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As várias faces do novo consumidor
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As várias faces do novo consumidor

Para celebrar o Dia do Consumidor, comemorado neste domingo, O POVO faz um raio x do cliente contemporâneo e suas evoluções
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HOJE, o consumo está mais ligado à experiência do cliente na hora de adquirir produtos e serviços do que ao poder de compra (Foto: BARBARA MOIRA)
Foto: BARBARA MOIRA HOJE, o consumo está mais ligado à experiência do cliente na hora de adquirir produtos e serviços do que ao poder de compra

O tempo do consumidor contemporâneo é agora. Ele é inquieto, conectado, consciente, dono de suas vontades e não cabe mais na antiga forma desenhada apenas com traços demográficos. Um total 42,4% deles está mudando seus hábitos para reduzir o impacto no meio ambiente, segundo a pesquisa Estilos de Vida 2019, realizada pela Nielsen - uma empresa global de mensuração e análise de dados.

Mais da metade (65%) não compra de indústrias associadas ao trabalho escravo e 58% também não consomem marcas que realizam testes em animais. Para o levantamento, foram ouvidas 21 mil pessoas em 8.240 lares. O estudo contou com 100 questões, divididas em módulos de entendimento: tempo livre e hobbies; atitude, valores e metas; meios de comunicação; hábitos de compras (antes, durante e após); e preocupações com saúde.

A população brasileira também está reduzindo o consumo de gordura (57%), sal (56%), açúcar (54%), alimentos industrializados (38%), cafeína (34%), lactose (27%) e glúten (27%). No supermercado, busca mais por produtos com adição de fibras, vitaminas e minerais (45%) e alimentos orgânicos (35%), além de fazer exercícios regularmente (33%). E 74,3% dos entrevistados elencaram "ter saúde" como um dos objetivos de vida.

Segundo a pesquisa, 64% têm um smartphone, 48% utilizam o celular para interações em redes sociais, 39% usam para entretenimento e 51% acham que as propagandas online chamam atenção (contra 42% na TV). Enquanto 18% assistem conteúdos online em seu tempo livre, 41% já fazem compras na internet.

Nova fisionomia

Os números mostram uma nova fisionomia que se forma a partir de palavras-chaves, como redução, consciência, sustentabilidade e saúde. Para Roberto Kanter, professor de Marketing e Gestão Comercial da Fundação Getúlio Vargas (FGV) e diretor da consultoria Canal Vertical, a tecnologia é o fator que redirecionou a trajetória de consumo.

"A internet deu empoderamento ao consumidor. O grande barato é que houve uma época em que as pessoas eram divididas por grupos e hábitos. Hoje, ele age de uma forma e amanhã de outra. Não tem como querer encaixá-lo num quadrado. O que o mercado precisa entender é a jornada do cliente", explica.

A professora de Marketing da Universidade Federal do Ceará (UFC), Cláudia Buhamra, acrescenta que aspectos como idade, sexo, renda, nível de educação e classe social é a forma de segmentação mais clássica e que pode ser levada em conta. No entanto, na atualidade, é preciso ultrapassar a frieza desses dados.

"Há outros fatores além dos demográficos e geográficos que dizem muito a respeito do consumidor, que são as variáveis comportamentais e psicográficas. São aquelas que juntam as questões demográficas e geográficas com questões psicológicas", detalha. Isso porque apesar de semelhanças, pessoas com o mesmo perfil socioeconômico se comportam de maneiras distintas, envolvendo estilo de vida e personalidade.

Outro ponto importante é a variável cultural. "Se você conversar com um paulistano, ele tem um comportamento culturalmente mais resolutivo, mais direto. Já o cearense gosta de conversar. O cearense vai fazer uma compra e conta a vida dele inteira para a pessoa no balcão, ele pede opinião. Essa característica do nosso consumidor que é, na verdade, da nossa gente, favorece muito as empresas que sabem utilizá-la", explana.

Ela acrescenta que o consumidor está mais exigente, impaciente e quer conveniência. Ele não sai mais de casa para ter problema com estacionamento e atendimento. Por esta razão, a reconfiguração do consumo se dá porque consumir hoje é uma experiência, é um prazer na hora que o cliente tem a vontade de comprar.

