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Governo do Ceará critica Petrobras após fim de fornecimento de gás no Pecém
Economia

Governo do Ceará critica Petrobras após fim de fornecimento de gás no Pecém

Em reunião com o secretário Maia Júnior, representantes da Petrobras revelaram que se trata de ordem do Governo Federal. Pecém busca alternativas para Terminal de GNL a partir de 2023
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Movimentação de navios  no Porto do Pecém nesta sexta-feira, 6
 (Foto: Divulgação)
Foto: Divulgação Movimentação de navios no Porto do Pecém nesta sexta-feira, 6

O Governo do Ceará recebeu um retorno negativo sobre o retorno do navio regaseificador Golar Winter, da Petrobras, ao pier 2 do Terminal de GNL no Porto do Pecém. Sem o navio, o Ceará fica desabastecido de gás natural, que abastece, especialmente, as termelétricas do Estado, e também as demandas dos vizinhos Rio Grande do Norte e Piauí. Quem confirmou a situação foi o titular da Secretaria do Desenvolvimento Econômico e Trabalho do Ceará (Sedet), Maia Júnior.

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O secretário teve uma reunião com representantes da Petrobras, nessa quinta-feira, 5, e questionou sobre o retorno do navio ao Pecém, já que desde março ele zarpou sem que a estatal desse qualquer explicação mais aprofundada do porquê nem de quando seria o retorno.

A resposta, porém, foi negativa. Segundo Maia, a explicação que recebeu é que a Petrobras estaria seguindo ordens do Ministério de Minas e Energia, que resolveu suspender o abastecimento no Ceará para incrementar a produção de energia elétrica nas térmicas da Bahia para que elas produzissem energia a ser enviada ao Sudeste.

Maia reclama, diz que isso obriga as empresas a buscar outras alternativas de abastecimento. "Foi uma escolha (do Ministério de Minas e Energia) que nem foi comunicada ao Estado. O que eu vou dizer para esse investidor que investiu bilhões de dólares nessas termelétricas do Ceará?"

"Isso é uma insegurança! O que é que eu vou dizer aqui para a Mitsui, que comprou uma parte da empresa do Estado (Cegás) e em outros estados também. "Te vira, negão?". Porque a minha exigência como Estado é que você precisa garantir abastecimento de gás na indústria, residências. O que eu digo para os investidores que compraram automóveis a gás neste País se não tiver garantia de gás? O que eu digo para os investidores que operam termelétricas no Ceará? A Petrobras retira o seu navio de suprimento de gás do Porto do Pecém sem dizer nada ao Estado", afirmou.

A situação no Terminal de Regaseificação de Pecém também continua gerando mal-estar nos bastidores entre a direção do Complexo Industrial e Portuário do Pecém (Cipp) junto do Governo do Ceará com a Petrobras. A possibilidade que a administração do porto busque novos parceiros para a operação do Terminal é real e está acontecendo.

Primeiro terminal flexível de regaseificação de gás natural liquefeito (GNL) no Brasil, o local tem capacidade de transferir até 7 milhões de m³/dia de gás natural para o Gasoduto Guamaré-Pecém (Gasfor). O Gasfor atende principalmente as termelétricas Ceará e Fortaleza.

Maia Júnior também estendeu as críticas aos novos parâmetros na nova Lei do Gás. Aprovada no primeiro semestre, a lei agradou o mercado, pois abriria mais espaço dentro do setor. Porém, o anúncio da Petrobras da venda da Gaspetro mudou tudo.

"A Petrobras fez com que os estados estruturassem empresas (no Ceará, a Cegás), a estatal concede às empresas operação e distribuição de gás natural e ontem (nessa quinta-feira, 5), uma semana após vender seus ativos nessas empresas estaduais tripartite à Cosan - ainda precisa ser discutido, pois há acordos entre acionistas em que estados e entes privados têm prioridade na aquisição das ações - a Petrobras anuncia ao País que não vai mais garantir gás natural às empresas distribuidoras que ela própria criou", reclamou.

De acordo com a diretora executiva comercial do Complexo, Duna Uribe, manter o funcionamento do Terminal é essencial para a estratégia do porto, que já conversa e negocia com potenciais parceiros para a operação. A executiva entende que a Petrobras está passando por um momento de transformação, focando na exploração de petróleo e gás e que não estaria dando a devida atenção à demanda do Terminal.

Duna lembra que a demanda no curto prazo deve aumentar, por conta do crescimento do uso de energia proveniente das termelétricas a gás, o que atualmente o Porto do Pecém é provedor, não só para o Ceará, como para estados vizinhos. "É importantíssima a continuidade dessa atividade no Pecém, o contrato com a Petrobras, que vai até 2023. (Mas) Precisamos ter novos parceiros para haver a continuidade do GNL escoado através do Porto do Pecém."

 

DEMANDA EM PRODUÇÃO ENERGÉTICA

O Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico (CMSE) solicitou à Agência Nacional de Petróleo (ANP) esforços para que a Petrobras coloque em operação novamente o Terminal GNL do Pecém, no Ceará, até o fim de setembro.

Inaugurado em 2008, o terminal com capacidade de transferir até 7 milhões de m³/dia de gás natural para o Gasoduto Guamaré-Pecém (Gasfor) está parado desde março deste ano. Nas contas do Ministério de Minas e Energia (MME), a reativação do equipamento viabilizará a operação de importantes usinas no Nordeste e acrescentaria 570 MW de disponibilidade termelétrica ao Sistema Interligado Nacional (SIN).

Essa produção viria do acionamento da Termofortaleza e Termoceará, no Ceará, e da usina Vale do Açu, no Rio Grande do Norte. Dados do Operador Nacional do Sistema (ONS) mostram que as termelétricas cearenses movidas à gás natural - que tem um custo menor do que aquelas à diesel - acrescentaram ao sistema uma geração de 423 MWmed, em janeiro, e de 211 MWmed, em fevereiro.

O montante representou apenas 8,05% dos mais de 7,8 mil MWmed produzidos pelas termelétricas a gás no Brasil neste ano até o mês de junho.

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LINHA DO TEMPO

2009: Inicia a operação da Petrobras no Pier 2, de forma exclusiva, na formatação do Terminal de Regaseificação de GNL. Primeiro terminal flexível de regaseificação de GNL no Brasil tem capacidade de transferir até 7 milhões de m³/dia para o Gasoduto Guamaré-Pecém (Gasfor).

Fevereiro de 2021: Cegás, distribuidora de gás natural no Estado, deixa de ser atendida com o fornecimento vindo do Terminal de GNL do Pecém a partir do dia 28. Segundo a companhia, a não operação do Terminal a impede de atender à demanda das usinas termelétricas.

Março de 2021: No dia 6, o navio regaseificador Golar Winter deixou o Pier 2. Em carta enviada à direção do Complexo do Pecém, a Petrobras marcava o retorno da embarcação e abastecimento de GNL para o dia 17. Segundo o Complexo do Pecém, "a embarcação citada não retornou na data".

Julho de 2021: Petrobras permanece em silêncio. Já o Complexo do Pecém informa que já está em negociação com outros interessados para operação de GNL no terminal, após o fim do contrato com a Petrobras em junho de 2023.

Agosto de 2021: Na última quinta-feira, 5, representantes da Petrobras afirmam que não há previsão de retorno do navio ao Terminal de GNL do Pecém. 

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