Os modelos de pensar o futuro promissor para o Estado, indo além de questões políticas, foi realizado no Plano estratégico de desenvolvimento de longo prazo por meio do Ceará 2050. Mas os projetos mudam de acordo com os acontecimentos, como a pandemia, e o investimento maior em energias renováveis.
Sobre o que está por vir, o coordenador geral do projeto, Barros Neto, conta ao O POVO que ele teve cinco fases e a conclusão em 20 programas estratégicos que contemplam diferentes setores.
“Percebemos ganchos maiores na infância transformadora, para colhermos os resultados daqui 20 anos; no empreendedorismo, que dá oportunidade para as pessoas; e em projetos de tecnologias, como os hubs. A inovação é o carro-chefe. Será preciso investir muito”, diz. O projeto ainda será apresentado, oficialmente, para toda a população.
O Ceará 2050 traz como premissa a valorização da sociedade, com o crescimento de uma economia ambiental sustentável e que possa estimular a redução das desigualdades sociais e regionais. Mas, para isso, é necessário empenho de todos, governo e sociedade civil, caminhando de forma participativa para reinventar setores em que o Estado tem diferenciais e potenciais.
Jairdo Amaral Filho, professor da Universidade do Ceará (UFC), responsável pelo diagnóstico, identificou que o crescimento econômico e social estadual, nas últimas décadas, não foi por acaso.
“A partir de 1987, com as mudanças políticas e as reformas estruturais implementadas, emergiu um consenso entre as lideranças políticas e econômicas de que o ajuste e o equilíbrio fiscal nas contas públicas seriam a saída para o desenvolvimento econômico e social de longo prazo.”
Como desdobramento, os ajustes fiscais, à época, serviam para financiar investimentos em infraestrutura, além de projetos voltados para a saúde e a educação. O foco era em mitigar o problema da escassez dos recursos hídricos, além de implementar projetos estruturantes que fossem capazes de alterar o eixo do desenvolvimento do Estado.
Vieram as novas estruturas portuárias e aeroportuárias que emergiram, a partir dos anos 1990. O crescimento do turismo e da geração de energia renovável fazem parte desse processo. Em contrapartida, observou-se, segundo Amaral, que há ainda muito esforço a ser realizado no tocante à eficiência geral da economia. Desigualdade social e segurança são os principais entraves atuais.
“Existe a necessidade de melhorar os investimentos em capital físico, público e privado, nos aspectos da qualidade e escala dos projetos. Ligado a isso, a inovação tecnológica tem que avançar com mais rapidez em todos os setores e segmentos”, afirma.
Apesar de avaliar a grande distância que estamos de 2050, o presidente da Federação das Indústrias do Estado, Ricardo Cavalcante, concorda que é preciso vislumbrar um objetivo a seguir.
“O Ceará, hoje, já tem várias vertentes dentre elas o H2V "A fórmula química do hidrogênio é H2. Quando se refere ao verde é H2V." , onde o Estado é um player mundial de atração de investimentos. Outra vertente é a Economia dos Mares, com uma indústria de pesca muito forte. Exportamos, em 2021, mais de U$ 111 milhões. Tem ainda as offshores "Offshores aqui se refere à produção de energia renovável no mar." e a volta da produção do algodão.
O titular da Secretaria Executiva de Modernização e Inovação para a Pós Pandemia, Célio Fernando, informa que todas as mudanças que estão acontecendo no mundo e aqui, aceleraram esse futuro almejado por programas como o Ceará 2050 e outros do Estado.
“São muitos os planos e se fala num Ceará mais internacional e enraizado nas suas culturas. Os arquétipos de planos têm interconexões e interdependências que podem ser usadas para dar celeridade. Precisamos de uma transição energética justa, uma transformação digital e uma sociedade que interaja”, aponta Melo.
O secretário defende uma grande mudança de mentalidade em todos os sentidos. Hoje, o Ceará está chegando com conectividade aos municípios, nas escolas e no setor do empreendedorismo. “Temos a economia do mar e a economia criativa chegando em vários elos da cadeia produtiva. Ecossistemas de startups nas 14 macrorregiões do Estado, hubs com estrutura digital construída”, destaca.
Para ele, toda a base dessa discussão da necessidade de se olhar para 2050 e essa antecipação tem como plano de fundo hiatos a serem discutidos como igualdade de acesso, pessoas abaixo da linha da pobreza, diferenças de IDH, segurança inteligente, cooperativismo e agricultura familiar.
“É um desafio muito grande e tendo esse novo momento do Ceará se colocando em relação às novas energias e até a própria água. É preciso traçar metas para 2030, 2040 e 2050. Esperançar é necessário para ter uma sociedade mais igualitária, é preciso pensar fora da caixa e não achar que o horizonte é tão curto”, finaliza.
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Extensão litorânea, regionalização e visitante europeu ditam as estratégias
A vocação turística do Estado se faz presente no Ceará do futuro. O setor que contempla 578 Km de praias atrai visitantes nacionais e internacionais. Além das belezas naturais, o Estado oferece cultura, gastronomia e criatividade.
Neste contexto, o Programa Estratégico Orla do Entretenimento destaca frentes que buscam desenvolvimento do turismo em si, questões sociais, ambientais e culturais que permeiam o território.
A proposta para as próximas décadas é a formação de novas parcerias e instalação de empreendimentos âncoras. Um dos pontos principais é a organização da costa, com melhorias na infraestrutura e na integração dos municípios litorâneos. Considerando suas potencialidades individuais, como esportes náuticos, artes e cultura e gastronomia para definição de uma agenda anual de eventos.