 

Consumidor fica de olho na evolução dos preços
Consumidor fica de olho na evolução dos preços

Como aproveitar os melhores preços

O Dia Internacional do Consumidor, comemorado neste 15 de março, traz a oportunidade para consumidores realizarem bons negócios. Com a mobilização do mercado a partir de descontos e promoções, e ainda o cenário envolvendo 63,8 milhões de inadimplentes no Brasil, surge a questão de como aproveitar o dia de maneira mais saudável e dentro do orçamento. O executivo da Quite Já, Luiz Henrique Garcia, listou dicas importantes para orientar os consumidores durante as suas compras.

Com o advento do cadastro positivo e a formação de pontos de crédito, há melhores condições de parcelamento nas compras e a chance de manter a economia de recursos, segundo afirma o CEO da Quite Já, empresa especializada em negociação de dívidas entre credores e devedores. "Com as rédeas financeiras em mãos, é possível aproveitar a data com otimismo e cuidado, principalmente para não afetar o orçamento doméstico", avalia.

De acordo com o executivo, o momento é bom para a economia e pode satisfazer o desejo do consumidor. No entanto, ele sugere que aqueles que ainda possuem dívidas em seu nome, tentem negociar descontos e formas de pagamento desses débitos, para que possam "sair do vermelho". "Esse é sempre o passo mais importante na busca, inclusive, de melhores condições de compra em um futuro breve", avalia.

Dicas

Na hora da compra, negocie o máximo que puder: utilize as informações de preços dos concorrentes para ter êxito na negociação das compras presenciais, que exigem o contato direto com o vendedor.

Use cupons de desconto: Esteja atento aos produtos que oferecem cupons para abatimento do preço. Algumas empresas também oferecem preços diferenciais por meio de aplicativos, até mesmo oferecendo reembolso de uma parte do valor pago. Com isso, é possível ter ainda mais economia.

Saiba quanto pode gastar: é necessário colocar na ponta do lápis o valor que você pode gastar. Com isso em mãos, separe determinada quantia para as compras;

Compare os preços: alguns sites podem te ajudar a tomar a decisão mais adequada antes de efetuar qualquer compra. Exemplos: Buscapé, Zoom, Bondfaro e JaCotei;

Deixe as grandes compras para outro momento: consulte a real utilidade e necessidade do produto antes de finalizar a compra. Caso não seja urgente, deixe para depois.

Anote os gastos extras: É preciso considerar as despesas extras quando for às compras. Estacionamento de shopping ou supermercado, e até mesmo aquele lanchinho para matar a fome, precisam ir para a lista de gastos.

 

FORTALEZA, CE, Brasil - 12.03.2020: Reportagem sobre o perfil dos consumidores relacionado com compras pela internet com o senhor Adolfo Lopes, 52 (Fotos: Sandro Valentim/O POVO)
FORTALEZA, CE, Brasil - 12.03.2020: Reportagem sobre o perfil dos consumidores relacionado com compras pela internet com o senhor Adolfo Lopes, 52 (Fotos: Sandro Valentim/O POVO)

Conectado

Materiais de pesca, calibrador de pneus, pistola de pintura etc. A extensa lista do gerente financeiro Adolfo Lopes, 58, apenas cresce. Há cinco anos, ele ficou fascinado pelas diversas possibilidades que a internet oferece. Não parou mais de comprar pelo celular e computador.

"Comecei comprando acessórios para o carro, casa e equipamentos eletrônicos. Depois as roupas", enumera. Adolfo gasta cerca de R$ 800 por mês em produtos adquiridos no e-commerce. "Gosto de interagir, vejo as promoções, a diversidade de produtos. Tem a facilidade que é muito importante nos tempos de hoje, mas, o que me atrai, de cara, são os valores, que compensam mesmo com o pagamento do frete", calcula.

Ele acrescenta que a segurança nunca foi uma queixa. "Houve apenas um problema que ocorreu da última vez. Ainda não foi entregue e já dei como perdido, mas não deixarei de comprar", afirma.

Para Lopes, consumir é mais do que obter algo, é necessário quase que um ritual. Adolfo também faz questão de escolher todos os itens do supermercado. "Para a feira, gosto de ir pessoalmente. Não sou aquele tradicional, que faz pesquisas em vários… Vou onde sou bem atendido", complementa.

