Por trás de uma empresa familiar, muitas vezes comandada por pais e filhos ou que já vem de geração em geração, existem muitas histórias, muitos valores, muitas visões e tradições parentai. E, também, muitos desafios e diálogos, para manter firme o sonho de toda uma ascendência.
Cada família é única, assim como as pessoas, e devem encontrar seu modelo ideal de prosperidade e sua dinâmica. Porém especialistas em negócios, empresas e sucessão podem facilitar essa trilha que tem um destino certo, o desenvolvimento, crescimento e maturidade dos negócios familiares.
Um estudo da PwC, a Pesquisa Global NextGen 2022, aponta que no Brasil, mais da metade dos participantes com a futura geração de líderes de empresas familiares (56%) dizem que a expansão para novos setores e mercados é prioridade-chave, seguida pelo crescimento dos negócios.
Para o sócio da PwC Brasil, Carlos Mendonça, a pandemia acelerou mudanças e a transição de poder em muitas empresas familiares. O desafio é grande, mas é preciso encontrar rotas, mesmo que distintas, que levem ao mesmo ponto: o futuro.
“A pesquisa mostra o desejo da futura geração é aprender novas competências para impulsionar o crescimento dos negócios em tempos tão incertos e o compromisso dela com a construção da confiança, algo que é uma marca registrada dessas empresas”.
Segundo Silvia Martins, diretora de programas de desenvolvimento de famílias empresárias e acionistas da Fundação Dom Cabral (FDC), 70% das empresas de médio porte que estão no mercado são de controle familiar.
“O conceito de uma empresa familiar é ter membros da família do fundador ou fundador no controle acionário. Temos grandes empresas que são de controle familiar, como por exemplo Itaú, Suzano e Votorantim que são histórias que têm estrutura de governança que são referencial na formação dos jovens”, detalha a executiva.
No mundo, 90% das empresas são de controle familiar, mas somente 12% consegue transferir esse patrimônio dos acionistas para os netos. “Esse é um grande desafio, essa transferência do legado desse fundador”, analisa Martins.
Para quem está pensando em montar uma empresa entre pais e filhos, a diretora da FDC avalia ser relevante que se montado o negócio junto é preciso dar espaço para que os filhos também possam participar dessa construção.
“Participar da construção e fazer os combinados antes deles serem necessários seriam aí duas dicas que eu diria que são preciosas para pensar na longevidade desse negócio. Porque quando a gente olha por exemplo a questão da governança estamos falando de transparência, equidade, prestação de contas. Como que a gente faz isso quando a gente está falando com a família?”, alerta Martins.
Segundo ela, este tipo de negócio pode ser o mais rentável do mundo, desde que seja administrado como empresa e não como família. “Temos um paradigma muito importante que é a tradição de um fundador e a inovação das novas gerações. O grande desafio é conseguir lidar com esses dilemas e o que ajuda são as estruturas de governança”, relata.
A articuladora do Sebrae Ceará, Alice Mesquita, concorda e destaca que abrir empresa entre familiares é uma operação que necessita cuidados.
“Primeiro deve-se traçar um planejamento claro de como será a operação e gestão da empresa, definindo papéis e responsabilidades, carga de trabalho, retirada mensal e divisão dos lucros”, lista.
E, lembra, que a hierarquia existente no âmbito familiar é diferente quando se trata da sociedade empresarial. “Esse é um ponto que deve ser bem trabalhado entre os sócios para não gerar conflito. A sociedade entre pai e filho pode ser uma boa combinação em função da confiança existente entre ambos. A experiência do pai com o entusiasmo do filho pode gerar uma sinergia para o alcance do êxito”, finaliza.
Dicas de ouro para pais e filhos prosperarem nos negócios
Na hora de abrir um negócio
• Planeje antes como será a gestão do negócio e se possível faça um contrato societário
deixando claro as funções e retiradas mensal de cada um.
• Evitar levar os problemas da empresa para as horas de lazer em família.
• Aproveitar a experiência e conhecimento do pai para gerar conexão e alinhamento
com o negócio.
• Estejam abertos para aprender juntos, a sociedade é um complemento de saberes e a
troca entre gerações pode ser um diferencial.
• Não queiram competir entre si a cooperação sempre será a melhor opção.
Fonte: Alice Mesquita, articuladora da Unidade de Competitividade dos Negócios do Sebrae-CE
Longevidade das empresas
- Profissionalize a gestão a visão de futuro da empresa, quais competências serão exigidas para
entregar os resultados e somente depois disso, avaliar as pessoas que entregarão as
expectativas de cada função.
- Se o desejo for de alocar membros da família no negócio, combine as regras antes delas
serem necessárias: o que se espera da função? de que maneira vamos avaliar o desempenho
do profissional familiar? nos casos de não entrega do desempenho esperado, qual será a
condução? qual será a remuneração? a quem ele se reportará?
- Desenvolva a habilidade para conversas difíceis: você pode ter um membro da família que
não tenha o perfil para atuar na gestão dos negócios e esta pode ser a melhor decisão para a
realização
- Estabeleça pautas para os fóruns adequados e exercite a disciplina de realizá-las
periodicamente. Por exemplo, reunião de diretoria periódica para alinhar os temas
estratégicos da gestão e reunião de família no domingo para se divertirem juntos - separando
família e negócio.
