Durante a pandemia, alguns consumidores acima de 50 anos enfrentaram o desafio e, por vezes, o temor do e-commerce e tiveram mais experiências no ambiente virtual. Um total de 38% dos brasileiros a partir de 60 anos passou a utilizar mais os serviços de delivery e 37% a comprar online. Os dados são do estudo "Monitoramento Covid-19: 60 ", conduzido pela agetech Janno (startup do setor de longevidade) em parceria com a empresa de pesquisa MindMiners.
Para o levantamento, foram ouvidas 520 pessoas no Brasil. Os números demonstram que, assim como para os demais públicos, eles também adequaram a rota de consumo em razão do isolamento social. Agora mais próximo da tecnologia, o comprador sênior aguça novas perspectivas e reforça os desafios da economia prateada (silver economy) — conceito que dá nome para a soma das atividades econômicas de quem tem mais de 50 anos, conforme definição da Oxford Economics.
Para a pesquisadora e cofundadora da consultoria Hype50 e da agetech Janno, Layla Vallias, algumas mudanças pressionadas pela situação pandêmica serão definitivas para este consumidor. Dentre elas, a inserção digital, a preocupação com saúde mental e as formas criativas de socialização para o combate da solidão. Por outro lado, a maior consciência sobre a finitude o levou a pensar em planejamento, organização financeira e legado.
"A pandemia de Covid-19 colocou holofotes no público 60 que, da noite para o dia, tornou-se 'grupo de risco'. Este grupo que, apesar de grande, ainda era invisível, passou a ser visto e notado. Já são mais de 30 milhões de brasileiros acima dos 60 no País, e mais de 50 milhões acima dos 50", diz.
"Eles viraram notícia, empresas passaram a observá-los nas ruas e, com demandas explícitas, empreendedores decidiram criar soluções para eles", avalia, acrescentando que a crise sanitária mostrou, também, a necessidade de combater o ageismo. O termo é sobre atitudes negativas em relação à idade.
O professor de Economia da Universidade Presbiteriana Mackenzie, Agostinho Celso Pascalicchio, acredita que e-commerce e delivery, por exemplo, continuarão na rotina desta população. Ele frisa que ela tem participação significativa sobre a economia brasileira, considerando a realidade do envelhecimento populacional, estabilidade econômica e poder aquisitivo. No País, o brasileiro maduro movimenta cerca de R$ 1,6 trilhão por ano. São 86% com mais de 55 anos com renda própria; entre os com 75 anos ou mais, esse índice é de 93%, segundo dados do Bank of America.
No Ceará, o número de pessoas acima dos 60 anos chega a 1,3 milhão, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Estudo do Instituto de Pesquisa e Estratégia Econômica do Ceará (Ipece) mostra que, em 25 anos, haverá mais idosos do que jovens no Estado, mas não há dados sobre o consumo. (Colaborou Miguel Araújo/Especial para O POVO)
O que sabem sobre a pandemia
98% dos entrevistados sabem o que é a Covid-19
50% conhecem parte dos sintomas
84% acreditam que o vírus seja muito perigoso para o público com mais de 60 anos
96% dos entrevistados estão acompanhando o aumento no número de infectados com o novo coronavírus no Brasil
Como se informam
49% buscam informações mais de uma vez por dia
43% buscam informações uma vez por dia
74% relatam ter aumentado o consumo de informações e notícias
68% afirmam ser tevê aberta
51% sites de notícias
48% TV fechada
39% redes sociais
24% Whatsapp.