 

FORTALEZA, CE, BRASIL, 11-03-2020: DOM: Perfil de consumidores na atualidade. Em destaque, a personagem Alyne Jucá, 38, advogada que é o perfil de consumidora consciente, comprando roupas e livros sempre em brechós, bazar e sebos e que costuma passar para frente tudo que não usa mais. Ademais, ela procura passar os mesmos valores para sua filha, Maitê, com seus brinquedos e roupas. Aldeota, Fortaleza. (BARBARA MOIRA/ O POVO)
FORTALEZA, CE, BRASIL, 11-03-2020: DOM: Perfil de consumidores na atualidade. Em destaque, a personagem Alyne Jucá, 38, advogada que é o perfil de consumidora consciente, comprando roupas e livros sempre em brechós, bazar e sebos e que costuma passar para frente tudo que não usa mais. Ademais, ela procura passar os mesmos valores para sua filha, Maitê, com seus brinquedos e roupas. Aldeota, Fortaleza. (BARBARA MOIRA/ O POVO)

Consciente

A maternidade foi o despertar para a advogada Alyne Jucá, 38, tornar-se uma consumidora mais consciente em todos os aspectos. Desde a redução do consumo, a adquirir apenas produtos que já vêm acompanhados das histórias em brechós e sebos até a escolha criteriosa das marcas quando precisa comprar algo novo. Dentre os fatores decisivos, estão os materiais utilizados e a cadeia produtiva para a fabricação das peças.

"Quando me tornei mãe, achei que tivesse de comprar milhões de coisas. Mas, depois, vi que era desnecessário e muita coisa nem cheguei a usar. Comecei então a observar que as pessoas vendem e trocam peças de crianças e comecei a comprar em brechós assim", lembra a mãe de Maitê, de 4 anos.

Esse foi o primeiro passo. As compras foram diminuindo, a consciência ambiental aumentando e novos hábitos surgiram. "Agora, eu compro primeiro por necessidade e passo isso para a milha filha. Não há brinquedos entulhados na casa e nada acumulado", detalha. Alyne conta que muito do que consome é pesquisado na internet, nas redes sociais. Além disso, começou a praticar essa troca entre amigos e familiares e já planeja abrir um brechó online voltado para roupas formais que as advogadas necessitam para o trabalho. Os livros também são escolhidos nos sebos. "A moda circula, todo mundo consome", diz.

FORTALEZA - CE, BRASIL, 13-03-2020: Eugênio Sales, 57. Consultor de vendas. Personagem consumidor econômico. (Foto: Beatriz Boblitz / O Povo).
FORTALEZA - CE, BRASIL, 13-03-2020: Eugênio Sales, 57. Consultor de vendas. Personagem consumidor econômico. (Foto: Beatriz Boblitz / O Povo).

Econômico

O consultor de vendas Eugênio Sales, 57, é daqueles que sai de casa decidido, quase irredutível sobre o que vai comprar e com uma lista para comparar os preços dos produtos entre as concorrentes. Necessidade é o único fator que o leva a pensar em consumir e o valor é o decisivo. A loja precisa ser física, disso ele não abre mão.

“Não compro na internet. Quando são as compras de casa, vejo em dois supermercados atacadistas qual está mais em conta e eletrodomésticos ou outras coisas vou ao shopping ou ao Centro”, relata.

Nas datas especiais, como Natal, ele confere os valores ofertados no período e compra após as festas acabarem. As promoções também não são tão atrativas para esse consumidor econômico. “Eu até olho, mas espero passar essa época e sempre tenho surpresas desagradáveis e vejo que acabam cobrando é mais caro. Nunca compro no impulso”, afirma.

Ele também é um consumidor que tem uma ligação de confiança com as marcas e somente dispensa as que conhece quando o preço e diferencial se sobrepõem ao costume. “Sou 80% fiel, mas estou aberto para novas coisas. Mas é preciso ter certeza de que vale a pena”.

Quais são os tipos de consumidor

Consciente Pragmático

O “sabe tudo” é aquele que segue fielmente seus hábitos e preferências. Esse perfil é predominante em indivíduos com mais de 46 anos de idade, das classes C2, D e E, e equilibradamente dividido entre homens (55%) e mulheres (45%). É geralmente o chefe do lar e, como busca uma vida estável, preocupa-se com o aumento do custo de vida e com os serviços públicos. Os meios de comunicação que mais utiliza são a TV aberta e o rádio e, mesmo que goste de ficar em casa com a família e assistir televisão em seu tempo livre, acredita que a maioria das propagandas são mentirosas. No mercado, tem um comportamento mais prático e tradicional, então faz suas compras sozinho, durante a semana e em lojas convencionais, além de adquirir sempre os mesmos produtos e marcas, mesmo que não estejam em promoção.

