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O impacto da aquisição da Extrafarma pela Pague Menos
Economia

O impacto da aquisição da Extrafarma pela Pague Menos

| CONCORRÊNCIA | Consumidores temem que opções de oferta diminuam e preços subam. Analistas destacam risco para farmácias de menor porte
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FATURAMENTO combinado será superior a R$ 10 bi ao ano (Foto: Thais Mesquita)
Foto: Thais Mesquita FATURAMENTO combinado será superior a R$ 10 bi ao ano

O negócio encaminhado entre Pague Menos e Extrafarma fará com que a rede de farmácias cearense se torne a segunda maior do Brasil no segmento. O impacto da aquisição de R$ 700 milhões na ponta, para os consumidores, gera expectativa e há temor na praça de que se crie um monopólio que diminua as opções para os consumidores e num médio prazo aumente preços.

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O POVO ouviu especialistas sobre a questão e eles são claros ao afirmar que ainda há a fase de análise do negócio por parte do Conselho de Administração (Cade). Leonardo Leal, presidente da Comissão de Estudo e Defesa da Concorrência da Ordem dos Advogados do Brasil Secção Ceará (OAB-CE), destaca que, caso a concentração seja muito forte no mercado, o negócio pode não ser aprovado.

O advogado detalha, esclarecendo ainda que o Cade pode aprovar o negócio com determinadas restrições, sejam estruturais ou comportamentais, como por exemplo, fechar algumas lojas para diminuir a concentração de uma mesma rede numa região.

Pelo tamanho das duas redes de farmácias, principalmente em Fortaleza, o presidente da Comissão da OAB-CE acredita que haverá uma concentração de mercado por parte da Pague Menos. Ele ressalta que as concentrações tendem a ser negativas para o consumidor, que perde a diversidade na oferta de produtos e serviços.

"Essa negociação é um tema muito importante para a nossa Região, sobretudo. No Nordeste, e, no Ceará, especificamente, a concentração em torno desses dois grupos já era evidente. Havia uma polarização entre as duas redes de farmácias, com outras redes menores e outros estabelecimentos correndo por fora. Mas como o mercado é dinâmico, pode abrir espaço para novos investimentos da concorrência que ainda não atendem na Região", afirma.

Leonardo completa: "É importante esperar a decisão do Cade, que pode sair entre 90 e 240 dias, segundo a lei, e as empresas precisam esperar essa decisão para concretizar o acordo". A Comissão de Estudo e Defesa da Concorrência deve finalizar até o fim do próximo mês um parecer sobre essa negociação a ser entregue ao Cade. Leonardo diz que um grupo de trabalho está sendo montado na OAB-CE para isso.

Delano Macedo, vice-presidente do Instituto Brasileiro de Executivos de Finanças do Ceará (Ibef-CE), destaca que a decisão do Cade deve fechar questão sobre a concentração de mercado e a dúvida sobre a formação de monopólio, mas ressalta que os documentos revelam que o negócio da Pague Menos acelerou em três anos sua expansão.

Sobre o temor de aumento de preços, alega que poderia acontecer o contrário. "Na hora em que a Pague Menos aumenta seu volume de vendas, amplia também a compra. Se por um lado há o questionamento sobre concentração, a empresa aumenta seu poder de barganha com os fornecedores, o que pode acarretar numa queda de preços aos consumidores".

Destacando informações do fato relevante publicado pela companhia aos investidores, a Pague Menos destaca que há mercados em que a Extrafarma já estava presente de maneira dominante e que a rede cearense ainda precisaria chegar. Delano destaca que isso corresponde a quase metade dos casos nas regiões em que a rede adquirida está presente. Ele ainda destaca a oferta de serviços novos, como o Clinic Farma que agora será oferecido nas praças onde havia apenas a Extrafarma.

A combinação de negócios transformará a Pague Menos na segunda maior rede de farmácias do Brasil, com 1.503 lojas, R$ 9,6 bilhões em vendas, e a torna detentora de 7% de market share nacional. Para a integração das operações, além do apoio de seu time de executivos que acumula experiência em grandes fusões e aquisições de sucesso do varejo no Brasil, a Pague Menos terá a consultoria da McKinsey & Company e o suporte da General Atlantic, como parceiro estratégico.

Felipe Nogueira e Silva, 35, gasta entre R$ 150 e R$ 200 em medicamentos e está receoso com a aquisição da Extrafarma.
Felipe Nogueira e Silva, 35, gasta entre R$ 150 e R$ 200 em medicamentos e está receoso com a aquisição da Extrafarma.

Visão do consumidor

Comprador regular de produtos farmacêuticos, Felipe Nogueira e Silva, 35, não viu com bons olhos a negociação envolvendo Extrafarma e Pague Menos, pois elimina mais uma opção do consumidor que quer realizar suas pesquisas de preços. Hipertenso, com colesterol alto e usuário de remédios ansiolíticos, ele destaca que gastava em média entre R$ 150 e R$ 200 com sua cesta de produtos. Ele diz que encontrou muitos descontos na própria rede Extrafarma na comparação com a Pague Menos. "O consumidor de Fortaleza já tinha perdido outras opções de redes de farmácias. Acho que essa concorrência não é legal para o mercado e para o consumidor", opina.

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