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Após entrega de trecho inaugurado por Bolsonaro e Camilo, obra do Anel Viário é deixada por empresas
Economia

Após entrega de trecho inaugurado por Bolsonaro e Camilo, obra do Anel Viário é deixada por empresas

|Rescisão amigável| Pedido enviado pelo consórcio liderado pela Cosampa foi feito no último mês. Dnit e SOP não informam sobre a continuidade
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Reportagem percorreu a Rodovia Anel Viário e encontrou operários e máquinas trabalhando em um trecho próximo a condomínios logísticos, em Maracanaú (Foto: FCO FONTENELE)
Foto: FCO FONTENELE Reportagem percorreu a Rodovia Anel Viário e encontrou operários e máquinas trabalhando em um trecho próximo a condomínios logísticos, em Maracanaú

O aniversário de 11 anos de obras da Rodovia 4º Anel Viário tinha, em fevereiro, tudo para ser comemorado com a conclusão definitiva da duplicação, dos acessos, dos viadutos e dos canteiros dos 32 quilômetros que contornam a Região Metropolitana de Fortaleza ainda em 2021. Mas, cerca de dois meses após a inauguração do trecho que cruza a Rodovia CE-065 pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e pelo governador Camilo Santana (PT), o consórcio responsável pediu rescisão amigável do contrato e largou os canteiros.

A divisão dos holofotes ao mostrar a evolução da obra de um dos mais intensos corredores logísticos do Ceará deve-se à parceria firmada entre Governo do Estado, via Superintendência de Obras Públicas (SOP), e Governo Federal, via Departamento de Infraestrutura de Transportes (Dnit), ainda quando Cid Gomes era o governador e Dilma Rousseff era presidente, em 2011. Desta data até hoje, três consórcios trabalharam na Rodovia, mais de R$ 200 milhões foram aplicados e prejuízos foram contabilizados desde o Distrito Industrial de Maracanaú até a entrada do Complexo Industrial e Portuário do Pecém (Cipp), em Caucaia.

Fevereiro foi o mês escolhido para as visitas dos chefes de governo, estadual e federal. Mas a ida dos dois ao viaduto de acesso a Maranguape – o último a ser entregue – se deu em situações distintas. Enquanto Camilo apareceu sem avisar no dia de liberação das vias com uma equipe reduzida e sem realizar nenhum ato, Bolsonaro marcou a visita, montou palanque e ainda criticou as medidas de distanciamento social.

“Esse problema político que nós temos hoje do Governo do Estado com o Governo Federal tem atrapalhado um pouco a obra. Mas, no ano passado, eles parecem que deixaram um pouco isso aí de lado e andou bem, deu um avanço muito grande”, comenta Marcelo Maranhão, presidente da Câmara Setorial Logística (CSLog), sobre o ritmo de construção que culminou na entrega do viaduto em fevereiro deste ano.

Nos 32km do Anel Viário passam parte da produção que circula, entre embarques e desembarques, nos dois portos cearenses, o do Pecém e o do Mucuripe. Além disso, estão na margem da Rodovia condomínios logísticos e centros de distribuição de varejistas, atacadistas e indústrias. Enquanto não era concluído, o viaduto da Rodovia CE 060, próximo à Ceasa em Maracanaú, e todas as demais obras do entorno geraram perdas de 30% em produtividade para as empresas.

A projeção é da Associação Empresarial da Indústria (Aedi), que promoveu inúmeros protestos nos órgãos responsáveis devido à lentidão e à falta de compromisso com a obra ao longo dos últimos 11 anos. Com trechos inacabados até hoje, as indústrias do entorno, assim como os habitantes das cidades próximas, são apenadas por buraqueira, retornos longínquos e riscos de acidentes por falta de iluminação nas vias.

Inacabada, Rodovia tem trechos onde pedestres arriscam passar entre os caminhões
Inacabada, Rodovia tem trechos onde pedestres arriscam passar entre os caminhões (Foto: FCO FONTENELE)

Um dos motivos para a desistência do consórcio liderado pela Cosampa, segundo cita o presidente da CSLog, é a tubulação de gás natural instalada na margem da rodovia. De acordo com ele, é preciso uma adequação dos canos para que os acostamentos ao longo do Anel Viário sejam devidamente concluídos. O gás é usado por indústrias do polo de Maracanaú e precisa de acerto com a Transpetro, fornecedora do insumo, para sofrer qualquer alteração, conforme adiantou Marcelo Maranhão.

Com a conclusão do viaduto de acesso à Ceasa – considerado um dos maiores pontos de tensão da obra –, ele aponta o lado Norte da rodovia, entre o viaduto de acesso a Maranguape e o de acesso a Caucaia como os locais de maior complicação do Anel Viário, hoje. Nesta área trafegam justamente os veículos de carga que vão até a Rodovia CE 155, de acesso ao Porto do Pecém – principal ponto de exportação do Ceará para itens como frutas e rochas.

Mesmo confirmando o pedido de rescisão amigável, a Cosampa disse ao O POVO que não vai se manifestar no momento sobre a questão. Ao percorrer o trecho mencionado pelo presidente da CSLog, a reportagem não encontrou nem máquinas nem operários em atividade na Rodovia.

Procurada, a SOP informou apenas “que está trabalhando junto com o Dnit pelos melhores trâmites para solução do pedido e posterior conclusão da obra”.

á o Dnit, quando perguntado se mais uma licitação seria feita para dar continuidade à obra, informou, em nota, o que já se sabe: “As obras são realizadas por meio de convênio, em que o Estado do Ceará é responsável pela execução e fiscalização dos serviços. Cabe ao Dnit o repasse de recursos e aprovação de projetos”.

Sem mencionar os valores de aplicação na obra que se arrasta há 11 anos, o órgão federal afirmou aina que “os recursos previstos para a conclusão do empreendimento já foram repassados ao Estado e estão garantidos para a eventual nova contratação de obras remanescentes, em função rescisão proposta pelo consórcio executor”.

Linha do tempo - mais de dez anos de entraves na obra
Linha do tempo - mais de dez anos de entraves na obra (Foto: Linha do tempo - mais de dez anos de entraves na obra)

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