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Falta de insumos e alta nos preços ameaçam recuperação da Construção Civil no Ceará
Economia

Falta de insumos e alta nos preços ameaçam recuperação da Construção Civil no Ceará

Há dificuldade para adquirir tijolo e PVC, por exemplo. O Custo Unitário Básico da Construção (CUB) também subiu de R$ 1.225,01 para R$ 1.279,46
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o impacto no setor do estado (Foto: luciana pimenta)
Foto: luciana pimenta o impacto no setor do estado

Desde junho, quando começou o processo de reabertura da economia no Ceará, a construção civil foi um dos primeiros setores a responder à retomada do emprego no Estado. São três meses consecutivos de alta, fechando agosto com saldo positivo de 2,7 mil novos postos de trabalho, segundo dados do Cadastro Geral de Empregos (Caged). Porém, a escalada nos preços dos materiais de construção e a falta de alguns produtos no mercado, como tijolo e PVC, colocam em risco essa trajetória de recuperação.

 Isso porque um dos grandes trunfos para que haja retomada dos lançamentos de imóveis, mesmo em um momento de muita fragilidade econômica do lado do consumidor como agora, é o congelamento dos preços. E há um contexto para isso: a taxa básica de juros, em 2%, nunca esteve em patamar tão baixo, além disso, o estoque de imóveis, apesar de ter tido baixa significativa - de 12 mil unidades, há quatro anos, para 4 mil unidades agora - ainda está favorecendo a disputa pelo menor preço.

"Com a redução do estoque, as construtoras estão voltando a fazer lançamentos, mas manter os preços é essencial. O problema é que estamos muito preocupados com a alta nos preços dos materiais que têm sido exacerbados. Tijolo, cimento, aço, tudo aumentou muito. Também estamos com muita dificuldade de encontrar alguns produtos no mercado", relatou o presidente do Sindicato das Construtoras no Ceará (Sinduscon -CE), Patriolino Dias.

Segundo ele, por enquanto, os preços dos imóveis estão sendo segurados, apesar de alta nos custos. Mas não se sabe por quanto tempo. O setor projeta um valor geral de vendas (VGV) em lançamentos neste ano de R$ 1,4 bilhão. Além disso, a dificuldade em relação aos materiais pode afetar as operações, sobretudo, quando o cronograma de início de obras avançar com mais força, no primeiro semestre de 2021. "Esperamos que seja algo sazonal, porque ninguém acredita que o preço seja esse mesmo".

O Custo Unitário Básico da Construção (CUB) médio padrão residencial, medido pelo Sinduscon-CE, subiu de R$ 1.225,01, em março, início da pandemia, para R$ 1.279,46, em setembro.

A alta dos preços vem sendo ocasionada por fatores, como o aumento da procura por materiais de construção na pandemia. Depois de móveis, as vendas de insumos de construção foram as que registraram maior crescimento no volume de vendas no Estado, de 23,6%, ante julho do ano passado, segundo a Pesquisa Mensal do Comércio do IBGE.

E não é somente no Ceará. Uma pesquisa da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (Cbic) com 462 empresas de 25 estados mostrou que 95% delas verificaram aumento no preço do cimento e 90%, no de cabos elétricos. No caso do concreto, 81% perceberam alta de preço durante a pandemia. E em bloco cerâmico, 75%.

A escassez de alguns produtos no mercado também preocupa. Há uma queixa generalizada, por exemplo, sobre a falta de tijolos e peças em PVC no mercado.

No primeiro caso, algumas fábricas cearenses estão trabalhando com entregas por agendamento para daqui a 20, 25 dias, explica o presidente do Sindicerâmicas, Marcelo Tavares.

Segundo ele, a razão para o desabastecimento é porque as fábricas não estavam preparadas para este aumento repentino da demanda. Ainda mais depois de anos de crise no setor da construção, o que fez com que muitas indústrias de cerâmica fechassem as portas no Estado. Para se ter uma ideia, em 2012, havia 415 parques fabris no Estado. Em 2018, último levantamento, esse número caiu para 280.

No início da pandemia, também houve uma queda brusca de demanda, o que fez com que muitas indústrias, mesmo sendo autorizadas a continuar funcionando, desligassem parte dos fornos. "Isso começa a mudar em maio, quando as pessoas começaram a fazer reformas em casa e foi subindo mês a mês. Em junho, quando a indústria da construção voltou, foi uma loucura, a demanda foi dez vezes maior. Estamos tendo que fazer agendamento de entrega como há muitos anos não fazíamos", afirmou Tavares, ressaltando que a falta de lenha no mercado também dificultou o processo.

Ele nega, no entanto, que haja um movimento de paralisação proposital dos fornos para inflar preços. "Existem boatos circulando sobre isso, mas não é verdade. Das fábricas que estavam funcionando no início do ano, 100% já voltaram e quem estava parado há dois, três anos, está tentando retornar, só que esse é um processo lento".

o impacto no setor do estado
o impacto no setor do estado (Foto: luciana pimenta)

 

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