Fonte: Silvia, diretora de programas de desenvolvimento de famílias empresárias e acionistas
da Fundação Dom Cabral associada da Barros Soluções em Gestão
Empresas familiares se diferenciam das demais nos seguintes aspectos:
• Decisões emocionais
• Transferência de crises
• Dificuldades para concretizar a descentralização
• Lealdade e dedicação como critérios de recursos humanos
• Confiança mútua
• Dificuldade em separar a família da empresa
• Existência de conflitos
• Busca por sucessor com perfil igual ao perfil do sucedido
Fonte: Sebrae-SP
Bate-pronto
As empresas familiares têm as características e capacidades necessárias para conquistar
vantagem nas situações em que competência e ética convergem, mas prosperar no mundo
atual exigirá uma mudança de mentalidade. O mundo está mudando e a fórmula de sucesso
duradouro dos negócios familiares também.
Acima de tudo, os donos de empresas familiares querem criar um negócio que exerça impacto
positivo e que assegure um legado para as gerações futuras. Eles conquistaram uma
reputação de priorizar empregados e as comunidades que atendem. E “retribuem” à sociedade
o próprio sucesso de um modo mais tradicional, mas sua abordagem é baseada em uma
definição de legado que está mudando.
No ambiente de negócios atual, no qual o ritmo de mudanças ganha cada vez mais velocidade, o lucro precisará estar alinhado com o propósito. Muitos donos de empresas familiares dedicam bastante tempo ao negócio, mas não reservam tempo para discutir aspectos da família. se você não dedicar tempo a isso, ou só o fizer em caso de conflito, muitas vezes, será tarde demais.
As empresas familiares cuja gestão ocorre por não familiares costuma ter, principalmente em
grupos corporativos maiores, uma estrutura de governança corporativa, para a qual os
executivos reportam e os acionistas participam na função de conselheiros ou membros de
comitê.
Nas empresas onde o comando é próprio da família, ou seja, acionista e executivo
permanecem na empresa familiar, as estruturas de governança são mais simples, quando
observadas, uma vez que os acionistas estão ativamente na gestão dos negócios.
As empresas familiares são notadamente conhecidas por buscar sempre a perpetuidade de
seu negócio, com valores e cultura muito fortes, projetos a longo prazo e senso de pertencimento.
O caminho é multidimensional, respeitando as três dimensões de uma empresa familiar:
Negócios - É o motor da empresa familiar e precisa crescer 10% a cada dois ou três anos de
forma orgânica, por diversificação ou investimento de impacto, para atender aos interesses da
família; Família - Uma família unida, apoiada por uma governança forte sustenta o crescimento e Patrimônio -Reservas de patrimônio adequadas garantem que a família mantenha ou melhore sua posição.
Um negócio familiar é a interação de dois sistemas separados, a família e o negócio, que estão
conectados. As empresas familiares podem incluir diversos membros da família, tanto na parte
administrativa quanto como acionistas e membros da diretoria, todavia se faz imprescindível
separar as pautas.
O futuro da família precisa ser protegido e isso ocorre quando a comunicação é transparente,
constante e há formalização de protocolos familiares.
A decisão de transferir o controle para a próxima geração é um evento extremamente
importante e único na vida da empresa familiar. Os donos precisam se sentir confiantes de que
o negócio está em boas mãos, e os futuros líderes devem garantir que entendem os desafios e
têm as habilidades para proteger e expandir o negócio.
A pandemia concentrou a preocupação das empresas familiares no planejamento sucessório. Mas estar preparado para a sucessão na prática é algo sobre o qual raramente se fala – e na
ausência dessa discussão, os sucessores acreditam que a maneira de conquistar a confiança
da geração atual é seguir o exemplo dela, em vez de forjar um caminho diferente.
Um contrato geracional honesto, que comunique as expectativas de ambos os lados, inspira
confiança. É importante compreender o papel de cada um nesse processor: sucedido e
sucessor, baseado sempre no respeito mútuo e na boa comunicação entre as gerações, para
definir os caminhos para os líderes seniores que afirmam sua identidade e status.
1. Repensar o sucesso dos negócios e construa as bases do crescimento sustentável. O ESG está se tornando fundamental para o crescimento dos negócios, e os NextGen precisam
assumir a liderança na construção de uma estratégia ESG. Agora há muito mais opções de
aquisição das novas habilidades necessárias para enfrentar esses desafios.
2. Não ter medo de seguir um caminho diferente. Não fuja das questões fundamentais
que são essenciais para moldar o futuro de uma empresa. O primeiro é repensar o lugar dela
no mundo: que valor único sua empresa cria? E quais recursos permitem que você crie esse
valor melhor do que qualquer outra pessoa? Você está bem posicionado para se manifestar e
agir.
3. Formular e negociar um contrato geracional. Embora as empresas familiares estejam mais dispostas a falar sobre sucessão por causa da pandemia, as fases e condições da sucessão
geralmente não são claras. É essencial ter uma conversa permanente sobre o que impulsionará o crescimento no futuro e qual será o papel da próxima geração para alcançá-lo.
Também é vital ter uma compreensão clara do que os líderes mais jovens precisam fazer para
conquistar a confiança da geração atual.
4. Aprimorar as habilidades de liderança. Todas as gerações, pais e filhos, sabem que tem muito a aprender e ainda sentem que precisam provar seu valor. Mas a liderança hoje requer um conjunto diferente de competências. É hora de questionar se você quer se criar à imagem da geração anterior para ser reconhecido como um líder em potencial. Novos tempos exigem novos tipos de líderes.
Para que as empresas familiares tenham sucesso em um ambiente em rápida mudança, elas
precisam de uma liderança visionária.