Equilibrista


O “negociante”, aquele que busca fazer escolhas inteligentes para conseguir consumir tudo o que quer. Esse perfil é predominantemente feminino (67%), das classes C1 e C2 e mais jovem (26 a 45 anos). Responsável pelas compras da casa, esse perfil foi bastante impactado pela crise, então preocupa-se bastante com o aumento do custo de vida e com a educação. Mesmo com o orçamento apertado, gosta de sair com os amigos e socializar. Em casa, se diverte assistindo TV e adora interagir nas redes sociais. Propagandas de rua e na internet costumam chamar a sua atenção e, na hora de comprar, gosta de olhar com atenção todos os folhetos e catálogos que recebe, além de não pensar duas vezes antes de mudar de loja para aproveitar uma boa promoção. Costuma comprar mais que o previsto e paga tudo com o cartão de crédito, mas não faz compras online. A realização profissional é o seu principal objetivo de vida.

Consciente Sonhador

O “tranquilão”, aquele que busca levar uma vida tranquila, na qual possa cuidar de si e do mundo. Predominantemente feminino (72%), esse perfil está mais presente nas classes C2, D e E. É responsável pelas compras de casa e, embora não tenha sido impactado pela crise, se preocupa com o custo de vida e a economia, mas principalmente com o meio ambiente. Esse perfil vai três vezes mais ao hortifruti que os outros, e à feira pelo menos uma vez por mês. Ele reduziu o consumo do que julga fazer mal (no caso desse grupo, especificamente cafeína, lactose e glúten), compra produtos orgânicos e faz exercícios físicos. No mercado, leva uma lista de compras e se atém à ela, além de consumir 20% menos que os demais e pagar as compras em dinheiro 90% das vezes. Além de mudar seus hábitos de consumo por causa do meio ambiente, ele está disposto a pagar mais caros por marcas sustentáveis, e tenta viver um dia de cada vez, desenvolvendo a sua espiritualidade.

Conectado

O “sempre online”, é aquele que se diverte, se comunica e passa a maior parte do seu tempo na internet. Demograficamente, esse é o mais jovem dos perfis, cuja maioria dos entrevistados possui até 25 anos de idade, está inserida nas classes B2 e C1 e sem predominância de gênero (homens e mulheres com 50%). Apesar de estar sempre online, não deixa de ir a festas, eventos culturais e de estar com os amigos. Gosta de imaginar o futuro com crescimento profissional e uma família, mas sem perder as oportunidades e vivências do presente. Consciente, pensa muito no coletivo, e suas maiores preocupações incluem o meio ambiente, o preconceito e a intolerância. Tem o mundo na palma da mão e faz tudo pelo smartphone: comunicação, conveniência, redes sociais, jogos, filmes e música. Seis em cada dez entrevistados fazem compras online todo mês. Por acompanhar seis dos nove principais meios de comunicação, propagandas perdem a relevância em todos os canais que utiliza. Esse perfil valoriza ações que criem experiência e exclusividade com produto/marca, como degustação, amostra grátis, cupons e desconto nos aplicativos.

Aspiracional

O “pra frentex”, que busca aliar seu bem-estar próprio ao coletivo. Esse perfil tem predominância nas classes A, B1 e B2, com idade entre 26 e 45 anos e maioria feminina (64%). Suas maiores preocupações são com meio ambiente, educação, corrupção e preconceito. Seu objetivo de vida é contribuir positivamente para a sociedade e viajar, sem abrir mão de ter uma boa carreira profissional – por isso, busca cuidar de si e do mundo. Está mudando seus hábitos para ser mais saudável e proteger o meio ambiente. Esse perfil consome muita informação, o que o torna mais exigente: 33% compara preços no celular enquanto está fazendo compras, 70% vê produtos e preços no aplicativo/internet antes de ir à loja, 72% gosta de comprar e experimentar novos produtos, 55% vê atentamente as informações nutricionais, 67% está disposto a pagar mais por marcas que pensam no meio ambiente e 81% gasta mais com produtos que melhoram a saúde.

Fonte: Nielsen

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