E, também, a realização do zoneamento litorâneo que deve destacar a preservação ambiental, a pesca, a exploração imobiliária turística e a geração de energia. Em Fortaleza, as promoções devem estar correlacionadas ao Plano Mestre Urbanístico e de Mobilidade Fortaleza 2040.
"Atualmente, no mundo, 76% do turismo está focado no litoral. O aeroporto de Jericoacoara já teve movimentação de 30 mil passageiros mês, o dobro do equipamento de Fernando de Noronha", afirma o titular da Secretaria do Turismo do Estado do Ceará (Setur), Arialdo Pinho.
Ele ainda destaca que o foco dos próximos anos será no turista vindo da Europa. "Até fim do ano devemos retomar os 50 voos semanais que tínhamos em 2019 e, hoje, está em oito."
Ainda neste mês será lançado o Teleférico de Juazeiro do Norte - Estação Horto, orçado em cerca de R$ 70 milhões. E, em fevereiro, aconteceu a reinauguração do Bondinho de Ubajara, com aportes de R$ 12,68 milhões.
Centro
Entre as propostas para o Centro estão a implantação do Parque Litorâneo, marina pública, Centro de Convenções, Acquário e Casa de Espetáculos na Praia de Iracema, Museu do Mar, bonde Meireles, Aldeota e Centro, entre outros.
Cargas no Porto de Fortaleza devem aumentar 50% até 2050
Outros pontos de atenção que estão evidenciados no Ceará 2050, que compreendem transportes e logísticas, estão no Programa Estratégico Logística do Atlântico, que almeja a infraestrutura logística do Estado.
No âmbito dessa concepção estão incluídos os hubs. Tem o Portuário do Pecém/Mucuripe; hub Aeroviário com participação dos aeroportos de Fortaleza, Jericoacoara, Aracati e Juazeiro do Norte; o hub Digital; e o sistemas ferroviário e rodoviário estruturantes, incluindo a Ferrovia Transnordestina e o Arco Metropolitano.
Nesses setores entram estudos de viabilidade sobre concessões de rodovias e navegação de cabotagem no Porto do Pecém; implantação de um terminal de cargas no aeroporto do Cariri; de um aeroporto-indústria e um porto-indústria; e a conclusão da ferrovia Transnordestina no trecho de acesso ao Porto do Pecém.
Já na Capital é indispensável requalificar do Porto do Mucuripe para navegação de cabotagem e turismo. A construção de Terminais Intermodais de Carga em regiões estratégicas do Estado e a duplicação de rodovias se fazem necessárias para o desenvolvimento futuro.
Mário Jorge Cavalcanti, diretor Comercial da Companhia Docas do Ceará (CDC), declara que no Plano do Complexo Portuário de Fortaleza e Pecém, as expectativas indicam que a movimentação de cargas no Porto de Fortaleza deve dobrar até 2050.
No curto prazo, a CDC pretende avançar nas concessões, por meio da conclusão dos processos de arrendamento do Terminal Marítimo de Passageiros, de Terminal para movimentação de Granéis Sólidos Minerais (MUC 03) e Terminal para Movimentação de Granéis Líquidos (MUC 59), além da cessão do Terminal Pesqueiro na cidade de Camocim.
PARCERIA
Entre ações estratégicas necessárias estão a implantação do hub de energia Elétrica no Cipp, com o uso de gás pelas termelétricas, ampliação e consolidação de novas rotas aéreas com parcerias regionais, nacionais e internacionais.
Educação e capacitação
Para que todos os programas estratégicos elaborados pelo Ceará 2050 sejam viáveis e tenham o resultado esperado para todo o Estado, um fator principal está atrelado a todos eles, o capital humano. Para isso, cada setor terá que desenvolver novas ações que incluam preparo, qualificação e incentivos para toda a cadeia produtiva.
É preciso fomentar a adoção de práticas educativas, em todos os níveis, que estimulem a criatividade e valorizem o desenvolvimento de competências criativas e empreendedoras que estejam alinhadas com as vocações regiões do Ceará.
O estudo mostra que houve importante crescimento do estoque de capital humano, a partir dos anos 2000, como também avanços nos indicadores de produtividade da economia estadual.
"Há ainda muito esforço a ser realizado no tocante à eficiência geral da economia em vista da deficiência de fatores estruturais, locais e nacionais. Há necessidade de melhorar os investimentos em capital físico, público e privado, nos aspectos da qualidade e escala dos projetos", aponta o professor titular da Universidade Federal do Ceará (UFC), Jair do Amaral Filho, que participou do diagnóstico do Ceará 2050.
O titular da Secretaria da Ciência, Tecnologia e Educação Superior (Secitece), Carlos Décimo, informa que o Estado segue com visão no futuro e tem se preparado para isso, a exemplo da ampliação de campus por todo o Ceará que passa de 16 para 23 unidades. Para ele, a ciência, a tecnologia e a inovação são responsáveis por todo o ecossistema das atividades no Estado.
"Temos nos preocupado com inovação tanto no setor público, com novos programas, e as parcerias no setor privado. Estamos na vanguarda formando e capacitando jovens com os temas atuais", diz, reforçando que o Estado chegará bem em 2050 em virtude dos hubs; pesquisas em execução do H2V e do oxigênio verde para fazer o processo da descarbonização.