Logo O POVO+
Enquanto governo federal é criticado, empresas buscam parceria com Estado e entidades para combater a pandemia
Economia

Enquanto governo federal é criticado, empresas buscam parceria com Estado e entidades para combater a pandemia

Ações de responsabilidade social têm emergido de empresas e representações setoriais. No Ceará, a Diageo tem ações junto a bares e restaurantes, o Senai trabalha junto ao setor de saúde e M. Dias Branco doa alimentos
Edição Impressa
Tipo Notícia Por
SENAI Ceará e Governo do Estado reabrem Central de Ventiladores Mecânicos e Equipamentos Respiratórios para atender a demanda da segunda onda da pandemia no Ceará
 (Foto: Marília Camelo / Senai)
Foto: Marília Camelo / Senai SENAI Ceará e Governo do Estado reabrem Central de Ventiladores Mecânicos e Equipamentos Respiratórios para atender a demanda da segunda onda da pandemia no Ceará

Em meio às críticas sobre a forma como o Governo Federal tem lidado com a pandemia da Covid-19 no Brasil, os entes privados se mobilizam no combate à pandemia no momento mais agudo da crise desde o seu início. Os empresários se voltam para ações para tentar sair o mais rápido possível da crise sanitária e econômica pela qual o País passa. No Ceará, as medidas chegam a negociações de compras de vacinas, doações de álcool gel, mudança das linhas de produção para fabricar equipamentos hospitalares, além de auxílio no aumento de leitos em hospitais de campanha e cilindros de oxigênio.

VEJA MAIS | Leia a carta assinada por economistas, banqueiros e empresários na íntegra

Fator primordial para isso foi a abertura de um amplo canal de diálogo, afirmam os gestores ouvidos pelo O POVO. CEO da Mallory e presidente do núcleo Fortaleza do Grupo Mulheres do Brasil, Annette de Castro conta que as empresas têm a consciência de que, além do lucro, é necessário um entorno saudável e feliz. E, para que isso ocorra, parcerias entre os entes públicos e privados estão acontecendo.

A gestora destaca os trabalhos em parceria com a Federação das Indústrias do Estado do Ceará (Fiec) de juntar forças para doação de cestas básicas. Mas destaca o esforço do projeto Unidos pela Vacina, que reúne várias empresas que se disponibilizam a auxiliar nas necessidades dos municípios. Annette conta que informações estão sendo levantadas com todas as prefeituras, já há dados de mais de 4 mil. No Ceará, quase todos informaram a sua situação, mas ainda faltam 39 municípios.

Annette diz que o objetivo é fechar a pesquisa em abril. E, a disposição do grupo de trabalho do projeto vai além conhecer as necessidades dos municípios que vão aplicar as doses, mas atendê-los já com outras soluções. "Em um momento de tanta dificuldade, não podemos apenas jogar as pedras e procurar culpados. (Nos municípios) Vemos outras dores, pois faltam insumos, medicamentos, EPIs."

No projeto Unidos pela Vacina, há um marketplace em que as empresas participantes podem doar diretamente aos municípios. O incentivo de Annette é que essas empresas apadrinhem cidades, coisa que a Mallory fez com Maranguape, onde está sediada, e pode ajudar a gestão pública com o abastecimento de oxigênio. "É o momento de unir todas as áreas, essa é a mensagem que precisamos passar."

Central de Ventiladores Mecânicos e Equipamentos Respiratórios foi reativada e vai contribuir com o combate à pandemia no Ceará.
Central de Ventiladores Mecânicos e Equipamentos Respiratórios foi reativada e vai contribuir com o combate à pandemia no Ceará. (Foto: Marília Camelo / Senai)

Ações de parceria entre o público e o privado

Paulo André Holanda, diretor do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial no Ceará (Senai-CE), destaca que a indústria cearense conquistou um papel de grande relevância no combate à pandemia no Estado, com desenvolvimento de inovações na área de saúde como é o elmo (capacete de recuperação assistida), produção de máscaras, álcool gel, aventais de TNT e câmaras de ozônio para desinfecção em hospitais públicos. Também treinamento de profissionais de saúde, doação de respiradores, doação de valores para abertura de 115 UTIs nos hospitais de campanha e captação de cilindros de oxigênio.

