Com o passar dos anos, o perfil dos trabalhadores no Brasil e no mundo se renova de forma natural em razão das transformações do mercado de trabalho. Atualmente, a atenção se volta para jovens nascidos a partir do fim da década de 1990 e início dos anos 2000, que estão saindo de escolas e universidades e levando para empresas características diferentes das que costumeiramente são observadas em gerações passadas.
Pertencentes à chamada Geração Z, esses jovens são tipificados, de forma superficial, com características como a impaciência, irreverência, rebeldia, busca por resultados a curto prazo e costumam ser orientados pela busca do prazer ao trabalhar apenas com aquilo que gostam.
Analista da MoveEdu e especialista em inteligência de mercado, Bruno Rigino avalia que essa geração quebra paradigmas, pois não tem medo de errar. "Costumo brincar que eles são um 'público Ctrl Z' (comando de computador para refazer ação) e prova disso é que são uma geração que não tem medo de errar, colocando em xeque os principais paradigmas do mercado de trabalho, questionando as gerações anteriores", observa.
Essas características fazem o psicólogo e professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV), João Baptista Brandão, apontar que a Geração Z realiza uma busca maior pelo empreendedorismo, tendo em vista que não encontra com facilidade espaços em organizações e negócios mais tradicionais. "Esses jovens percebem que há muitas oportunidades de empreender no ambiente que já dominam muito bem: a internet", diz.
Prova disso é a história de Bruna Memória, moradora de Fortaleza. Aos 19 anos, é diretora-criativa da Rua Zero, denominada por ela mesma não como uma empresa, mas como um negócio colaborativo que formou, em um ano de atuação no mercado, uma rede de artistas que realizam trabalhos em produção audiovisual, principalmente no setor de moda. A principal ferramenta de divulgação do trabalho é a internet, por meio das redes sociais.
O conceito de negócio praticado por Bruna na Rua Zero, mais expansivo e colaborativo, também corrobora a estimativa feita pela Organização das Nações Unidas (ONU), que aponta que esse grupo tem perfil diametralmente oposto ao de jovens de gerações anteriores, geralmente mais apegados a hierarquias e pouco ansiosos por mudanças no ambiente de trabalho.
"A equipe que faz parte da Rua Zero é jovem, que tem o desejo de criar um mercado novo, que não compete, mas ajuda. Essa é a diferença", considera Bruna, que também pretende propagar sua visão para todo o mercado audiovisual cearense, ao idealizar um ambiente mais saudável por considerar a cena local ainda carente de "referenciais mais ousadas".
A ideia de que, por serem muito novos e com perfil mais "despojado", esses jovens da Geração Z não teriam capacidade de assumir funções de liderança já fez a diretora criativa passar por uma situação em que foi cobrada por um cliente. Numa reunião de negócios, ele chegou a perguntar se Bruna teria "responsabilidade para fazer o trabalho". "Saí há dois anos do colégio. Não é que aprendi em pouco tempo, mas vejo que, atualmente, os profissionais começam a ter grandes responsabilidades muito mais mais cedo", analisa.
Mas juventude nem sempre pode ser relacionada à inexperiência profissional no atual mercado. Luiz Mendes, 24, é diretor de arte da produtora musical KRU!, na Capital. Há um ano, reuniu quatro amigos da mesma idade com formações diferenciadas em torno do desenvolvimento de um modelo de negócios no mercado fonográfico.
A sociedade ajudou a construir uma sólida expertise no negócio, por meio da crescente busca por profissionalização. Rafael Trajano e Vitor Gurgel se especializaram em produção musical ao conhecerem de perto o trabalho de Tadeu Patolla, produtor responsável por descobrir a banda Charlie Brown Jr. e trabalhar em discos do Biquini Cavadão, Skank e do cantor Jorge Ben Jor. Outro membro da equipe, Roger Fontenelle, foi estudar nos Estados Unidos gestão empresarial e coordena a área.
Essa reunião de pessoas para realizar trabalhos também acontece de maneira fora do padrão considerado habitual. Nenhum dos negócios conta com sede administrativa. Tudo é feito entre o home office e parcerias com outras empresas. Porém, o que não acontece é a falta de garantia para os clientes. Todos os processos são feitos por contratos firmados, garante Luiz.
"Ainda não temos capacidade de abarcar uma sede propriamente dita, mas trabalhamos como Microempreendedores Individuais (MEIs), todos os trabalhos têm contratos, só falta a sede. A ideia é um dia ter o ponto físico, mas não pretendemos dar um passo maior que a perna", destaca.
DESEMPREGO
A analista do Sebrae, Mônica Arruda, considera que a falta de oportunidades causada pelo alto desemprego causa insegurança aos jovens que estão em período de formação, pois não é possível saber se estarão trabalhando daqui a 5 ou 10 anos.
FORMAÇÃO
Na opinião de Mônica Arruda, a formação desses jovens deve focar no desenvolvimento de competências como criatividade, capacidade de trabalho em grupo, negociação e comunicação, que são habilidades que não podem ser substituídas por máquinas e inteligências artificiais.
MICROEMPREENDEDORES EM FORTALEZA
TOTAL: 117.619
Faixa Etária
16 a 17 anos - 6
18 a 20 anos - 891
21 a 30 aos - 24.778
(Fonte: Portal do Empreendedor
do Sebrae. Extraído em 1/6/2019)
Audiovisual
BRUNA MEMÓRIA
tem 19 anos e cultiva uma relação com o audiovisual que remonta aos tempos de escola, quando realizava bicos cobrando preços mínimos, "pois não tinha como comprovar sua competência". Em pouco tempo evoluiu e montou, com a ajuda do namorado, Luiz Mendes, 24, a Rua Zero, um coletivo que realiza trabalhos produções audiovisuais, principalmente no mercado da moda.
Atualmente a marca já desenvolve trabalhos com marcas com igualmente jovens como Ahazando e Só.Mais.Um. "Vejo a Rua Zero, do começo ao fim, como uma produtora. Sinto que também pode ser uma agência, mas a minha intenção é criar uma rede de artistas trabalhando comigo, não para mim".
Música
LUIZ MENDES, aos 24 anos, é diretor de arte da KRU!, produtora musical que desbrava o mercado fonográfico cearense. "Se diferencia no mercado por produzir pessoas, tanto musicalmente quanto na imagem. Queremos acreditar em projetos de algumas e lucrar junto com elas".
Essa visão colaborativa tem muito em comum com o início do negócio.
Mas não bastou só formação para o início oficial do negócio. Lançado na sexta-feira, 7, com participação de cantores locais como Marcos Lessa, Juan Cândido e Junior Martins, no projeto multiplataforma intitulado SOLO, o modelo de negócios tem como exemplo a atuação de Konrad Dantas, produtor e empresário conhecido pelo canal Kondzilla.