Confiabilidade
72% dos entrevistados acreditam que as informações passadas pela TV aberta são confiáveis ou muito confiáveis – esse índice sobe para 77% quando o tema é TV fechada
71% acreditam que as informações dos sites de notícias são confiáveis ou muito confiáveis
89% acreditam nos jornais impressos
85% nas rádios
32% nas redes sociais
25% nas informações que recebem pelo Whatsapp
59% nas revistas
O que os preocupa
89% dos brasileiros com mais de 60 anos estão preocupados com uma possível contaminação pela Covid-19
83% com o impacto na economia do País
81% afirmam que a preocupação é que seus amigos e familiares possam ficar doentes
50% se preocupam em perder o emprego ou fonte de renda
Isolamento social
75% dos entrevistados concordam com o isolamento social
98% estão seguindo as orientações da quarentena e saem somente quando necessário (ou, nem saem de casa)
24% estão passando a quarentena sozinhos em casa
Novos hábitos de consumo
71% estão refletindo mais sobre a finitude
89% estão tentando manter a mente ativa para diminuir o impacto emocional
94% estão preocupados com o bem-estar da família e de amigos
4 em cada 10 com mais de 60 anos estão com medo de morrer
62% passaram a assistir mais tevê
61% a cozinhar mais
52% a ler
46% a ficar mais tempo nas redes sociais
41% começaram a consumir mais conteúdo online
40% a conviver mais com familiares e amigos (mesmo a distância)
38% a utilizar mais serviço de delivery
37% começaram a comprar mais produtos online
Entre os produtos mais consumidos online
68% mais ingredientes para cozinhar em casa
58% começou a consumir medicamentos
56% a consumir mais refeições
46% dos brasileiros com mais de 60 anos estão fazendo compras de alimentos e bebidas por delivery
Esse consumidor se adequa a diferentes fases da vida e estabelece prioridades para cada uma delas; conheça os perfis
55 anos e 64 anos
São chamados de geração sanduíche por cuidarem dos filhos e dos pais ao mesmo tempo. Embora sintam o processo do envelhecimento, não se reconhecem como velhos. Muitos trabalham e não pensam em parar; valorizam atividades em família; e sabem a importância dos bons amigos. Quando se divorciam saem para paquerar, namoram e se inscrevem em sites de relacionamento.
65 anos e 74 anos
Família é a base e o núcleo preferido. Já se reconhecem como idosos e sentem o peso dos anos. Muitos entram em depressão; outros, saem dela e descobrem um novo hobby. Para alguns, esse é o momento do resgate de um sonho antigo: viajar para Portugal para conhecer as raízes familiares ou escrever um livro, por exemplo. Gostam de cuidar dos filhos e netos; passam a olhar as questões de saúde e bem-estar com olhar redobrado, já que essa é a fase das doenças crônicas.
75+
Muitos já recebem a atenção de um cuidador em casa ou, em alguns casos, trocam as residências por Instituição de Longa Permanência para Idosos (ILPIs). É nessa fase que dão valor a pequenas alegrias; a gestão da saúde se torna um tema central. O objetivo é se manter com autonomia e mobilidade. Muitos estão fragilizados; outros não. Essa é a fase mais diversa, pois depende das conquistas que os prateados tiveram ao longo da vida: a pesquisa mostra que os que cultivaram amigos e família vivem melhor.
90 e 100+
Mais resilientes e felizes, veem que as necessidades se tornam mais básicas e a vida um presente a ser saboreado todos os dias. Apesar de já terem passado por grandes dores – perda de familiares e amigos – já conhecem os desafios da própria fragilidade física e mental; estão se alimentando e divertindo; estão bem. Mesmo com as doenças crônicas e falta de mobilidade de alguns, adaptam-se a mudanças de saúde e permanecem ativos, sentindo-se mais positivos, felizes, satisfeitos e autoconfiantes.
Mulheres
Na maturidade, a mulher vive uma fase de liberdade para viver e ser o que quiser. Já cuidaram dos filhos e maridos; agora, querem cuidar de si. Estão abertas a novos aprendizados e paixões; são socialmente ativas; muitas se tornam cuidadoras de familiares idosos – e isso pode se tornar um peso para a liberdade.
Homens
Diferente das mulheres, a aposentadoria e a perda do trabalho são muito impactantes; se sentem perdidos dentro da própria casa. A maioria tem poucos amigos e pouco interesse em atividades livres. Alguns decidem voltar a trabalhar; optam por abrir um negócio ou se tornam consultores. Não cuidam muito da saúde e isso pode se tornar um problema.
Fontes: Estudos Tsunami Prateado, conduzida pela Pipe.Social e Hype60+; e "Monitoramento Covid-19:60+", pesquisa conduzida na plataforma de human analytics da MindMiners – em parceria com a consultoria Hype50+ e a agetech Janno