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Transporte por aplicativo: combustível e tarifas tornam profissão inviável, dizem motoristas
Economia

Transporte por aplicativo: combustível e tarifas tornam profissão inviável, dizem motoristas

| ABANDONO DA PROFISSÃO | Empresas do setor não identificam redução no número de motoristas cadastrados, porém, entidades frisam risco de abandono em massa
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Aumento no preço dos combustíveis afeta rotina, lucro e ameaça a continuidade do serviço de transporte por aplicativo no Ceará
 (Foto: Thais Mesquita)
Foto: Thais Mesquita Aumento no preço dos combustíveis afeta rotina, lucro e ameaça a continuidade do serviço de transporte por aplicativo no Ceará

As altas de gasolina, etanol, diesel e GNV aliadas à política de preços das plataformas de corrida afetaram a rentabilidade dos motoristas de aplicativo. A Associação dos Motoristas de Aplicativos do Estado (Amap) teme que, caso o cenário permaneça inalterado, haja possibilidade de evasão em massa de profissionais. E quanto menos carros disponíveis, maior tende a ser o valor cobrado para o consumidor final, o passageiro.

“O que temos visto são muitos motoristas em uma situação assim de se ver obrigado a abandonar a profissão", pontua Rafael Keylon, diretor da Amap. Ele menciona que juntamente dos gastos elevados com os combustíveis, o não reajuste das tarifas pagas às empresas sobre o serviço prestado pelos motoristas têm sido os principais entraves para manutenção da atividade.

Já a despesa com os combustíveis varia de acordo com o tipo usado, chegando a ser de até metade do arrecadado pelos motoristas no caso da gasolina comum, conforme estimativa da Amap. Com relação ao GNV (gás veicular), a despesa representava cerca de 25% do arrecadado pelo motorista, porém, o gasto aumentou 10% após os reajustes implementados até julho.

Entre julho de 2020 e julho deste ano, o litro do etanol subiu 51,53% no Ceará. O valor do diesel e da gasolina comum também aumentaram de forma expressiva: 28,22% e 37,75%, respectivamente, conforme levantamento feito pela Fundação de Proteção e Defesa do Consumidor (Procon).

Para a associação, a classe está habituada a lidar com as variações de preço, que detém um histórico de aumentos sucessivos. Porém, os recentes reajustes, implementados em maior quantidade e em curto espaço de tempo, desequilibraram a categoria.

Com o agravante da pandemia de Covid-19, outro fenômeno no Ceará identificado pela Amap diz respeito à redução de veículos utilizados para ofertar o serviço no Estado. “Muitos motoristas rodavam em carros alugados, mas mesmo permanecendo cadastrados nos aplicativos, devolveram os carros, pois estavam trabalhando apenas para pagar (o aluguel) do carro”, relata Rafael.

O que dizem Uber e 99?

Mesmo sem registros de evasão, 99Pop e Uber afirmaram reconhecer as dificuldades enfrentadas pelos motoristas diante da alta nos combustíveis. Ambas as empresas frisaram que estão em busca de soluções para amparar seus respectivos colaboradores.

Tanto a 99 quanto a Uber firmaram parcerias com distribuidoras de combustíveis para garantir condições especiais de compra para motoristas cadastrados. A 99, em parceria com a Shell oferta 10% de desconto em cada abastecimento. A Uber mantém parceria com a rede Ipiranga, onde, por meio do Uber Pro, concede 4% de cashback para os associados.

 Procuradas individualmente pelo O POVO, elas afirmaram ainda terem registrado um “aumento na demanda” por parte dos passageiros, em específico por clientes que antes não utilizam o serviço com grande frequência. Em nota, a Uber afirma ainda que tal aumento de demanda fez com que, "especialmente nos horários de pico, há mais chamados do que parceiros dispostos a realizar viagens".

Com relação a outra principal reinvindicação dos motoristas, o reajuste nas tarifas cobradas sobre cada corrida, a Uber pontuou que aplica uma metodologia de taxação variável desde 2018 e que "há confusão entre os parceiros sobre o valor da taxa porque em algumas viagens ele pode aumentar enquanto, em outras, pode diminuir". Empresa frisa que envia informes semanais com explicações detalhadas dos ganhos de cada motorista.

O cenário ideal, conforme avaliação da Associação dos Motoristas de aplicativos do Estado do Ceará seria sistema de taxação que garantisse 70% do valor de cada corrida ao motorista.

Com relação ao cobrado pela 99 Pop, a empresa afirma que está em constante diálogo com seus associados e que uma das medidas de apoio implementadas ainda este mês será aplicação de taxa zero em dias ou horários específicos ao longo dos meses em todas as categorias, exceto táxi.

(Colaborou Laura Beatriz, especial para O POVO)

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