Um dos projetos de maior destaque, e que foi retomado para esta segunda onda de pandemia, é a Central de Ventiladores Mecânicos e Equipamentos Respiratórios. Paulo André afirma que em 2020 foram consertados 2,5 mil aparelhos de ventilação da rede pública de saúde, poupando recursos do Estado, pois no Senai são produzidas as peças e revitalizados os aparelhos.

"No Senai, desde o início da pandemia, em 25 de março de 2020, existem ações de enfrentamento. Foram muitas ações de ajuda aos entes públicos e a indústria foi protagonista, o presidente da Fiec foi o condutor, chamando os industriais. Unidos, Governo do Estado, academia e junto com o setor produtivo conseguem encontrar soluções para o desenvolvimento do Ceará", completa.

Esforço solidário

Entre as grandes empresas nacionais, houve a preocupação de doação de recursos para ajudar no financiamento das ações. De acordo com o Monitor de Doações Covid-19, produzido pela Associação Brasileira de Captadores de Recursos (ABCR), foram mais de R$ 6,6 bilhões em recursos doados por mais de 580 mil pessoas e empresas.

João Paulo Vergueiro, diretor executivo da ABCR, destaca que empresas não são tradicionais doadoras, quando comparadas com indivíduos e mesmo as próprias organizações, mas nesta crise se converteram num farol de apoio solidário. O alerta, porém, ficou por conta da queda nas doações entre outubro e o início de 2021, mas o quadro voltou a ser revertido com a nova onda da pandemia.

"Já temos identificado o maior valor em doações desde outubro, o que mostra um novo repique de doações, ainda que longe do que foi observado no começo, mas 85% de tudo o que foi doado veio a partir das empresas ou de seus braços filantrópicos", destaca.

Ainda segundo a ABCR, além da doação em dinheiro, doação de produtos e serviços também fazem parte dessa rotina de solidariedade das empresas. A Ambev, por exemplo, produziu 1 milhão de unidades de álcool gel que foram distribuídas pelo País, assim como 3 milhões de máscaras face shield. Também participaram do envio de 500 cilindros de oxigênio ao Amazonas em janeiro. O anúncio mais recente foi de transformar uma cervejaria no interior de São Paulo, em uma usina para fabricação e envase de oxigênio hospitalar.

Ao O POVO, a empresa diz em nota que vem dedicando suas competências, seus times e operações para ajudar o país a enfrentar a pandemia da melhor forma possível. "Entendemos que todos podem e devem fazer tudo que está ao seu alcance para ajudar. O setor privado, do qual fazemos parte, tem uma responsabilidade fundamental nesse cenário".

Daniela de Fiori, diretora da Diageo, da marca Ypióca
Daniela de Fiori, diretora da Diageo, da marca Ypióca (Foto: Eugenio Goulart / Divulgação Diageo)

Ações com setores impactados

Também preocupada com o impacto da pandemia, a Diageo, dona da marca Ypióca, atua junto ao setor de saúde e de bares e restaurantes, um dos mais impactados pela crise. A diretora de Relações Corporativas, Daniela de Fiori, comenta que a pandemia tem sido cruel com o setor de alimentação fora do lar, com 30% a 40% das casas no País tendo fechado as portas no Brasil, de acordo com dados da Abrasel. Ela avalia que para essas empresas sobreviver com o delivery é complicado porque a maioria das casas nunca trabalhou dessa forma, especialmente em cidades menores. E essas plataformas exigem investimentos, como em embalagens, sacolas, talheres descartáveis, por exemplo.

Por isso foi lançado o Movimento Pró-Bar, que atende bares e restaurantes de Fortaleza, Aquiraz, Caucaia, Cumbuco, Eusébio, Guararu, Maracanaú e Maranguape, com um fundo de R$ 15 milhões a ser distribuído entre os negócios inscritos para aquisição de equipamentos para implantação de protocolos de higiene e distanciamento social. São mais de mil vagas disponíveis no site www.DiageoBarAcademy.com.

