No momento de decidir onde aportar um investimento, a qualidade dos indicadores sociais e econômicos de um município são decisivos para a atração de uma empresa. Um estudo analisou a competitividade das 415 maiores cidades do Brasil e formulou um ranking a partir de 65 indicadores técnicos, distribuídos em 13 pilares temáticos e três dimensões (Instituições, Sociedade e Economia). E, nele, algumas cidades cearenses se destacam.
No ranking geral, Fortaleza é considerada a 13ª capital mais competitiva do Brasil e a 2ª do Nordeste, atrás apenas de Recife (PE). No comparativo com todas as cidades brasileiras, porém, cai para 125ª colocação.
Na análise isolada dos indicadores, dentre os municípios cearenses, Sobral é quem mais destaca. É o primeiro lugar do Brasil em qualidade da educação. Também figura, assim como Crato, Maranguape e Quixadá, entre as dez melhores colocações no quesito políticas de meio ambiente.
A qualidade da gestão pública dos municípios foi colocada numa lupa e foi comparada, gerando o Ranking de Competitividade dos Municípios. No terceiro ano do levantamento realizado pelo Centro de Liderança Pública (CLP), em parceria com a Gove e a Seall, foram avaliados os resultados das gestões após o impacto da pandemia.
E, apesar do sucesso em alguns eixos, os municípios cearenses enfrentaram dificuldades maiores: todos perderam colocações no ranking geral, exceto Fortaleza e Quixeramobim.
A avaliação é de que a pandemia prejudicou os resultados das cidades do Norte e Nordeste. Exemplo desse retrocesso é o próprio município de Sobral. Puxado pelo desempenho em educação e contas públicas, em 2021, a cidade teve o segundo melhor desempenho dentre todas as gestões municipais do Nordeste.
Neste ano, apesar de manter a liderança em educação e a 3ª colocação nacional no pilar de Meio Ambiente, Sobral (154ª) figurou fora do top-100 nacional, perdendo 71 posições no ranking.
Fortaleza subiu uma posição. A melhor gestão do Nordeste é a de Recife (82ª), única que ficou no top-100 neste ano. Ainda assim, perdeu 27 posições no ranking.
Lucas Cepeda, gerente de Relações Governamentais e Competitividade do CLP, interpreta esse movimento como um aprofundamento das desigualdades regionais, já que as cidades do Sul e Sudeste dominam as primeiras 100 posições do ranking, enquanto as do Norte e Nordeste figuram em praticamente todas as últimas posições.
"É difícil saber em quanto tempo Norte e Nordeste podem se recuperar. As diferenças sempre existiram, mas foram aprofundadas. Precisamos ver como será essa retomada em 2022 e como as gestões vão lidar com essa nova realidade social", avalia Lucas.
Julio Racchumi, professor do Departamento de Estudos Interdisciplinares (Deinter) e da Pós-Graduação em Avaliação de Políticas Públicas da Universidade Federal do Ceará (UFC), entende que a pandemia evidenciou uma falta de coordenação entre governos e mostrou que as gestões não souberam trabalhar bem em conjunto.
O resultado desse "desencontro" nas ações gerou uma piora nos parâmetros, avalia Julio. O professor lembra que pesquisas sobre aprendizagem publicadas recentemente já destacam essa perda na aprendizagem. No Nordeste, outras áreas como Segurança também apresentam retrocessos importantes.
Julio ainda enfatiza que o processo de recuperação das políticas sociais ainda deve passar por um processo até a recuperação plena. O reflexo desse momento é a maior desigualdade social com ampliação da pobreza, já que essas políticas beneficiam especialmente os mais pobres.
"No momento em que o Auxílio Emergencial passou e as pessoas precisaram se sustentar por conta própria, a pobreza e a desigualdade aumentaram de novo. Neste ano passamos por uma transição, ainda sob os efeitos da pandemia na sociedade", afirma o professor, citando o caso da educação dos alunos, que ainda devem demorar um pouco até recobrar o nível de aprendizagem ideal.