É inegável, o comércio varejista se mantém como setor preferido dos empreendedores ao abrir um novo negócio. Nem um pouco intimidados com as adversidades geradas pelo coronavírus em 2020, eles mantiveram a abertura de empresas em alta no Ceará em janeiro de 2021, com 11,2 mil novos registros na Junta Comercial do Ceará, dos quais 4,3 mil são de comércios. Agora, quando o assunto é Covid-19 e varejo, há um consenso: a pandemia pulverizou alguns conceitos e lançou os comerciantes na internet com uma urgência jamais imaginada.
Quando o funcionamento foi comprometido pelo lockdown e portas entreabertas demonstravam a vontade de continuar, mesmo com a necessidade de suspender, reduzir jornadas ou até mesmo demitir funcionários, o comércio eletrônico se consolidou entre pequenos e grandes, tornando-se uma realidade e não mais um debate de convenções sobre o futuro do setor no Estado.
Dados do Portal do Empreendedor, que contabilizam a quantidade de microempreendedores individuais (MEI) - responsáveis por mais de 90% das empresas locais – apontam que, atualmente, 69.087 MEIs atuam exclusivamente na internet no Ceará. O número corresponde a 13,2% do total de MEIs cearenses – parcela significativa considerando que boa parte dos 274.165 MEIs em atividades em local fixo já fazem uso de plataformas on-line.
Mas a participação crescente no comércio eletrônico alerta também para cuidados que garantam a competitividade e o sucesso do negócio, como observa Alice Mesquita, secretária-executiva do Sebrae-CE. Ciente das possibilidades dos empreendedores locais, ela considera tanto as redes sociais quanto sites próprios e marketplaces como ambientes nos quais o empresário busca atuar na internet.
Antes de qualquer coisa, Alice ressalta a importância de conhecer o mercado on-line, os concorrentes, os preços ofertados por eles e, especialmente, os custos de todo o processo. A logística, desde a compra no fornecedor até o produto chegar ao cliente, é motivo de uma preocupação especial por parte dela justamente porque muitos novos empresários se lançam no e-commerce sem esse conhecimento prévio.
“O que percebemos é que muita gente não conhece o que é estar no meio digital. O negócio tem muitos custos envolvidos, algumas coisas que são totalmente diferentes do meio físico e é importante que ele se informe. O processo de produção é muito complexo e a gente teve muitos que conseguiram a transformação digital rápida, identificando de forma adequada as necessidades, como capacitar funcionários, garantir estoque... Veem os outros fazendo e acham que é fácil, mas o monitoramento desses canais é bem mais crítico”, analisa.
Alice ressalta ainda a importância de não gerar barreiras ao cliente, de oferecer a maior quantidade de informação possível para que a compra seja efetuada sem dúvidas. “Nada de: 'Te respondo no inbox'. Nosso poder de pesquisa na internet é muito maior. Então, a concorrência é muito maior, e quanto menos bloqueio melhor”, aconselha.
Os conselhos da secretária executiva do Sebrae-CE ainda envolvem o básico: uma boa apresentação na internet, com boa fotografia e, principalmente, o mais fiel do produto real para que não haja frustração por parte do cliente ao receber o item. Mas também questões que exigem conhecimento prévio do ramo, a exemplo dos preços a serem cobrados e os custos de entregas.
A plataforma na qual atua também é motivo de atenção, uma vez que as redes sociais dependem exclusivamente do atendimento pessoa a pessoa, e sites próprios e marketplaces envolvem uma organização maior, com softwares e pessoal dedicado ao processo. “É preciso monitorar essa rede, entender do meio digital. Agir para que esteja bem ‘rankiado’ nos canais de busca”, completa.
Após quase um ano de pesquisa de mercado com uma pandemia no meio, os planos de Ana Paula Lima não puderam ser mais adiados. Em outubro do ano passado, ela resolveu enfrentar as dificuldades da crise deflagrada pela Covid-19 e montou dois quiosques franqueados para venda de donuts e sonhos, da marca Dream Donuts. No início de janeiro, recebeu o convite da rede de shoppings RioMar para entrar no marketplace do lugar. O impulso foi tão promissor que a empreendedora aderiu também a aplicativos de venda.
"Até então eu não tinha nenhum delivery, nem app. Foi uma boa surpresa pra gente. Foi isso que ajudou a gente a continuar. Tem dias que eu vendo mais pela plataforma do que para o cliente que chega lá", revela.
Hoje, Ana Paula emprega quatro funcionários em cada quiosque e, ciente da ameaça ao funcionamento do comércio, ela projeta investir ainda mais nas plataformas online, garantindo as entregas via o marketplace do RioMar e aplicativos.
"A única coisa que passa na nossa cabeça é isso: focar na parte de delivery, porque se fechar realmente eu preciso fazer com que o delivery ajude no faturamento", afirma.
Proprietário de três lojas de artigos para animais, Raul Matos optou por montar toda a logística de entregas antes mesmo da pandemia arrebatar o funcionamento das lojas físicas no ano passado. O investimento mostrou a ele que a saída era investir na presença on-line da Bispet petshop. Mesmo depois de abrir a terceira unidade no fim do ano passado, ele concentra esforços na expansão pelo comércio eletrônico.
"Fiz uns cursos e as pessoas diziam que a gente precisava se destacar nisso, de chegar até o cliente. Vi que meu mercado não fazia e, toda vez que eu falava, diziam que não paga conta, que vai ter custo de graça. Hoje, a minha operação é 50% física e 50% online", orgulha-se.
No entanto, Raul só tem participação na OLX, que considera "não ter tantos profissionais". Para ingressar com força no e-commerce ele planeja aderir a aplicativos como o Rappi e estuda ingressar no Mercado Livre e no marketplace do Magazine Luiza. A possibilidade de projetar sua marca para o Brasil todo anima o empresário, que já toma os devidos cuidados com o catálogo oferecido na internet e a logística de entregas (preços e prazos, especificamente).
Raul planeja concentrar a operação delivery em uma das unidades. "Centralizando tudo em um canto vamos ter o pós-venda para saber como foi a compra, no sentindo de maximizar pro cliente. Vamos saber com quanto tempo demora o consumo do produto e vamos mandar um alerta pra ele dizendo que tá próximo de acabar", cita, almejando ainda mais proximidade com o público-alvo.
Onde buscar conhecimento
Em meio à pandemia, varejistas têm buscado na tecnologia soluções para sobreviver e se mostrarem cada vez mais relevantes ao consumidor. Investem em ferramentas do e-commerce, em delivery e em praticidades ao cliente.