O Ceará fechou o primeiro semestre deste ano com um saldo de 33,2 mil empregos gerados. Foi o segundo melhor desempenho no Nordeste. Atrás apenas da Bahia, com saldo de 70,1 mil postos de trabalho, segundo dados do Cadastro Geral de Empregos (Caged) divulgado ontem pelo Ministério da Economia. Serviços, comércio e construção estão puxando o resultado. O que, na avaliação dos analistas, deve seguir com ainda mais força neste segundo semestre a partir do avanço da vacinação no Estado.
Em junho, foram 38 mil admissões e 28,3 mil demissões, o que resultou em um balanço positivo de 9,7 mil postos de trabalho no Estado. O maior saldo do Nordeste para o mês. Os dados de emprego no último mês, terceira alta consecutiva no Estado, só não foi maior do que aquela registrada em fevereiro, quando o saldo foi de 11,2 mil empregos.
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O analista de políticas públicas do Instituto de Pesquisa e Estratégia Econômica do Ceará (Ipece), Alexsandre Lira Cavalcante, explica que essa recuperação do emprego neste primeiro semestre, sobretudo, no último mês, é natural diante do avanço do processo de reabertura da economia no Ceará.
A redução das restrições impostas às atividades, com ampliação de horário de funcionamento, por exemplo, é o que está por trás do crescimento das vagas no Comércio e de Serviços, pontua o especialista. Dentro de de serviços, que é um setor muito amplo, o que os microdados do Caged mostram é que o segmento de alojamento e alimentação - o que inclui, por exemplo, hotéis, restaurantes, barracas de praia - é um dos que mais despontaram em junho, com saldo de mais de 1,1 mil vagas.
“Serviços, no geral, são empregos que não exigem tanta qualificação e tem uma contratação que responde muito rápido na medida em que o cenário melhora. E, no Ceará, esse é um setor muito forte, que responde por 76% da economia. É o que explica, por exemplo, uma recuperação do emprego mais rápida do que em outros estados”, avalia o analista.
Fortaleza foi o 6º município, dos 5.570 do País, que mais gerou empregos tanto em junho quanto no acumulado dos últimos 12 meses (junho de 2020 a junho de 2021). No primeiro semestre deste ano, a capital cearense fica em 8º no ranking nacional.
Para ele, com o avanço da vacinação, a tendência é que a retomada dos setores acelere neste segundo semestre e esses números cresçam. “Se não tiver intercorrência, não espero nada diferente do um saldo de 60 mil empregos até o fim do ano".
O analista do mercado de trabalho do Instituto de Desenvolvimento do Trabalho (IDT), Erle Mesquita, também está otimista. Ele diz que embora indicadores econômicos objetivos, como desemprego, endividamento e inflação, ainda estejam muito ruins, o que ameaça uma retomada mais sólida, existem fatores subjetivos que contribuem para a melhora da confiança.
“A flexibilizações se intensificando e um maior número de pessoas vacinadas influencia para que as pessoas tenham essa percepção de que as coisas estão começando a voltar à normalidade. O que rebate no consumo e também na própria perspectiva mais favorável das empresas em relação às contratações”.
Erle lembra ainda que o segundo semestre já é, tradicionalmente, mais aquecido que o primeiro. “Programas de incentivo ao emprego, como este em que o Governo do Estado assume 50% do salário, também devem estimular mais contratações”.
Distorções do mercado de trabalho
O analista pondera, no entanto, que é preciso olhar com atenção para as nuances desse emprego que está sendo gerado. Das novas vagas criadas neste ano no Ceará, por exemplo, seis em cada dez foram ocupadas por homens. Em parte isso tem relação com o aquecimento do setor da Construção, cuja mão de obra ainda é composta predominantemente por homens. Mas, há de se considerar o impacto que a pandemia trouxe à participação das mulheres no mercado de trabalho.
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“A desigualdade de gênero no trabalho sempre existiu, mas não há dúvidas de que, na pandemia, as mulheres têm sofrido bastante. São as que mais perderam empregos e que enfrentam mais dificuldade para retornar porque é sobre elas que acaba recaindo muito a responsabilidade das tarefas do lar e o cuidado dos filhos, e muitas escolas ainda não voltaram”.
Comércio
O comércio cearense alcançou uma receita bruta de faturamento de R$ 100,3 bilhões, em 2019. Os dados constam da Pesquisa Anual do Comércio 2019 (PAC 2019), divulgada ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).