Para receber aporte da empresa não é necessário ter qualquer vínculo comercial, mas é preciso comprovar funcionamento desde antes de março de 2019, ter alvará de funcionamento e tornar-se embaixador do Manifesto do #BarResponsável, assumindo compromissos de colocar em prática protocolos de higiene e distanciamento social, de promover a responsabilidade e a moderação no consumo de bebidas alcoólicas, incentivar a diversidade e a inclusão e combater o assédio dentro de seus ambientes.

A diretora da Diageo conta que 256 estabelecimentos cearenses estão inscritos e 43 já receberam investimento. Ela destaca que a Diageo se juntou ao movimento Unidos pela Vacina e que no esforço para evitar o contágio de funcionários, chegou até a diminuir a produtividade para reduzir a circulação de pessoas nas fábricas.

Aumento da fome na pandemia

Em meio à pandemia, a crise econômica e aumento do desemprego se sobressaíram e a fome voltou a virar realidade para muitas famílias. E esse foi o foco da cearense M. Dias Branco. O gerente de sustentabilidade da empresa, Aled Parry, informa que ao longo de 2020 as doações da empresa somaram mais de R$ R$ 18 milhões em produtos, mais de 3.200 toneladas de alimentos. Em 2021, considerando os meses de janeiro e fevereiro, já somamos 7,7 milhões em alimentos, o que representa 1.118 toneladas.

"A M. Dias Branco acredita que apoiar causas sociais e ajudar a minimizar os desafios e dores atuais da população precisam estar na pauta das empresas que possuem um relevante trabalho social. Temos expandido nossas doações de alimentos nesse momento mais crítico da pandemia, especialmente com as comunidades carentes que ficam no entorno de nossas unidades", completa.

Sede do Instituto Butantan, que produz a vacina Coronavac em parceria com um laboratório chinês.
Sede do Instituto Butantan, que produz a vacina Coronavac em parceria com um laboratório chinês. (Foto: Instituto Butantan/Direitos reservados)

União que gera impacto

A Ypê, por exemplo, se juntou a um grupo de grandes empresas, como Amazon, Ambev, B2W, Fundação Casas Bahia, Fundo Social/Itaú entre outros, e doou R$ 1 milhão para a construção de uma nova fábrica para produção de vacinas contra a Covid-19 no Instituto Butantan, em São Paulo. A doação feita à organização social Comunitas, que atua em parceria com o governo de São Paulo, irá ajudar na ampliação da produção de cerca de 100 milhões de doses da Coronavac por ano. Além disso, a nova fábrica permitirá que a vacina seja nacional, sem a necessidade de importar a matéria-prima utilizada para o imunizante, o Insumo Farmacêutico Ativo (IFA).

Até agora, 40 empresas já doaram um total de R$ 186,6 milhões para a viabilização da nova fábrica, que está sendo custeada integralmente pela iniciativa privada. A nova unidade ocupará 7 mil m² e será quase quatro vezes maior que a atual fábrica do Instituto Butantan, que tem 1.880 m². Além da Coronavac, a planta terá tecnologia para produzir também outros imunizantes. A estimativa é de que a unidade esteja pronta em setembro.

"A Ypê acredita na união de forças como elemento essencial para o enfrentamento da pandemia. Por isso, nos engajamos em ações que façam a diferença no combate à doença e ajudem de maneira direta e solidária a população brasileira", afirmou o presidente da Ypê, Waldir Beira Júnior.

Entre os bancos, a mobilização é contínua. O Itaú Unibanco, por exemplo, foi o ente privado que doou um dos maiores montantes, de R$ 1,2 bilhão. Agora, o foco das ações sociais da instituições se voltaram ao Amazonas, com o programa Todos Pela Saúde, que investiu na aquisição de cinco usinas locais de reabastecimento de cilindro de oxigênio, itens de primeira necessidade e insumos para melhorar a capacidade dos respiradores em 500 leitos.

De acordo com cálculos da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), a soma de ações das instituições financeiras já rendeu R$ 1,7 bilhão em doações e, até janeiro, também R$ 380,5 milhões em aportes para a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e o Instituto Butantan.

O que você achou desse conteúdo?