Para a maioria dos cearenses, o Professor Dias da Rocha é apenas um nome que figura numa rua ali pelas áreas da Aldeota. A história por trás do logradouro, entretanto, comporta um estudioso que passou a vida dedicado às ciências naturais. Um rapaz curioso que aprendeu inglês e francês sozinho para conseguir se comunicar com pesquisadores do mundo inteiro. Um homem que passou a vida toda investigando espécies cearenses e um menino que, desde cedo, gostava de observar os insetos na companhia da avó.
E a Coleção Dias da Rocha, montada pelo estudioso em décadas de trabalho e atualmente sob salvaguarda do Museu do Ceará, é a primeira investida para a construção do Museu de História Natural do Estado - uma iniciativa da Universidade Estadual do Ceará (Uece) que conta com apoio do Museu Nacional e da Secretaria da Cultura do Ceará (Secult). Um acordo de cooperação foi assinado entre os três órgãos em agosto do ano passado e, na prática, o novo equipamento cultural já abriu as portas para viabilizar o restauro do legado deixado por Dias da Rocha.
Os conjuntos reunidos por Francisco Dias da Rocha, explica Gláucia Posso, diretora do Centro de Ciências da Saúde da Uece, teriam importância em nível internacional caso os livros de tombo não tivessem sido destruídos durante o período da Ditadura Militar. São aproximadamente 900 peças - entre animais, plantas, fósseis e minerais - que foram colecionados pelo naturalista filho do negociante luso Joaquim Dias da Rocha e da senhora Francisca de Paula Dias da Rocha.
Chamado de "yôyô" pelos amigos, o jovem cresceu em um ambiente de estudo. Cedo, como tantos outros fortalezenses, viajou para a Europa na intenção de estudar. Uma doença que acometeu e matou o pai, entretanto, o obrigou a retornar à Capital e assumir o comércio da família. As poucas horas de descanso eram reservadas ao estudo das ciências naturais. O chamado "Museu Rocha" - embrião do que virá a ser o Museu de História Natural - foi fundado nos fundos da casa onde morava.
O novo equipamento cultural vai funcionar no Campus Experimental de Educação Ambiental e Ecologia de Pacoti da Uece, na Serra de Baturité. Gláucia Posso explica que o prédio onde ficará o museu foi cedido via comodato pela Fundação Educacional Deusmar Queiroz. A parceria vigorava desde o ano 2000 e, mesmo sem chegar ao fim, foi renovada por mais um período de duas décadas - indo até 2040. Mas a adequação do prédio, ela explica, depende de instituições privadas, pois "os incentivos de cultura demandam que as empresas liberem parte dos seus impostos, que deixam de ir para o governo". O processo de captação está em andamento.
O decurso de apropriação do acervo do naturalista, entretanto, deve começar a acontecer antes. Gláucia Posso conta que ações educativas, expositivas e de troca de conhecimentos estão programadas. Um dos primeiros passos é a realização de um curta-metragem contando a história do professor Dias da Rocha e das coleções. "Quando visitantes e as escolas forem ao museu ver a coleção recuperada, irão assistir ao filme contando um pouquinho do processo de restauração realizado nas peças", prevê a gestora do Museu do Ceará. O curta foi roteirizado e será dirigido por Alexandre Vale.
A recuperação do acervo é outro passo. No Ceará, informa Gláucia Posso, ainda não há profissional especializado nas peças colecionadas pelo naturalista. É nesse ponto que o Museu Nacional se junta ao processo. Um projeto aprovado pela Fundação Cearense de Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico (Funcap) garantiu bolsas de pós-doutorado e o dinheiro já foi liberado para a vinda de pesquisadores do Museu Nacional.
SOBRE O ASSUNTO
Ceará se prepara para a chegada de museu de história natural - https://mais.opovo.com.br/jornal/dom/2019/10/26/ceara-se-prepara-para-a-chegada-de-museu-de-historia-natural.html
Acervo de Notícias Antigas do O POVO - https://www20.opovo.com.br/acervo/