Hoje o caminho mais rápido entre Fortaleza e Juazeiro do Norte é passando por Recife. A mudança acontece após a Avianca deixar de operar no Aeroporto Orlando Bezerra de Menezes e acabar a ligação direta, por meio da aviação comercial, entre a Capital e o Cariri. Além disso, a passagem encareceu e as viagens chegam a durar 18 horas - se a conexão for feita em São Paulo -, o que até então era realizado em apenas uma hora companhia aérea, que está em recuperação judicial.
O valor das passagens entre as duas cidades cearenses saltou da média de R$ 320, preço que era praticado pela Avianca, para R$ 680, pela Azul Linhas Aéreas, com conexão em Recife. Em pesquisa O POVO pela mesma companhia, com partida de Juazeiro do Norte para Fortaleza, o valor não saía por menos de R$ 1.857,79.
O engenheiro aeronáutico pelo Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA) e especialista em Transporte Aéreo, Adalberto Febeliano, explica que outras aéreas vão se beneficiar com a operação deficitária da Avianca, mas no primeiro momento não deve ser positivo para os passageiros.
"Na medida em que se tem uma diminuição da oferta de assentos no mercado, as empresas vão se beneficiar, porque isso inevitavelmente vai levar a preços mais elevados. Quando se diminui a oferta e a demanda continua a mesma, é natural que aumentem os valores", diz.
Na avaliação de Febeliano, Juazeiro do Norte, assim como muitas outras regoões devem ser prejudicadas. "Não só os preços sobem como também aumenta a dificuldade de acesso à cidade. Dois efeitos negativos resultados da crise financeira por que passa a companhia".
O impacto econômico com esse "isolamento" do município já é sentido. A presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL) de Juazeiro do Norte, Zenilde de Sena, destaca que como o aeroporto era um dos mais importantes do "interior do Nordeste", a saída da Avianca, responsável por quase 75% dos voos, influencia negativamente os negócios na região.
"Já estamos sentido o impacto, pois diminui o fluxo de negócios próximo do Dia das Mães", afirma. Ainda segundo Zenilde, os empresários reclamam principalmente do custo da chegada e da saída de Juazeiro do Norte.
Febeliano avalia que não é possível prever até quando devem permanecer os problemas nos aeroportos do País com a atuação deficitária da Avianca.
A disposição de empresas investirem nesta lacuna que se abre no mercado pode ter relação até mesmo com o futuro da economia nacional, muito atrelada aos desdobramentos políticos, como a aprovação de reformas, analisa o especialista em aviação. "São questões de fundo que acabam impactando na ambiência para investimentos".
Alternativa
Com viagem marcada para Fortaleza na próxima semana, o secretário de Desenvolvimento Econômico de Juazeiro do Norte, Michel Araújo, revela que pensa em cancelar o bilhete reservado na companhia aérea e realizar o percurso de carro.
Pesquisa
CONEXÃO EM RECIFE
O POVO pesquisou valores de passagens simulando um passageiro que passe período de cinco dias em Juazeiro do Norte, saindo de Fortaleza no dia 27 e volta no dia 2 de maio. O valor mais em conta sai por R$ 2.465,67 (ida e volta). Voo de última hora pela mesma companhia fica próximo aos R$ 4 mil. A viagem com conexão no Recife faz o trecho durar ao todo 4h40min.
ÔNIBUS
Uma viagem de ônibus saindo da Rodoviária de Fortaleza rumo a Juazeiro do Norte tem preço médio de R$ 95 e duração de aproximadamente 10,5 horas. A empresa Guanabara opera o trecho entre as cidades.
PASSAGENS
Apesar de estar com operação interrompida entre diversos aeroportos, O POVO recebeu denúncia de que passagens ainda estariam sendo vendidas. A reportagem verificou o fato no site da empresa durante a pesquisa de preços para o trecho, realizada na noite de terça-feira, 23. No dia seguinte, o voo aparecia indisponível.
Recuperação judicial da avianca
A 1ª Vara de Falências e Recuperações Judiciais de São Paulo aceitou o pedido de recuperação da empresa em 13/12/2018. A Avianca deve a fornecedores e concessionárias de terminais de aeroportos. A companhia foi alvo de ações judiciais que determinaram reintegração de posse de 14 aviões.
DÍVIDAS
À época, a dívida era de quase R$ 100 milhões com aeroportos. São R$ 9 milhões à Fraport.
REDUÇÃO DE VOOS
A Avianca detinha aproximadamente 16% das operações do Aeroporto de Fortaleza e hoje detém 11%, segundo informa a Fraport Brasil.No Estado, voos envolvendo Fortaleza, Juazeiro do Norte, Brasília, São Paulo e Rio de Janeiro estão cancelados, anunciou a companhia aérea.
PARTICIPAÇÃO
A partir de segunda-feira, 29, a Avianca só vai operar voos entre quatro aeroportos. Congonhas (São Paulo), Santos Dumont (Rio de Janeiro), Brasília e Salvador.
DEMISSÕES
Ontem, a Avianca lançou comunicados aos seus tripulantes informando a necessidade de redução de pessoal. No aviso, a companhia convida funcionários interessados em realizar acordo, a se manifestarem até amanhã (26). O custo da rescisão será analisado antes do acatamento da demissão.
SLOTS
Permissões de pousos e decolagens em aeroportos - os chamados slots - da Avianca, no Aeroporto de Fortaleza, devem ir à leilão no próximo dia 7 de maio. Não existe previsão para a realização do leilão de slots da companhia em Juazeiro do Norte. Gol e Latam aparecem como principais interessadas.
480%
Foi o quanto a passagem variou de preço depois que a Avianca deixou de operar o voo direto entre Juazeiro do Norte e Fortaleza.
Air France aumentará em 12% o número de assentos
Perto de completar quase um ano de operações em Fortaleza, a Air France anunciou nesta quarta, 24, aumento de 12% no número de assentos nos voos da companhia. Para isso, a empresa informou que, a partir de outubro deste ano, passará a operar com a aeronave de Boeing 777-200 nas rotas entre a Capital cearense e Paris (França).
O modelo, que já é utilizado em viagens entre França e São Paulo, será equipado com as cabines Business, Premium Economy e Economy e estará disponível em três voos semanais. Além disso, uma outra novidade está nas novas poltronas, com maior conforto.
"Esse é um movimento significativo para a Air France e estamos muito felizes em disponibilizar o que há de melhor em nossos produtos e serviços", diz Jean-Marc Pouchol, diretor geral Air France-KLM para a América do Sul.