Desde março, quando começou o período de isolamento, Rosângela Chuvinski, diretora da creche-escola de educação infantil SOS Mamãe Coruja, no bairro Cidade dos Funcionários, vem se desdobrando em busca de soluções para garantir a continuidade das atividades.
Investiu em tecnologia para transmissão das aulas de forma remota, capacitação de professores, distribuição de quites com materiais lúdicos para ajudar a família no suporte às atividades, adaptou a estrutura da escola com a instalação de pias nas áreas externas, equipamentos de proteção, além de protocolos próprios para garantir a segurança sanitária dos alunos no retorno às aulas.
Porém, passados mais de cinco meses, a preocupação agora é não ter mais para quem voltar. Cerca de 80% das matrículas já foram canceladas pelos pais. Já não há mais, por exemplo, alunos nas turmas de berçário ou no Infantil I.
“Estamos funcionando com um nível baixíssimo de alunos. Se não houver flexibilização e a gente não puder voltar, não sei se consigo continuar até o fim do ano”, desabafa Rosângela.
Drama semelhante enfrentam a creche-escola Kids Júnior, no Passaré, e a Kids Baby, na Cidade dos Funcionários, há 16 anos no mercado. A administradora das unidades, Niviania Reinaldo, conta que mesmo oferecendo mais de 50% de desconto na mensalidade durante a pandemia, não tem conseguido fugir dos cancelamentos. Das cerca de 170 crianças que começaram o ano escolar, nas duas unidades, restam apenas 15 alunos ativos.
“Muitos pais também foram prejudicados nesta crise, ficaram desempregados ou tiveram a renda reduzida. Além disso, eles têm nos relatado que não estão conseguindo acompanhar os filhos porque precisam trabalhar. O que cria um outro problema, porque eles não têm com quem deixar as crianças. A maioria diz que quer continuar, que pretende voltar quando reabrir, mas até lá fica uma situação muito complicada”, afirma.
Ela diz que mesmo diante da queda brusca de faturamento, tem feito vários investimentos para se adequar ao sistema digital - alguns equipamentos custaram mais de R$ 7 mil - e recorrido às medidas de socorro do governo para evitar a dispensa dos funcionários. Mas com o passar dos meses foi inevitável. Dos 37 colaboradores, hoje, tem 14, essencialmente, professores.
“Para mim está sendo como uma prova de fé. Nunca vivi isso e posso dizer estou fazendo tudo o que posso para manter esse sonho como educadora e, se Deus quiser, vamos conseguir. Nós nos reinventamos, nos aproximamos das famílias, estava ali para eles, dei aula para os meus alunos, mas é, acima de tudo, muito triste o que está acontecendo”.
Estas não são situações isoladas. Das cerca de 180 instituições de ensino que já fecharam no Estado desde o início da pandemia, a maior parte, 40%, são creches e escolas da educação infantil, de acordo com a presidente do Sindicato dos Estabelecimentos Particulares de Ensino do Ceará (Sinepe), Andrea Nogueira Sales. O percentual restante se distribui nos outros anos. A demissão no setor é superior a 30% e o índice de inadimplência, que já era alto, vem aumentando significativamente nesta crise.
“Na educação infantil, apesar de todo empenho, é mais difícil fazer a adaptação, porque o ensino digital não caminha na mesma desenvoltura do que em séries maiores, em que o aluno já consegue acompanhar e fazer as atividades com maior autonomia”.
Andrea também diz que muitas escolas de pequeno e médio porte também esbarram na dificuldade de fazer este investimento em tecnologia para garantir tanto para o ensino a distância, como para adequação necessária para reabertura, e ainda lidar com os custos como aluguel, quadro de funcionários etc. “Uma coisa era se preparar para aguentar dois meses, outra, são cinco meses, fazer investimentos e seguir fechado”.
NÚMEROS
- O Estado conta com 11.123 escolas públicas e privadas, sendo 2.493 escolas privadas.
- Dentre as 2.493 escolas, 1386 oferecem ensino infantil, sendo que 120 são exclusivamente de ensino infantil.
Fonte: Sinepe
PROTOCOLO DE RETOMADA SUGERIDO ÀS ESCOLAS
Distanciamento de 1,5 m entre os alunos nas salas de aula
Medição de temperatura nas entradas das instituições e proibição daqueles que apresentarem 37,5°C ou mais
Todos os alunos e profissionais deverão utilizar máscaras e renovar o equipamento a cada três horas
Professores, em sala de aula, deverão utilizar faceshield (escudo facial) e manter distanciamento mínimo de 2 m com os alunos
As escolas deverão escalonar os horários de entrada, saída, intervalo e refeições das turmas para evitar aglomerações
As escolas deverão organizar espaços para que alunos e professores mantenham uma distância mínima de 1,5 metro entre eles e as demais pessoas em todas as atividades presenciais
As escolas deverão assegurar que os sistemas de ventilação funcionem corretamente e aumentar a circulação e renovação do ar externo ao máximo possível, por exemplo, abrindo janelas e portas
Deve haver adaptação de bebedouros para uso somente como forma de encher garrafas pessoais
As escolas devem disponibilizar álcool 70% em qualquer espaço de uso comum
As escolas devem fornecer guias físicos, como fita adesiva no chão ou nas calçadas e placas nas paredes, para organizar o fluxo de pessoas e garantir que profissionais e alunos permaneçam pelo menos dois metros afastados nas filas e locais com maior movimentação de pessoas
Deve haver pulverização de todos os ambientes antes da chegada das pessoas envolvidas nas atividades presenciais
As escolas devem limpar e desinfetar as superfícies frequentemente tocadas
As escolas devem garantir que alunos e profissionais mantenham os cabelos presos e não utilizam bijuterias, joias, anéis, relógios e outros adereços, para assegurar a correta higienização das mãos e antebraços
Também deve ser vedado o compartilhamento de itens de uso pessoal entre alunos e profissionais, como Equipamentos de Proteção Individual (EPI), fones, aparelhos de telefone e outros
Fonte: Sinepe
LINHA DO TEMPO DO CORONAVÍRUS NO ESTADO
15 de março
Três primeiros casos de coronavírus são confirmados
20 de março
Camilo Santana decreta isolamento social
26 de março
Primeira morte por coronavírus é registrada
6 de abril
Ceará chega a mil casos confirmados
4 de maio
Ceará chega a 10 mil casos confirmados
8 de maio
Camilo decreta isolamento social rígido (lockdown) em Fortaleza
9 de maio
Mil mortes por coronavírus são confirmadas no Ceará
1º de junho
Fim do lockdown em Fortaleza
8 de junho
Fortaleza entra na fase 1 da retomada, com a liberação parcial do comércio, incluindo shoppings
22 de junho
Fortaleza entra na fase 2 da retomada, com a liberação parcial de atividades religiosas (20% da capacidade), comércio de produtos não essenciais, restaurantes no período matutino e Esporte, cultura e lazer
25 de junho
Ceará chega a 100 mil casos confirmados
6 de julho
Fortaleza entra para fase 3 da retomada, com a liberação parcial de partidas de futebol, barracas de praia e atividades religiosas (50% de capacidade)
20 de julho
Fortaleza entra para fase 4 da retomada, com a liberação parcial de academias e restaurantes no período noturno. Atividades religiosas podem atingir 100% de capacidade. Instituições de ensino seguem fechadas
19 de agosto
Ceará chega a 200 mil casos confirmados