Os investimentos em novos ambientes de negócio ainda não foram capazes de fazer a indústria do Ceará ganhar mais peso no País, segundo indicam os dados revelados pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), ontem, 24. Detentor do segundo maior número de fábricas em atividade num só estado no Nordeste (14.027), a indústria cearense apresenta também o segundo mais baixo salário médio da Região (R$ 1.759), além de ter reduzido a participação no Produto Interno Bruto (PIB) no Estado, na Região e no País.
No Nordeste, nenhuma das nove unidades da federação chega a apresentar o salário médio acima ou sequer igual ao valor nacional, R$ 2.792. O motivo, avaliam especialistas, está na competitividade e na vocação das empresas instaladas em cada local.
A baixa remuneração é considerada pelo gerente do Observatório da Indústria, Guilherme Muchale, como um “ponto de atenção”, porque “os números em geral são positivos, mostram a relevância da indústria na geração de empregos no Ceará”. Ele refere-se aos 360.553 trabalhadores contratados com carteira assinada e que representam 20,3% do emprego formal do Estado. Quando o comparativo é o emprego industrial no Nordeste, esse número ainda tem peso maior, chegando a 21,1%.
Mas o baixo valor pago a esse pessoal demonstra o perfil do parque industrial cearense, de acordo com Muchale. Ele explica que os poucos reais depositados mensalmente aos operários “são consequência de indústrias que empregam uma grande quantidade de pessoas com baixa escolaridade e, por isso, baixos salários”.
O perfil do setor apresentado pela CNI atesta que construção (26,7%), serviços industriais de utilidade pública (20,3%), couros e calçados (9,5%), alimentos (8,8%) e metalurgia (7,3%) são os principais segmentos no Ceará. Na maioria, como têxtil, empregam em larga escala, mas tem baixa remuneração.
Para Lauro Chaves, professor da Uece e PHD em desenvolvimento regional pela universidade de Barcelona, o salário menor deve-se "à baixa produtividade que a indústria nordestina ainda tem”. Para reverter este cenário, ambos concordam que é necessária uma articulação maior do setor produtivo com a academia e o poder público, além de pleitos antigos quando o assunto é economia: reforma tributária justa, melhora do ambiente de negócios - com a redução da burocracia e do Custo Brasil -, além de investimentos em setores voltados à exportação e cujo produto tenha grande valor agregado e exija uma formação melhor dos empregados.
Todas as observações feitas pelos dois economistas também podem reverter o segundo “ponto de atenção” trazido pela pesquisa, de acordo com Muchale. Trata-se da menor participação da indústria cearense no Produto Interno Bruto (PIB) do Estado, da Região e do País, observada entre 2008 e 2018. Na economia local, a retração chegou a 3,5 pontos percentuais. Patamar semelhante aos 3,3 pontos percentuais a menos contabilizados para o Nordeste.
Mas a maior perda de representatividade esteve no PIB Brasil, onde a indústria cearense recuou 5,5 pontos percentuais. “Mas temos perspectivas positivas para conseguir nos próximos dez anos ter, como fruto desse trabalho de desenvolvimento, números mais animadores para falar na indústria. Os resultados do Ceará na educação são animadores e vão gerar frutos ao longo dos dez anos. É uma população que se educou com um nível de educação muito diferente do que víamos. Isso traz ganho de produtividade muito forte para o Estado e abre expansão para o ensino técnico e superior”, pondera Muchale.
Já Lauro Chaves aponta necessidades mais inflamadas para alertar sobre o futuro da indústria: “Existe uma outra fronteira que a indústria precisa avançar de maneira muito rápida, que é melhorar as práticas de sustentabilidade, a ESG (do inglês environmental, social and governance, que em tradução livre é Governança Ambiental, Social e Corporativa). Porque só com a sustentabilidade ambiental, social e de governança é que vamos incrementar essa promoção da sustentabilidade a partir do setor produtivo”.