do Instituto do Ceará, e cita a obra inédita.

Até agora, Renata Stopiglia vasculhou os arquivos do Instituto Histórico, Geográfico e Antropológico do Ceará e, atualmente, faz buscas nos acervos da UFC. Alguns familiares de Dias da Rocha se comprometeram em ajudar nas buscas por informações com parentes mais antigos do naturalista sobre os originais.

Outra linha de investigação é contar com a contribuição de familiares do pesquisador Zenilo Almada (falecido). Em 2008, ele escreveu uma biografia sobre o professor que também contribuiu com o curso de Agronomia da UFC. O livro Dias da Rocha: Origem, vida e obra, publicado pela Editora Expressão Gráfica, seria resultado de um material pertencente a Dias da Rocha e que estava nas mãos de Almada.

"Estamos perguntando à família e a quem tinha proximidade com o naturalista sobre quem poderia ter ficado com o livro. Para torná-lo público e usar o Diário de um naturalista para fazer a restauração do acervo. Pensamos em fazer uma campanha, fazer outdoor pedindo uma cópia para o Museu de História Natural do Ceará. Fazer uma nota no jornal e pedir que encaminhem, anonimamente se houver problema, para a portaria do jornal O POVO", deseja Renata Stopiglia. (Demitri Túlio)

 

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