Os cearenses devem se tornar muito mais conectados até 2025 se as projeções da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) se confirmarem. Atualizado nesta semana, o Plano Estrutural de Redes de Telecomunicações (Pert) estima um aumento de 164,49% no tráfego de dados entre os usuários do Estado via banda larga fixa – modalidade cujas conexões devem saltar 41,14% nos próximos quatro anos. Em menor escala, as conexões móveis devem crescer 15,48% no mesmo período, enquanto o consumo de dados avançará 71,62%.
Mais do que filmes em plataformas de streaming, músicas e podcasts on-line ou mesmo chamadas por vídeo, esse volume representa também um avanço no acesso à conexão, e isso tem “um impacto positivo comprovado no desenvolvimento econômico”. “Os serviços de telecomunicações representam a engrenagem de vários setores da economia, que auxiliam no desenvolvimento social e atraem grandes somas de investimentos nacionais e estrangeiros, além de possibilitar a geração de múltiplas oportunidades de emprego em diversos segmentos”, aponta o relatório do Pert.
Nesta perspectiva, o Ceará abre certa vantagem sobre os demais estados, segundo destaca Rodrigo Porto, professor titular de Telecomunicações da Universidade Federal do Ceará (UFC). Ele aponta a localização estratégica de Fortaleza como motivo para a cidade ter se tornado um dos maiores pontos de conexão de cabos submarinos de fibra ótica do planeta, além da formação de um backbone (rede de terminais que permitem conexão de canais de comunicação) de fibra ótica pelo Cinturão Digital e o desenvolvimento deste setor no interior.
Tal estrutura beneficia principalmente as conexões fixas, ou seja, aquelas realizadas por cabos de rede ou fibras óticas que chegam às casas dos consumidores por conexão nos postes. Esta modalidade deve encerrar 2021 com 772.822 conexões, mas, em 2025, vai superar a marca de 1 milhão (1.090.823, precisamente), segundo a Anatel. O consumo de dados, então, vai sair de 24,73 milhões de megabits por segundo (2021) para 65,4 milhões de megabits por segundo (2025) de tráfego, conforme as projeções da Agência.
O plano ainda reconhece que "a capacidade de conexão oferecida às camadas mais pobres da população precisa ser melhorada”. “A proposta ora formulada tem por visão estimular a penetração dos serviços que permitam o acesso à banda larga e alavancar a infraestrutura de telecomunicações que permita a todas as pessoas e empresas, em áreas urbanas e rurais, participarem do ecossistema digital. E, além disso, proporcionar um reforço para aumentar a competitividade do Brasil em todas as esferas da economia", diz o texto do Pert.
Porto observa um cenário diferente para a interiorização no Ceará, uma vez que o Cinturão Digital proporcionou capilaridade no interior cearense, a partir dos pequenos provedores de internet. O modelo já é conhecido: dois pares de fibra ótica foram licitados pelo governo cearense para o consórcio BWM (formado pelas empresas Brisanet, Wirelink e Mob Telecom), que terceirizou as conexões e expandiu o backbone. No ano passado, o modelo de negócio girou R$ 1 bilhão no Estado a partir de mais de 500 pequenas empresas que empregaram diretamente 4 mil pessoas.
Mas a solidez do mercado de banda larga fixa ainda não chegou à móvel. Os números menos expressivos, apesar do avanço inegável projetado pela Anatel, dão um tom mais conservador para a modalidade de conexão. No Ceará, 2021 deve encerrar com 11,13 milhões de chips ativos. Já em 2025, a projeção é de 12,86 milhões. O fim das taxas para ligações entre operadoras e o aumento do plano de dados resultou em um encolhimento deste setor nos últimos anos, como analisa o professor, mas a nova geração de internet móvel, o 5G, pode revolucionar todo o cenário.
“Uma grande expectativa desta tecnologia é o seu potencial de ser um gatilho para a inovação: uma visão conjunta da capacidade de interação entre dispositivos, pessoas, realidade virtual, machine learning, largura de banda, queda da latência e computação em nuvem, sinalizam ambiente fértil para inovações sem precedentes vinculadas à interação de pessoas e coisas, gerando maior produtividade”, diz o relatório.
Para professor de Telecomunicações da UFC, o maior gargalo para a implantação da tecnologia deve estar nas condições econômicas desses agentes. “Como está a capacidade de investimento em inovação das indústrias? Implanta-se 5G para alguma inovação na empresa, para automatizar, colocar sensores, fazer uso de inteligência artificial e isso não requer só um investimento em telecomunicações”, analisa.
Já no que diz respeito ao usuário final, Rodrigo Porto diz enxergar gargalos no acesso à tecnologia, vide os altos custos de implantação do 5G se converterem em smartphones e planos mais caros.